Após Operação Ouro Branco, setor leiteiro passa por crise na indústria. Produtores temem que fatos isolados possam prejudicar a imagem de quem produz com seriedade.
A crise na indústria de leite, iniciada na semana passada após a divulgação das investigações da Operação Ouro Branco, da Polícia Federal, preocupa, uma vez que a repercussão negativa dos fatos pode afetar diretamente os produtores de leite.
Nesta semana a mobilização política da ABCZ, juntamente com outras duas entidades do setor de Agronegócio de Minas Gerais impediu que as cooperativas acusadas pela Operação Ouro Branco de adulterar o leite com substâncias químicas tivessem a comercialização de todos os seus produtos interditada.
Assim que foram comunicados sobre a possibilidade de interdição da comercialização, os presidentes da ABCZ, José Olavo Borges Mendes, do Sindicato dos Produtores Rurais de Uberaba, Rivaldo Machado Borges Júnior e da Certrim (Cooperativa dos Empresários Rurais do Triângulo Mineiro), Luiz Henrique Borges entraram em contato com o deputado federal Marcos Montes, para tentar reverter a interdição, uma vez que a adulteração do produto foi constatada apenas no leite UHT produzido pela Coopervale (Cooperativa dos Produtores de Leite do Vale do Rio Grande), em Uberaba, e a Casmil (Agropecuária do Sudoeste Mineiro), em Passos.
Com o apoio do deputado Marcos Montes foi possível cancelar a interdição para a comercialização do leite cru e do leite tipo C pasteurizado, que foi proposta pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. “Essa foi uma vitória que obtivemos com o apoio incondicional do deputado Marcos Montes. É uma forma de não prejudicar o produtor que entrega nas cooperativas o leite que produz e que nada tem a ver com a crise das indústrias investigadas”, afirmou o presidente da ABCZ.
Após a operação que revelou suspeitas de adulterações no leite produzido por duas cooperativas de Minas Gerais, a Coopervale (Cooperativa dos Produtores de Leite do Vale do Rio Grande), em Uberaba, e a Casmil (Agropecuária do Sudoeste Mineiro), em Passos, a qualidade do leite produzido no país passou a ser questionada por consumidores e pela mídia.
Para o presidente da ABCZ todas as acusações devem ser rigorosamente investigadas. “Apoiamos totalmente as investigações. Porém, o produtor brasileiro não pode ser mais uma vez sacrificado pela eventual ingerência de empresas isoladas. Após a implementação da Instrução Normativa 51, o produtor foi obrigado a seguir uma série de determinações para melhorar a qualidade do leite. Não é justo que em um momento de recuperação de renda, o produtor seja penalizado”, avalia o presidente da ABCZ.
Conforme as investigações, as cooperativas são suspeitas de acrescentar ao leite substâncias como soda cáustica (hidróxido de sódio), água oxigenada (peróxido de hidrogênio), citrato de sódio e ácido cítrico. “A adulteração, se comprovada, é um fato isolado. O leite produzido nas propriedades brasileiras é de qualidade. Não há dúvidas de que o produtor é um dos maiores prejudicados com esta fraude”, pontua José Olavo, lembrando que muito já foi feito no campo para melhorar a produção leiteira, inclusive na área de melhoramento genético dos animais.
José Olavo lembra que o leite é a fonte de renda de milhares de pequenos e médios produtores brasileiros, que ainda acreditam na atividade. Na região de Uberaba, a cooperativa investigada possui mais de 60 anos de atuação no segmento de produtos lácteos e tem grande representatividade para a economia local, contando com aproximadamente 1100 cooperados dos municípios de Uberaba, Campo Florido, Água Comprida, Rufinópolis Ponte Alta, Santa Juliana, Conquista, Sacramento, Veríssimo, Conceição das Alagoas, Delta e Nova Ponte. A Coopervale é a terceira empresa de Uberaba que mais arrecada impostos para o município e onde estão empregados mais de 400 funcionários. De acordo com a assessoria de imprensa da Coopervale, apesar da crise, o volume de leite coletado pela cooperativa continua sendo o mesmo, algo em torno de 115 mil litros de leite por dia.
O Ministério da Agricultura divulgou comunicado para esclarecer a população sobre o consumo de leite. No documento, o ministério afirma que nos níveis encontrados, as substâncias químicas não oferecem riscos iminentes à saúde do consumidor. Ao afirmar que adulterações e fraudes são inaceitáveis, principalmente, quando envolvem alimentos, o MAPA reforçou que a forma de efetuar a inspeção dos fiscais federais agropecuários foi alterada. Segundo o ministério, desde 2004, já foram efetuados 10 milhões de análises de amostras pelo sistema laboratorial que avalia a qualidade do leite no Brasil. Diariamente, são realizadas mais de 10 mil análises. O ministério afirma ainda que a população pode estar segura de que todas as medidas de inspeção e fiscalização, visando assegurar a oferta de produtos íntegros e de padrões de qualidade nutricional e de inocuidade, estão sendo desenvolvidas em ação conjunta pelo Mapa e Anvisa.