Tecnologia

Transgênico: biotecnologia resistente e produtivo

Produtoresde diversas regiões do país contam como superaram crises e problemas de produtividade com produtos geneticamente modificados. José Barbosa Filho, cotonicultor e prefeito da cidade de Catuti em Minas Gerais, lembra das dificuldades enfrentadas pelos produtores da região e como eles contornaram a crise que abalou a cotonicultura na década de 90, quando houve queda na produtividade das lavouras de algodão:

“Na década de 80 chegávamos a plantar algodão em aproximadamente 130 mil hectares. Dez anos depois, com a entrada das importações e da praga do bicudo, reduzimos nossa área de plantio para menos que a metade, explica José Barbosa”.

Para Barbosa, a entrada do Bollgard I (Bt), único algodão GM (geneticamente modificado) atualmente aprovado para uso comercial no País, foi o grande aliado para que o norte mineiro saísse dessa crise. Barbosa explica que, enquanto a produtividade do algodão convencional é de 40 arrobas por hectare, a do Bollgard I chega a 180 arrobas por hectare. “Além disso, na última safra pudemos avaliar que a renda da lavoura transgênica foi de R$ 675,00 e a convencional ficou negativa, sem renda, com prejuízo de R$ 680,00”, diz.

Ainda de acordo com o produtor, o uso de inseticidas nas lavouras geneticamente modificadas tem início apenas após cerca de 30 dias, o que reduz de 16 para 9 aplicações nas plantações. “Com o início do plantio transgênico aumentamos a produtividade, reduzimos o uso de inseticidas e os danos causados à saúde dos produtores, e passamos a ter nova esperança para o negócio local. Agora nossa meta é alcançar a produtividade de 200 arrobas por hectare e contamos com as novas tecnologias para alcançar esse objetivo”.

Para o produtor Almir Rebelo Oliveira, presidente do Clube Amigos da Terra, de Tupanciretã-RS, a importância do transgênico para o pequeno agricultor também é grande. “Em nosso estado, os pequenos agricultores de soja estão usando praticamente 560 transgênica. Eles querem produzir mais com menos veneno”, disse. “Antes, 30% dos agricultores se intoxicavam no Rio Grande do Sul. Hoje isso já não acontece. Usamos a soja transgênica até em nossa alimentação diária, em alimentos como macarrão, chocolate, suco, etc. Agricultor gaúcho hoje pede a soja Bt”, conclui Oliveira.

Produtores querem mais

“Não é possível que o Brasil, que tem o algodão de maior qualidade do mundo, continue relegado ao atraso tecnológico. Não é possível que o mundo esteja errado e só nós estejamos certos”, desabafou o produtor João Carlos Jacobsen, presidente da ABRAPA – Associação Brasileira dos Produtores de Algodão e vice-presidente da AIBA – Associação dos Agricultores e Irrigantes da Bahia, durante Audiência Pública realizada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio).

Em sua manifestação, ele apresentou ao presidente da CTNBio, prof. Walter Colli, que presidia a Audiência Pública, um abaixo-assinado em nome de 725 cotonicultores brasileiros, que representam 80% da área plantada no Brasil, reivindicando o acesso a novas variedades de algodão transgênico. Até agora, o Brasil conta com apenas uma variedade transgênica de algodão em uso comercial: o Bollgard I (Bt), da Monsanto, que atua no controle de pragas típicas dessa lavoura, como lagarta curuquerê, lagarta-da-maçã e lagarta rosada.

De acordo com Jacobsen, a Índia, que tem acesso a três variedades de algodão transgênico, já conseguiu ampliar a produtividade de tal forma (de 400kg/ha para 550 kg/ha) que isso representa colher anualmente mais 31% na mesma área de cultivo, o equivalente a uma safra brasileira integral, que está prevista em 3,91 milhões de toneladas para 2006/2007. “Temos que nos preocupar é com isto e não com o fato de que há multinacionais que lucrarão com essas variedades. Se lucrarem é porque investiram para isso, enquanto nós ficamos aqui discutindo se vamos adotar ou se não vamos adotar”, acrescentou. Além da Índia, a Austrália, outro importante concorrente do Brasil no mercado internacional, conta com quatro variedades de algodão transgênico. Na América do Sul, a Argentina já dispõe de duas variedades transgênicas e, no início de agosto, o governo da Colômbia aprovou a quarta variedade para os produtores colombianos.

Na opinião do presidente da ABRAPA, o Brasil também lucrará, assim como toda a sociedade, se não impedir o avanço da tecnologia no campo. Segundo ele, a tecnologia convencional de combate às pragas do algodão prevê o uso de mais de 100 tipos diferentes de inseticidas, já que são pelo menos 26 pragas diferentes atacando a planta em todas as fases do cultivo. “Hoje estamos matando amigos quando queremos matar só os inimigos”, afirmou. Com a adoção das variedades de algodão transgênico diminui a necessidade de uso de inseticidas e, portanto, existe maior preservação das populações de insetos que não atacam as lavouras. De acordo com a consultoria Céleres, a adoção do algodão Bt tem o potencial de, nos próximos 10 anos, gerar benefícios econômicos ao País da ordem de US$ 4,8 bilhões. Desse total, 63,4% deverão ficar nas mãos dos agricultores e 36,6% nas mãos dos diferentes segmentos da agroindústria envolvidos na atividade.

Ganhos de US$ 86 mi/ano só com algodão Bt

Ao longo da audiência foram debatidos os processos com pedidos de liberação comercial de quatro variedades de algodão geneticamente modificado encaminhados por três empresas, Bayer Cropscience, Dow Agroscience e Monsanto. Duas delas se referem a variedades tolerantes a diferentes herbicidas (Bayer / glufosinato de amônio e Monsanto / glifosato) e outras duas variedades resistentes a insetos (Dow e Monsanto).

O algodão é uma cultura com alto custo de produção. Os ataques de pragas e doenças causam perdas de 37% na produção, dos quais 13% devido a ataques de insetos. Estudo conduzido pelo economista Edgard Antonio Pereira, da EDAP – Consultoria e Assessoria Econômica, que avaliou os impactos econômicos no Brasil do uso de sementes transgênicas de soja, milho e algodão, a pedido da ABRASEM – Associação Brasileira dos Produtores de Sementes e Mudas, concluiu que a adoção do algodão transgênico Bt trará significativos ganhos econômicos e ambientais para o Brasil.

Como o cultivo do algodão é uma atividade de uso intensivo de agrotóxicos, numa estimativa de plantio em 50% da atual área plantada, os benefícios ambientais seriam bastante elevados, uma vez que haveria uma redução de 2.893 toneladas no volume de agrotóxicos utilizado atualmente, com uma redução de custos de produção de US$ 35 milhões para os agricultores. Somando-se outros US$ 51 milhões resultantes da elevação de produtividade dessas lavouras, o ganho econômico total para o Brasil, segundo o estudo da ABRASEM, atingiria US$ 86 milhões anuais. No Brasil, existem atualmente cerca de 30 mil empresas vinculadas à cadeia produtiva do algodão, que empregam mais de 2 milhões de pessoas.

Festa no milho

“É um dia muito importante para o País, que marca uma tendência de queda das barreiras ideológicas contra os legítimos interesses do País”, disse o produtor Almir Rebelo Oliveira, diante da decisão da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) de votar e emitir parecer favorável à liberação comercial da primeira variedade de milho transgênico no Brasil resistente a insetos, o MON 810.

Para a presidente da Associação Nacional de Biossegurança (Anbio) e pesquisadora da FioCruz, Leila Oda, a comunidade científica brasileira pôde finalmente fazer com que a ciência prevalecesse sobre interesses oportunistas, de entidades mais preocupadas com o marketing. “É um alívio perceber que a biotecnologia tem, de fato, campo para crescer no Brasil já que, pelo menos, os cientistas da CTNBio estão conseguindo fazer o seu trabalho de avaliação técnica da liberação comercial de novos OGMs”, diz.

Ganhos anuais de US$ 192 milhões com apenas 50% de milho transgênico ocupando o total da atual área cultivada. Esta é a estimativa calculada pelo economista Edgard Antônio Pereira em estudo realizado para a Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem), no caso da adoção do milho transgênico, agora confirmada. O presidente da entidade, Iwao Miyamoto mostra-se muito animado com a decisão anunciada pela CTNBio: “Enfim poderemos brigar por competitividade no mercado mundial. Este foi um passo importante para o avanço tecnológico do País”. Miyamoto espera que os produtores brasileiros possam finalmente competir em condições justas com a Argentina e os Estados Unidos.

A economia no uso de agrotóxicos e, conseqüentemente, maior preservação do meio ambiente foi lembrada pelos produtores. “Estamos muito felizes com a liberação. Os benefícios desta redução, tanto para a economia como para a saúde dos que lidam com a terra, é imenso”, diz o produtor. Para ele, o Brasil só tem a ganhar com a adoção das plantas transgênicas no País – agora soja, algodão e milho. “Temos que estar alinhados internacionalmente se quisermos competir no mercado mundial. Quem quiser continuar plantando lavouras convencionais ou orgânicas que continue. O que não estava certo era sermos impedidos de plantar lavouras transgênicas”, completou o agricultor gaúcho.

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