A ferrugem asiática da soja atrasou mais de 20 dias, de acordo com o sistema de alerta do Consórcio Antiferrugem, mas o primeiro foco no país já foi identificado em Aral Moreira-MS. A doença tem como maior característica, a rápida propagação, desta forma, faz-se necessário que produtores de todo o país estejam alertas e cientes das medidas de prevenção e controle.
Causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, a ferrugem asiática surgiu em 1902 no Japão; no Brasil, o primeiro caso detectado e registrado foi na safra 2001, juntamente com o país vizinho, o Paraguai. O parasita é disseminado pelo vento e por isso sua dispersão é veloz. Além disso, a soja é tida como maior hospedeira, ao lado da leguminosa kudzu.
Para aumentar a preocupação do agricultor, sua evolução depende de condições climáticas, mais precisamente da freqüência de chuvas. A presença de água na superfície da folha é um componente essencial para o início do processo de infecção. “O fungo se desenvolve em ambientes úmidos. Chuvas freqüentes são ideais para o estabelecimento do parasita. No Rio Grande do Sul, por exemplo, na safra 2004/05, ocorreu uma grande estiagem e houve poucos focos de ferrugem, porém muitos produtores perderam a lavoura por falta de chuva”, explica Alexandre Roese, fitopatologista da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária R11; Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, em Dourados-MS.
Com essa soma de fatores, o engenheiro agrônomo, que há três anos pesquisa doenças em soja e trigo, aponta algumas estratégias de controle: uma curativa, o tratamento com fungicidas; outras preventivas, o vazio sanitário e o lançamento de cultivares resistentes. Nesse último item, a Embrapa, a cada ano, aprimora suas pesquisas em busca desse objetivo. Quanto à pulverização com fungicidas, ela deve ser feita assim que o primeiro indício de ferrugem for detectado.
Atualmente, o mercado dispõe de produtos com alto potencial de eficiência e registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; e os custos de uma aplicação, em relação ao ano passado, estão 13,2% menores, conforme informações do socioeconomista da Embrapa em Dourados, Alceu Richetti. “A inclusão de novos produtos tornou o mercado mais competitivo e isso se refletiu na queda dos preços”.
O pesquisador relata que o controle químico corresponde ao valor de 1,1 a 1,9 sacas de soja por hectare. “Na safra passada, as perdas chegaram a 2,17 sacas por hectare, ou seja, a preços de hoje, R$ 75,95 por hectare. Como o custo de uma aplicação para a próxima safra está estimado, no máximo, em R$ 49,15, a economia é de R$ 26,80”. Em condições ótimas para o desenvolvimento da doença, as perdas na produtividade da soja podem chegar a até 80%. É altamente viável ao produtor realizar o controle da ferrugem”, destaca Alceu.
Vazio sanitário – atendendo a demanda do setor agrícola, estados como Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, instituíram leis estaduais estabelecendo um período de 90 dias entre a colheita e o plantio da nova safra em que não se cultiva soja. A medida retarda a disseminação da ferrugem asiática e de acordo com a lei, a semeadura obedece ao que está previsto no zoneamento agrícola dos estados e o desrespeito é passível de multa. “Como a soja é considerada o principal hospedeiro do fungo, a ausência dela é fundamental no combate à ferrugem”, afirma o fitopatologista Roese.
Agora, todas essas técnicas somente terão resultado se o sojicultor estiver atento à lavoura. “O monitoramento das plantas é o melhor método de controle. Assim que notar o surgimento do fungo, o produtor deve procurar um laboratório para confirmação da amostra e efetuar o controle com fungicida, além de avisar a Iagro”, recomenda.
Consórcio Antiferrugem – levar informações precisas sobre a ferrugem ao produtor, deixando-o apto para o manejo da doença, esse é o objetivo principal do Consórcio Antiferrugem. Criado em 2004 e coordenado pela Embrapa Soja (Londrina-PR), ele conta com a participação de representantes de instituições, fundações, universidades, institutos de pesquisa, cooperativas, empresas de insumos, dentre outras.
Outra missão do Consórcio é o cadastramento de laboratórios habilitados a identificar a doença e situados em regiões produtoras de soja no Brasil. Na região Sul de Mato Grosso do Sul, estado onde foi registrado o primeiro foco, a Embrapa Agropecuária Oeste, em Dourados, tem à disposição um laboratório com equipamentos e equipe capacitada. “O produtor não precisa marcar hora, basta vir à Embrapa que o estaremos atendendo. A ferrugem exige uma reação rápida”, enfatiza Roese.
O caso de Aral Moreira apresentou características básicas para o surgimento da infecção. Foi em uma lavoura comercial de 70 hectares, propriedade de um grupo de agricultores, que desde 1996 cultivam no município, que o técnico agropecuário da Fundação MS, Roberto Presolin, identificou os sintomas da doença em estádio R3, início de formação de vagem, na última segunda-feira, dia 10.
Ele conta que há quatro anos a cidade está entre as primeiras do estado a ter o foco da ferrugem. “Esta região de Aral Moreira possui um microclima peculiar, com manhãs úmidas, chegando a orvalhar. Essa umidade favorece o aparecimento do fungo além do plantio super precoce, feito nos primeiros 15 dias do mês de outubro”. Outra informação que merece reflexão é a proximidade da fronteira com o Paraguai, onde as estratégias de prevenção e controle são diferentes das brasileiras.