Nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, o caranguejo-uçá, Ucides cordatus, é muito abundante e representa um dos mais importantes recursos dos manguezais, não só pelo volume das capturas, mas também pelo seu elevado valor comercial. A exploração pesqueira excessiva do caranguejo-uçá reveste-se de grande importância social, já que dela se ocupa um grande contingente de pessoas residentes em áreas costeiras próximas aos manguezais.
Atualmente, a espécie encontra-se sob forte pressão de pesca e sob situação de risco, resultado da alta demanda de um crescente mercado consumidor. Desta forma, pesquisas que busquem gerar subsídios à elaboração de uma regulamentação pesqueira eficiente que vise a sustentabilidade da espécie devem ser priorizadas. A informação proveniente do conhecimento da variabilidade e estrutura genética populacional deste recurso pesqueiro é fundamental na formulação de novas medidas de gestão.
O Laboratório de Biologia Molecular & Biotecnologia da Embrapa Meio-Norte conseguiu firmar parceria com o “Marine Gene Probe Laboratory” da “University of Dalhousie”, no Canadá, para o desenvolvimento de ferramentas moleculares a serem utilizadas na avaliação da estrutura genética populacional do caranguejo-uçá. A efetivação de tal parceria só foi possível com a colaboração da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado do Piauí – FAPEPI, através do seu Presidente, Acácio Salvador Véras e Silva, e também do Banco do Nordeste do Brasil, através do Fundo de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – FUNDECI/ETENE. Já no mês de novembro, o bolsista de Desenvolvimento Cientifico Regional da FAPEPI/CNPq, Fábio Barros Britto, que está sendo supervisionado pelo pesquisador Fábio M. Diniz, da Embrapa Meio-Norte, deu início ao desenvolvimento destas ferramentas, ou marcadores moleculares.
Os marcadores a serem desenvolvidos, amplamente conhecidos como microssatélites, são repetições curtas de bases de DNA, tais como (CA)n, (GAC)n, ou (GATA)n, altamente polimórficos (variáveis) e abundantes na maioria dos genomas eucarióticos. A identificação destes marcadores e posterior genotipagem dos indivíduos coletados nos manguezais brasileiros vai gerar informações a respeito da variabilidade genética e estruturação das populações de caranguejo-uçá e, desta forma, contribuir para conservação da espécie fornecendo dados biológicos de grande importância para formulação de medidas de gestão deste importante recurso pesqueiro.
Os pesquisadores envolvidos nessa parceria científica prevêem que em 6 meses, tempo necessário para isolamento e caracterização de “microssatélites” de DNA no caranguejo-uçá, serão capazes de iniciar a genotipagem dos indivíduos coletados nos manguezais brasileiros, e, no prazo máximo de 1 ano, a espécie terá sua diversidade genética e estruturação populacional conhecida, um importante passo no sentido de se alcançar a sustentabilidade da pesca do caranguejo-uçá.