Lavoura de soja pode ser defendida de pragas com técnicas que exigem menos produtos nocivos ao meio ambiente e menos gastos para o produtor rural.
O cultivo de soja demanda um grande capital para defender a lavoura de fungos, insetos e ervas daninhas. Mas estes gastos podem ser minimizados se o produtor seguir práticas de manejo que o possibilite a aplicar menos defensivos agrícolas e adotar produtos que não agridem tanto o meio-ambiente e a saúde humana. È o programa de manejo integrado de pragas.
O programa de manejo integrado de pragas prevê uma serie de etapas que devem ser realizadas visando o emprego de práticas que podem ser compatibilizadas principalmente para minimizar o uso de produtos químicos altamente tóxicos na cultura e com prejuízos ao meio ambiente. Flavio Moscardi, pesquisador da Embrapa explica que o produtor deve seguir certas etapas: “A primeira delas é saber reconhecer muito bem as espécies que realmente são nocivas à cultura da soja, as que não são e, também, qual é o papel de algumas inimigas naturais; predadores como aranhas, por exemplo, que podem contribuir para diminuir as populações de pragas”. Ainda segundo Moscardi, é importante realizar alguma amostragem para poder a cada semana saber quais são as populações de insetos e seus respectivos tamanhos, para que se saiba se há necessidade de intervenção de controle ou não. “Essa intervenção se dá com base em parâmetros que a pesquisa recomenda, o que é chamado de níveis de ação, onde o produtor só vai realizar o controle quando a praga atingir um determinado dano que signifique prejuízo econômico, sendo que antes disso não há necessidade de controle, pois não haverá dano econômico”, enfatiza o pesquisador. Atingindo determinado nível de infestação, há risco para a lavoura, e aí o produtor deve decidir pela aplicação de um produto.
Na hora em que há necessidade de se aplicar um inseticida, o agricultor pode optar por produtos menos tóxicos aos inimigos naturais das pragas e também à saúde humana; produtos que desequilibrem menos o meio ambiente e que reduzam menos a população dos inimigos naturais das pragas que contribuem para manter as populações dos animais nocivos às lavoras baixas. Assim o produtor aplica menos inseticida e no momento correto.
Além disso, é possível utilizar outras práticas que substituem os inseticidas químicos, como, por exemplo, produtos biológicos como o Baculovírus, uma invenção de Moscardi que consiste em infectar as lagartas da soja com um vírus. O produtor pode adquirir algumas larvas infectadas e soltá-las na lavoura, que elas se encarregarão de contaminar as demais. Outras práticas envolvem a rotação de culturas, por exemplo, para reduzir a população de pragas, principalmente as subterrâneas, que atacam as raízes. “Com a rotação de culturas, plantando uma cultura que a praga não come, vai se reduzir a população do inseto na área e aí o produtor poderá voltar a plantar soja novamente”, explica Moscardi. Pode-se adotar ainda cultivares resistentes às pragas, desde que disponíveis, além de várias outras pragas que compõem o programa de manejo. “Agora o importante é que se diga que houve um grande avanço com a implantação de um programa de manejo ainda na década de 70, reduzindo o número médio de aplicações de mais de cinco vezes naquela época para cerca de duas vezes atualmente”, pondera o pesquisador, que contou que nos últimos anos foi verificado um certo retrocesso neste programa já que houve um aumento expressivo no número de aplicações na cultura da soja. Além disso, segundo o pesquisador, algumas práticas equivocadas têm sido generalizadas no início da cultura causando todo um desequilíbrio, gerando inclusive o aparecimento de grandes populações de insetos que antes eram secundários, como é o caso da lagarta falsa-medideira, ácaros, mosca branca, lagarta preta, dentre outras. A prática que gera este desequilíbrio é causada por produtores que passam a generalizar a aplicação de um inseticida junto com um herbicida no momento em que vai se fazer a dessecação antes do plantio da soja. “Geralmente se coloca um inseticida de amplo espectro, muitas vezes sem a necessidade, que vai causar o desequilíbrio antes do plantio, eliminando os inimigos naturais das pragas na área”, conta Moscardi que também explica outro erro freqüente dos produtores. Segundo ele, muitos agricultores, para aproveitar a aplicação do herbicida pós emergente, misturam também um inseticida químico. Isso causa mais desequilíbrio e coloca o processo em um círculo vicioso. “Há o aparecimento de pragas outrora sem importância em altas populações. Pragas essas que exigem inseticidas fortes em doses elevadas.” Esse manejo equivocado impossibilita o produtor de utilizar um produto biológico- como é o caso do Baculovírus – que controle a lagarta da soja, ou mesmo um inseticida do grupo fisiológico que também são relativamente específicos. “O produtor acaba, ao invés de fazer apenas uma aplicação para a lagarta, fazendo três, quatro aplicações”, ressalta Moscardi.
Outro erro comum da mesma ordem que os produtores cometem é de aproveitar a aplicação contra a ferrugem da soja e aplicar um inseticida junto para o controle de percevejos. Só que a época de aplicar fungicida contra a ferrugem é justamente a fase onde o percevejo está apenas colonizando a soja, colocando as primeiras posturas. Junto com essas populações de percevejos encontra-se nas lavouras predadores, parazitóides e doenças que matam as pragas. Colocando o inseticida no momento errado, gera-se mais desequilíbrio e obriga o produtor a aplicar mais vezes contra o percevejo.
Moscardi enfatiza na importância de se reverter este quadro para que o produtor aplique inseticida em uma média de duas vezes ao invés de quatro ou cinco vezes a cada lavoura, economizando assim recursos e evitando despejar na natureza produtos altamente tóxicos para o meio ambiente e para a saúde humana. Essas recomendações se encontram amplamente divulgadas em publicações. O produtor pode também se dirigir aos técnicos de extensão oficial de seus estados para conseguirem as informações corretas de como fazer a amostragem, quais são os níveis de ação que se deve seguir para decidir qual é o momento da aplicação e que tipo de amostragem deve ser feita das pragas semanalmente. “Todas essas informações estão disponíveis, inclusive as práticas de controle biológico e outras que possam ser utilizadas para reduzir ainda mais o uso de inseticidas químicos na cultura”, ressalta o pesquisador.