Tecnologia

Milho: “green card” para o transgênico!

Produtores de milho do Paraná pedem apoio para plantar variedades geneticamente modificadas.

Se a atual área plantada de milho no Brasil fosse de variedade transgênica Bt, a cada safra haveria um ganho superior a US$ 700 milhões para os produtores, gerado por um ganho de produtividade anual de 24% e uma economia de US$ 340 milhões em função da redução do uso de defensivos agrícolas.

As informações são de Paulo Bertolini, membro da Associação de Produtores de Grãos Diferenciados – APGD, sediada em Castro-PR, baseados no estudo “Dez anos de cultivos geneticamente modificados na agricultura argentina”, realizado pelos Ph.Ds. Eduardo Trigo e Eugênio Cap para o Conselho Argentino para a Informação e Desenvolvimento da Biotecnologia – ArgenBio. “Não é por outro motivo que nossos colegas argentinos já estão usando 70% da área de cultivo de milho com variedades transgênicas”, acrescenta o produtor paranaense.

Além da necessidade de aumentar a produção de milho, sem expandir a atual fronteira agrícola, para atender as demandas atuais do mercado interno, para Bertolini, daqui a pouco uma nova demanda também vai pressionar o mercado brasileiro – a de ajudar no suprimento internacional de milho, já que o milho americano será destinado à produção de etanol. “Nossa atual produção estimada em 47,7 milhões de toneladas para a safra 2006/2007 precisa ser apoiada em tecnologia para poder crescer. O que nós queremos do governo é apenas que ele nos permita utilizar as ferramentas tecnológicas já existentes. Não é justo competir com os argentinos, por exemplo, sem ter acesso às mesmas tecnologias que eles usam”, desabafa Bertolini.

O representante dos produtores refere-se às cinco variedades de milho transgênico que estão à espera de votação na CTNBio – Comissão Técnica Nacional de Biossegurança. “Sabemos que haverá uma Audiência Pública no próximo dia 20, em Brasília. Tudo que queremos é que os membros da CTNBio e também os ministros que compõem o Conselho Nacional de Biossegurança saibam do impacto positivo que essas liberações podem ter na economia brasileira.”

Para ele, é um absurdo que as avaliações dessas variedades de milho estejam paradas há anos na CTNBio. “Nós confiamos nos cientistas Brasileiros e queremos que saibam que contam com o apoio dos agricultores para aprovação do milho transgênico”, completou o produtor da região dos Campos Gerais.

Produto faz sucesso na Europa

O plantio do milho geneticamente modificado (GM) na Europa tem demonstrado que a coexistência com as variedades convencionais é possível, desde que valorizado o conhecimento científico e respeitadas as boas regras de manejo agrícola. O resultado de tal prática é que, quando conduzidas por pessoas neutras, com expertise tecnológica e vivência nas atividades agronômicas, as informações do campo tornam-se fonte precisa e segura para políticos, associações ecológicas e toda sociedade, de maneira objetiva e transparente.

Na França, por exemplo, os agricultores têm força e credibilidade porque trabalham para o meio ambiente – afinal, eles precisam do meio ambiente para sobreviver – e são encarados como consumidores conscientes, uma vez que também consomem os alimentos que produzem. É um princípio básico. Nesse sentido, por ter conhecimento dos fatos, é do agricultor a decisão de semear o milho GM.

Os produtores rurais franceses não ficaram alheios aos debates em torno da biotecnologia e uniram-se para buscar, por caminhos independentes de política ou ideologia, as respostas mais adequadas às suas atividades. Foi assim que, em 2005, a Associação dos Produtores de Milho e Sorgo da França desenvolveu o Programa de Acompanhamento de Culturas em Biotecnologia (PACB), com apoio de organizações como o Instituto Nacional de Pesquisas Agronômicas (INRA), a Federação Nacional dos Produtores de Sementes de Milho e de Sorgo (FNPSMS), o indicato das Empresas Francesas de Sementes de Milho (Seproma) e o Instituto do Vegetal Arvalis.

O PACB realiza um monitoramento que avalia os parâmetros estabelecidos para coexistência de milho Bt – cujo plantio permaneceu interrompido pela moratória aplicada de 1999 a 2003 – e variedades convencionais. Após três anos de estudos, comprovamos que a coexistência é possível entre diferentes tipos de milho (verde, grão, semente, transgênico e orgânico), pois a zona tampão de 10 metros de distância já permite diminuir para apenas 0,3% a 0,4% a presença não intencional, ou seja, abaixo do limite mínimo exigido pela União Européia, de 0,9%.

Além da questão da coexistência, o programa avalia informações científicas e operacionais que garantem a rastreabilidade das culturas, desde o campo e o armazenamento até a fabricação de ração animal. O projeto também analisa os benefícios do milho Bt com relação à resistência a pragas. Todos os dados são apresentados constantemente para os ministérios de Meio Ambiente, Agricultura e Ciência e Tecnologia.

O país europeu que mais cultiva transgênicos é a Espanha. Não por acaso: o nordeste espanhol, grande produtor de milho, é também uma das regiões mais áridas da Europa meridional, onde as plantações são freqüentemente afetadas pela Lagarta Européia (Ostrinia nubialis). Lavouras de colegas agricultores espanhóis, que ali adotaram o milho Bt há seis anos, comprovam que o rendimento bruto da variedade resistente a insetos é maior que o da planta convencional. A versão transgênica rende R$ 1.980,00 / ha, enquanto a outra garante apenas R$ 1.160,00 /ha.

A diferença entre as duas opções é conseqüência direta da redução dos custos de produção e da melhor qualidade dos grãos, que, por resistirem às pragas, impedem a formação de micotoxinas. Vale destacar que as áreas de refúgio com 15 metros de distância mostraram-se suficientes para garantir a coexistência das variedades convencionais, campos de produção de sementes e variedades GM tanto na França quanto na Espanha. Além das vantagens econômicas, melhorou consideravelmente a qualidade de vida dos próprios agricultores, pois eles ficam menos tempo nas lavouras realizando aplicações de agentes químicos – fator de suma importância socioambiental. Atualmente, os fabricantes de ração e óleo preferem da Espanha preferem comprar os grãos GM pela alta qualidade, uniformidade e isenção das micotoxinas. Segundo o Serviço Internacional para Aquisições de Aplicações em Agrobiotecnologia (ISAAA), seis países da União Européia cultivaram o milho Bt em 2006. A Espanha plantou 60 mil hectares. França, República Checa, Portugal, Alemanha e Eslováquia, juntos, alcançaram aproximadamente 8,5 mil hectares. No último mês de fevereiro, conversei sobre estes números e tendências com dezenas de colegas agricultores brasileiros durante o Show Rural, evento realizado em Cascavel (PR), que se mostraram bastante interessados e desejosos de adotar as variedades de milho Bt. Temos todos a mesma convicção de que a biotecnologia se apresenta como o caminho mais seguro e eficiente para agricultura no mundo inteiro.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *