Agricultura

Cooperativismo: a união faz a força

Cooperativas são uma boa alternativa para os produtores rurais que quiserem aumentar o seu volume de vendas.A agricultura, atualmente está longe dos tempos áureos do dólar alto e, conseqüentemente, das exportações fartas e dos retornos financeiros polpudos.

Em tempos de vacas magras é preciso se adaptar às circunstâncias para continuar nesse ramo, que muitas vezes parece ingrato, sobretudo no país em que vivemos. Uma boa alternativa para incrementar os ganhos, principalmente para os pequenos produtores, é formar uma cooperativa agrícola. “O cooperativismo faz o papel de agregação de pessoas. A gente trabalha o social focando na parte financeira. O cooperativismo vai agregar essas pessoas e vai fazer com que elas se organizem para terem um ganho de escala.

A organização das cooperativas tem por finalidade representar essas pessoas e trazer as necessidades dos cooperados que estão dentro das cooperativas de tal maneira que a gente possa auxiliar essa cooperativa a desempenhar o seu papel junto àqueles associados em questão”, explica Edivaldo Del Grande, presidente da Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo (OCESP).

As cooperativas podem auxiliar os produtores rurais a terem um volume de produção maior. “Com a cooperativa, nós conseguimos concluir vendas maiores. Antes algum produtor tinha a oportunidade de fazer uma grande venda, mas acabava não fazendo por não ter a quantidade suficiente de frutas que o cliente desejava”, explica Orlando Steck Filho, presidente ta Cooperativa Agrícola Nossa Senhora das Vitórias, que comercializa uva, ameixa, e caqui na região de Jundiaí, interior de São Paulo. Essa cooperativa já existe há três anos, embora os cooperados já trabalhassem juntos antes da oficialização. “A gente já fez uma experiência de cooperativismo e achando que isso ajudou bastante na nossa venda e na compra de produtos, então nós resolvemos oficializar a cooperativa”, relata Steck.

Uma outra grande vantagem de participar de uma cooperativa é a padronização, tanto da produção, como dos preços também. “Após a criação da Cooperativa, conseguimos aumentar o preço da produção pelo fato de conseguirmos agora fechar vendas maiores. Ter um nome também ajudou a nos consolidar no mercado e, conseqüentemente formar uma clientela maior”, afirma Steck filho. O cooperativismo não tem por finalidade acumular grandes valores. Edivaldo Del Grande explica que o procedimento padrão das cooperativas é aplicar o resultado do que sobra da produção em um fundo e, se ainda restar algum excedente, este volta para o associado. “Então isso faz com que o agricultor realmente retenha um valor maior, desde que essa cooperativa seja bem gerida e faça ou retenha um valor maior daquela atividade a qual ele pertence. Com isso, o cooperativismo também ajuda a trabalhar dentro ou a melhorar a comunidade onde ele está inserido. Porque os outros que estão à margem do cooperativismo acabam tendo como valor de referência aquele preço de insumo ou aquele valor com o qual a produção está sendo vendida. E isso melhora não só a vida do associado, mas a vida da comunidade como um todo. Tanto é que, medido o índice de desenvolvimento humano nas comunidades onde estão inseridas as cooperativas, a gente vai perceber um nível bem diferente de onde não tem um modelo cooperativista”, afirma Del Grande.

As Organizações de Cooperativas, tanto estaduais como federais servem também como porta-vozes dos produtores rurais cooperados. Elas ajudam a sensibilizar o Governo Federal nas questões que envolvem o pequeno produtor. “O pequeno produtor, e principalmente o pequeno produtor de grãos hoje está com um estoque de dívidas muito grande, muito preocupante. Nós temos trabalhado muito pressionando o Governo porque o setor carece de políticas governamentais”, diz o presidente da OCESP. Uma das principais bandeiras que defende a OCESP e a OCB (Organização das Cooperativas do Brasil, a qual a OCESP é subordinada) é a criação do seguro agrícola. “Nós temos subvenção do seguro, mas não temos seguradoras que queiram fazer seguro para nós agricultores. Então nós temos que ter vontade política, nós temos que reconstituir o fundo de estabilidade que, aliás, não foi de maneira alguma extinto pelos agricultores e sim por uma série de desmandos governamentais que vêem há muito tempo, portanto, nós precisamos de um seguro agrícola que realmente segure a produção e segure o empreendimento do nosso agricultor”, afirma Del Grande.

Se é verdade que o governo pouco ajuda o pequeno agricultor, isso serve como aprendizado para que o produtor rural dependa cada vez menos do poder público e comece a se organizar por si só. Formar uma cooperativa é uma boa maneira de necessitar menos de ajuda externa e conseguir um maior retorno financeiro. O pequeno produtor sempre teve dificuldade de conseguir crédito financeiro em instituições bancárias privadas por essas pequenas operações serem onerosas aos bancos.

Pensando nesse entrave, a OCB conta com cooperativas de crédito rural, onde os cooperativados conseguem linhas de crédito com facilidades de pagamento. E estes financiamentos são voltados em sua maioria para os pequenos produtores, que são o grosso dos cooperativados. Para se ter uma idéia, no estado de São Paulo 70% dos cooperativados são pequenos produtores, que possuem até 28,9 hectares. É o caso dos produtores da Cooperativa Nossa Senhora das Vitórias, de Jundiaí, onde as propriedades dos cooperativados variam entre 5 e 10 alqueires paulistas (24.200 m²).

Orlando Steck Filho acha muito boa a opção de poder se associar a uma cooperativa de crédito rural, mas acredita que a melhor alternativa é realizar um trabalho de gestão eficiente e evitar o endividamento. E foi uma boa gestão que possibilitou a Cooperativa Nossa Senhora das Vitórias a realizar uma outra atividade econômica: A produção e comercialização do vinagre de caqui. “Nós temos o projeto piloto do vinagre e estamos percebendo que o consumidor está gostando do produto e esta é uma grande esperança na nossa cooperativa, esse valor agregado”, relata Orlando.

A produção do vinagre é feita com as frutas que não tinham valor comercial por estarem machucadas ou abertas e que, portanto, seriam descartadas. “É um aproveitamento das frutas, que seriam 10% das frutas e se a gente não fosse fazer o vinagre, elas iriam para o lixo. E, além disso, a gente está fazendo um vinagre de caqui que é 560 natural”, explica Nelson Pagotte, cooperado da NSV e produtor do vinagre de caqui. Além de ser 560 natural, o vinagre de caqui possui outra vantagem em relação ao vinagre convencional que é a de não queimar a salada após o seu tempero.

Segundo os cooperados da NSV, o vinagre de caqui foi muito bem aceito pelo público e sua produção só aumenta desde que ela começou a ser comercializada há mais ou menos um ano.

O vinagre de caqui entrou nessa reportagem para ilustrar o caso de uma Cooperativa que além de fazer com que os produtores consigam melhores preços, melhores encomendas e se firmem no mercado com um nome forte, ainda os levou a conseguirem um produto de maior valor agregado e com as frutas que iriam para o lixo. “Eu sempre digo que é necessário primeiro conhecer bem os produtores para que todos possam saber aquilo que estão fazendo. Juntar as forças, juntar a produção. A pessoa tem que ter esse espírito de cooperativismo. Não adianta imaginar que vai entrar na cooperativa e que vai tirar vantagem de momento. É necessário primeiro trabalhar bem a cabeça das pessoas que vão ser cooperativadas e entender o verdadeiro espírito de cooperativismo, senão a coisa vai por água abaixo”, ensina Orlando Steck Filho.

Os 15 passos para a criação de uma cooperativa:

1º) Reunião com o grupo de pessoas interessadas em criar uma Cooperativa, com as seguintes finalidades:
·Determinar os objetivos da Cooperativa;
·Escolher uma comissão para tratar das providências necessárias à criação da Cooperativa, com a indicação de um coordenador dos trabalhos.

2º) Realizar reuniões com todos os interessados em participar da Cooperativa, a fim de verificar as condições mínimas para que a mesma seja viável, respondendo os seguintes questionamentos:
·A necessidade é sentida por todos os interessados?
·A Cooperativa é a solução mais adequada?
·Os interessados estão dispostos a cooperar?
·volume de negócio é SUFICIENTE para que todos os cooperados tenham rendimentos mínimos?
·Os cooperados estão em condições de subscrever e integralizar o capital necessário ao funcionamento da Cooperativa?
·A Cooperativa terá condições de contratar pessoal qualificado para administrá-la e fazer contabilidade?

3º) A Comissão Organizadora elabora uma proposta de Estatuto da Cooperativa.

4º) A Comissão distribui para os interessados uma cópia da proposta do Estatuto, para que todos a estudem, e realiza reuniões com as pessoas interessadas para um discussão dos itens

5º) A Comissão convoca todas as pessoas interessadas para a Assembléia Geral de Constituição (Fundação) da Cooperativa, em hora e local determinados com bastante antecedência, afixando o aviso de convocação em locais bastante freqüentados pelos interessados, podendo ser também veiculados através da imprensa e rádio da localidade.

6º) Realização da Assembléia Geral de Constituição da Cooperativa com a participação de todos os interessados (mínimo de 20 pessoas, segundo a lei).
Nota: é recomendável a elaboração de Regimento Interno para a regulamentação do Estatuto, de acordo com as rotinas administrativas e operacionais adotadas pela Cooperativa as cooperativas do estado

7º)Ata de constituição com:
– Aprovação dos Estatutos
– Constituição do capital-social
– Relação dos sócios fundadores
– Eleição da Diretoria

8º) Subscrição e Integralização das Quotas-parte

9º) Encaminhamento da documentação à Junta Comercial

10º) Abertura de livros: Ata, Caixa e Associados

11º) Junta Comercial arquiva documentos e encaminha Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas

12º) Inscrição estadual – Registro no ICMS

13º) Registro no órgão de representação do Cooperativismo – OCB ou em suas unidades estaduais, OCESP no caso de São Paulo.

14º) Abertura de conta bancária e outras providências: INSS – Ministério do Trabalho – Alvará da Prefeitura.

15º) Elaboração de blocos de Notas Fiscais

Qualquer dúvida, o produtor rural, pode entrar em contato com a OCESP pelo site www.portaldocooperativismo.org.br e pelo telefone 11-5576-5955 ou com a OCB pelo site www.ocb.coop.br e pelo telefone 61-3325-5500

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