Pecuária

Doenças reprodutivas: prevenção é o melhor remédio

Um fator que causa muitos prejuízos nos rebanhos é a questão sanitária. Nomes como Rinotraqueíte, Diarréia Viral Bovina, Tricomoniase, Anaplasmoses, Brucelose, causam arrepios nos produtores. Os prejuízos causados por essas doenças são altos. Além de outros efeitos elas são responsáveis pelo aumento do intervalo entre partos.

Animais infectados com essas doenças deixam de parir uma vez a cada 13 meses, causando prejuízos aos produtores. Levando em conta que os custos de manutenção de uma fêmea no pasto são altos, é imprescindível que ela emprenhe no tempo certo, já que a eficiência reprodutiva dos rebanhos, assim como o conhecimento dos principais fatores que podem afetá-lo são essenciais para o aumento da lucratividade na atividade.

Estima-se que no Centro-Oeste, os índices da taxa de natalidade girem em torno de 40% a 60%, com vacas tendo a sua primeira cria por volta dos 45 meses de vida. Os números também mostram que cerca de 17% das vacas de cria ficam em torno de 2 anos sem parir. Considerando que o preço de um bezerro está em torno de R$ 450,00, pode-se concluir que qualquer redução nos níveis de mortalidade pode representar ao pecuarista uma diferença sensível nos lucros.

Segundo Aiesca Oliveira Peregrin, pesquisadora do CPAP Embrapa de Corumbá, MS, dentre as doenças que mais causam perdas à produtividade em rebanhos estão as que afetam o sistema de reprodução, causando males como a repetição de cio, abortamento, nascimento de fetos mumificados, nascimentos de crias fracas, infertilidade, dentre outros. “Os prejuízos econômicos provocados pelo insucesso da estação de monta possuem um peso importante, portanto, um controle preventivo dos machos e fêmeas é de fundamental importância para se obter um maior número de nascimentos satisfatório e, conseqüentemente, uma maior rentabilidade na produção”, declara.

O rebanho está suscetível a uma série de doenças infecciosas que causam impacto tanto na criação como também na sua comercialização. Segundo Sebastião de Faria Júnior, Gerente Técnico de Pecuária da Schering-Plough, dentre todas as moléstias da ordem reprodutiva que acometem o gado, a brucelose bovina é uma das piores, pois além de ser uma zoonose – doença que pode ser transmitida dos animais ao homem – é muito freqüente no rebanho nacional e causam grandes prejuízos no rebanho. “Há uma diminuição da ordem de 15% a 20% em rebanhos infectados com a brucelose”, afirma Júnior. A brucelose geralmente entra em contato com os rebanhos através da compra de vacas prenhes infectadas mas ela também pode ser transmitida por sêmen infectado. Uma outra via de infecção muito comum é a inseminação artificial com material contaminado. A brucelose causa o aborto, geralmente no sexto mês, com retenção da placenta e o contato direto com os produtos do aborto ou com o ambiente contaminado por esses produtos é a principal via de contaminação, inclusive para o homem. Podem ocorrer casos de fêmeas, recém contaminadas, onde o animal ainda não apresenta anticorpos e, portanto, não pode ser identificado nas provas sorológicas.

O diagnóstico da Brucelose é feito através da avaliação do desempenho reprodutivo do rebanho, associado a provas sorológicas. Segundo o regulamento técnico do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal ( PNCEBT ), são indicados alguns testes de diagnóstico indireto. Por exemplo, o teste do Antígeno Acidificado Tamponado (ATT), também conhecido como teste Rosa Bengala, indicado como teste de rotina. Outro teste é o de fixação de complemento como teste de confirmação de animais reagentes ao ATT ou que não apresentaram um resultado conclusivo ao teste 2-ME. Em todos os casos citados é necessária a presença de um médico veterinário nas diferentes etapas do processo.

Para que a propriedade rural obtenha o certificado atestando que não possui casos de brucelose em seu rebanho “É necessário que todas as fêmeas, entre 3 e 8 meses de idade sejam vacinadas contra essa doença com vacina B-19. Além disso, as fêmeas com idade igual ou superior a 24 meses, desde que vacinadas entre 3 e 8 meses mais os machos e as fêmeas acima de 8 meses, devem fazer três testes sorológicos sucessivos ao longo de um período mínimo de 9 meses, sem um único animal reagente positivo; no caso de animais soropositivo os mesmos devem ser sacrificados”, explica Sebastião Júnior da Schering-Plough, que revela que uma nova vacina contra a Brucelose está chegando ao mercado até o fim do ano. “A Schering-Plough desenvolveu uma nova vacina, chamada RB-51, diferente das existentes no mercado, pois não induz a formação de anti-corpos aglutinantes. Isso faz com que ela não interfira no diagnóstico e não leva ao aparecimento de falsos resultados positivos”, explica Junior. Essa também é a primeira vacina que pode ser aplicada em vacas adultas, ainda segundo o Gerente da Schering-Plough.

Além da Brucelose, outra doenças muito freqüente no gado e que causa grande prejuízo é a Rinotraqueíte Infecciosa Bovina (IBR). Causada por uma espécie de Herpesvírus Bovino tipo 1 (BHV-1). Este agente também pode causar outras manifestações clínicas como a Vulvovaginite Pustular Infecciosa (IPV). A IBR é uma doença bastante disseminada em todo o mundo, sendo inclusive comparada à febre aftosa em alguns países, devido aos prejuízos que causa. Um levantamento epidemiológico realizado em 171 rebanhos de diferentes localidades mostrou que entre animais nunca vacinados contra IBR e com problemas reprodutivos, 61% apresentaram anticorpos contra o BVH-1 e 97% das propriedades tinham animais soropositivos. Em geral, a mortalidade nos rebanhos afetados é baixa, sendo que em condições de campo, as perdas econômicas se devem, sobretudo a abortos, morte de bezerros recém-nascidos, queda na produção de leite, perda de peso e broncopneumonia bacteriana secundário, podendo em eventuais surtos, causar abortos em até 25% das fêmeas.

As principais fontes de contágio são as gotículas provenientes da tosse secreções nasais, oculares vaginais ou através do sêmen contaminado, além de líquidos e tecidos fetais. A IBR pode ser transmitida por monta natural, contato vulva focinho e inseminação artificial. O sêmen contaminado com essa doença pode causar endometrite, ciclos estrais curtos e redução significativa das percentagens de concepção. Além disso, o período de incubação do vírus dura de 2 a 6 dias, podendo evoluir por diferentes quadros clínicos e manifestar-se de forma separada ou simultaneamente.

O controle ou mesmo a erradicação desta doença exige dos pecuaristas, normalmente, recursos financeiros elevados, além de uma sinergia de ações em nível de regiões. Algumas medidas como, a proibição de entrada de animais provenientes de áreas ou rebanhos onde a doença é endêmica; controle sorológico periódico do rebanho; manejo dos animais soropositivos; eliminação, hiperimunização ou manejo totalmente separado dos animais não reagentes, são quase sempre eficazes. Nas regiões onde a doença é endêmica erradicá-la é inviável economicamente, tendo o pecuarista fazer o controle por meio da vacinação preventiva do rebanho, observa. Outra medida é aplicar antibióticos para controlar as complicações bacterianas secundárias. Colocar os animais em quarentena e fazer o controle sorológico também funciona.

Mais uma doença que costuma causar grande prejuízos aos pecuaristas é a Diarréia Viral Bovina (BVD). É uma moléstia que manifesta-se de diferentes maneiras nos animais infectados. Pode surgir como uma simples diarréia que não evolui para quadros mais graves, como pode também se manifestar de maneira mais acentuada como doenças nas mucosas, defeitos congênitos, em bezerros, dentre outros sintomas. O vírus causador da Diarréia Bovina causa prejuízos econômicos ao provocar abortos, infertilidade, mortalidade neonatal, atraso no crescimento, além da diminuição da produção de leite. os sintomas aparecem de 5 a 10 dias e a evolução da doença varia de 2 a 21 dias. Em casos extremos pode ocorrer febre de até 40° e hemorragias gastrintestinais, além de fezes líquidas com sangue e muco.

Para o diagnóstico sorológico de rebanho com suspeita de Diarréia Bovina, o recomendado é coletar, se possível, duas amostras de soro retiradas do mesmo animal com um intervalo de 2 a 3 semanas. Uma única amostra, mesmo com título elevado tem pouco valor. Além disso, nem sempre é possível detectar uma elevação de anticorpos, pois a infecção inicial as vezes ocorre muito tempo antes do aborto, por exemplo, e os títulos já atingiram o nível máximo. Quando há suspeita da doenças das mucosas, o diagnóstico de laboratório baseia-se na sorologia e na pesquisa do vírus no sangue, por é feito o isolamento viral pela técnica conhecida com ELISA para detecção do antígeno p 80.

O controle também se faz por meio de vacinação aplicando em todas as fêmeas antes da cobertura (primovacinação com duas doses e revacinação anual). O controle também é feito através de vacinação aplicando em todas as fêmeas antes da cobertura (primovacinação com duas doses e revacinação anual). É importante também identificar e eliminar do rebanho os bovinos imunotolerantes e persistentemente infectados (IPI), além de fazer um controle laboratorial de todos os bovinos que vão entrar no rebanho, afim de evitar animais com essas características. Outro ponto importante no controle da Diarréia Bovina é o fato de que contra essa doença só podem ser usadas vacinas inativadas. Vacinas vivas podem potencializar outras infecções bacterianas, virais e abortos. Isso por causa da imunossupressão.

Uma inúmera gama de doenças, além das citadas podem atacar o rebanho e a melhor maneira de defender o gado contra ela é focar na prevenção. É importante que o pecuarista se conscientize de que o manejo sanitário de forma correta é de suma importância para a saúde do gado, além de sempre seguir as orientações do seu médico veterinário e vacinar os animais seguindo sempre o calendário. “Embora represente um dos menores custos dentro do processo produtivo (2% a 5%), a vacinação pode ser decisiva quando se busca a obtenção de resultados satisfatórios na produção de carne e leite de qualidade. Este é um dado que nem todos produtores dão a devida atenção”, revela o medico veterinário Fábio Longhi Ferri, do Detec da Coamo em Toledo. Ele diz que hoje a pecuária possui excelentes tecnologias a sua disposição. “Assim, o desafio fica por conta da implantação de bons programas sanitários, dos quais a vacinação é um dos pilares, e da consolidação dos procedimentos de como usá-las corretamente, obtendo os melhores resultados na gestão da saúde animal”, destaca.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *