Política

Economia: números fazem troça do “espetáculo do crescimento”!

Mais um ano se passa e o declarado, em alto e bom tom, “Espetáculo do crescimento” não acontece, ao menos no Brasil, pois nos demais emergentes faz tempo que estão comemorando, como na China, há pelos menos três décadas. Só para constar, a menor taxa de crescimento do PIB chinês foi de 3,8% em 1990.

O IBGE divulgou hoje (28/fev) a primeira prévia do PIB brasileiro referente ao ano 2006. O indicador ficou em 2,9%, exatamente dentro da expectativa da Austin Rating, conforme divulgado em nosso relatório “Update Dezembro – Projeções Macroeconômicas – 2006/2008”, enviado para nossos clientes e colaboradores no último dia 27 de dezembro. O resultado ficou acima da expectativa mediana do mercado de 2,73%, conforme o Boletim Focus do Banco Central, datado de 02 de fevereiro (último relatório disponível com projeção para o PIB de 2006).

O resultado de 2,9% do PIB brasileiro ficou muito aquém do crescimento da economia mundial, estimado em 5,1% pelo FMI, bem como muito inferior à média de 4,9% de 18 países selecionados da América Latina e a média de 5,5% de 34 países emergentes selecionados.

Os destaques positivos do PIB de 2006 foram:
i) o consumo das famílias, que cresceu 3,8% em 2006 e já acumula 11,4% no triênio 2004-2006, portanto, recuperando-se do tombo sofrido em 2003: -1,5%;
ii) os investimentos (FBKF) que cresceram 6,3% em 2006 e acumulam alta de 19,8% no triênio 2004-2006, recuperando-se do tombo sofrido em 2003: 5,1%.

Os destaques negativos, por sua vez, ficaram por conta do consumo do governo, que cresceu 2,1% e acumula apenas 3,8% no triênio 2004-2006, bem como a demanda externa, que revelou forte queda no ritmo de crescimento das exportações, que passou de 11,6% em 2005 para 5% em 2006, e a forte aceleração do ritmo de crescimento das importações, que passou de 9,5% em 2005 para 18,1% em 2006, praticamente anulando os dividendos gerados pelas exportações no quadriênio 2003-2006 (X = +50,7% e M = +45,2%).

BRASIL NUMA COMPARAÇÃO INTERNACIONAL DEIXA A DESEJAR…

Numa comparação entre o desempenho da economia brasileira e grupos de países selecionados, como Emergentes, Desenvolvidos e países da América Latina, o resultado é desapontador, visto que o país fica entre as últimas colocações nos rankings comparativos. Isso mesmo o país devendo permanecer entre as dez principais economias do mundo e a principal da América Latina nesse ano de 2006, em termos de volume financeiro em dólares.

Na América Latina, repetindo o que ocorreu em 2005, o Brasil só deve superar o Haiti, que mesmo em guerra civil tem uma expectativa de crescimento de 2,3%, segundo estimativas do FMI. A média de crescimento do PIB da região esperada para este ano é de 4,9%, ou dois pontos percentuais acima da registrada pelo Brasil.

Na comparação com 34 países emergentes selecionados, o Brasil deve amargar a última colocação, sendo superado pelo Paraguai. Enquanto o Brasil registrou crescimento de 2,9%, a média dos emergentes selecionados deverá ficar em 5,5% em 2006, segundo dados estimados pelo FMI.

Numa comparação um pouco mais “equilibrada”, porém não justa, o PIB brasileiro só conseguiu superar, e ainda de forma moderada, a média de crescimento de 2,8% de 21 países desenvolvidos selecionados, sendo que 9 desses países devem apresentar taxa de crescimento superior aos 2,9% do Brasil (vide quadro anexo).

OS PROBLEMAS SÃO CRÍTICOS E O CRESCIMENTO PERMANECE PÍFIO…

O pífio crescimento do PIB brasileiro em relação aos demais países, em um momento de ambiente internacional favorável, com ausência de crises externas e a economia mundial crescendo de forma muito vigorosa (5,1%), confirma inequivocamente que o problema é de gestão doméstica.

Nos últimos anos, o Brasil não tem sofrido interferências externas como ocorreu em 1997, 1998 e 2001, no entanto, continua registrando baixos níveis de crescimento econômico. Esse comportamento do PIB brasileiro, em um contexto extremamente benigno, evidencia ainda mais a falta de planejamento da administração pública, bem como reflete a frágil e conturbada política econômica, com prática de elevados gastos fiscais e baixos níveis de investimentos, além de uma política monetária extremamente restritiva ao investimento privado no setor produtivo, em decorrência da redução da taxa de juros a conta-gotas que preserva a taxa de juro real em níveis ainda muito elevados (8% ao ano, contra média mundial em torno de 4%).

APESAR DOS FATOS, NEM TUDO ESTÁ PERDIDO…

Mesmo o país tendo, recorrentemente, registrado resultados decepcionantes de crescimento econômico, ainda é possível vislumbrar dias melhores. O país praticamente quebrou a espinha dorsal da inflação e tem preservado o poder de compra do trabalhador brasileiro, fato que alimenta o combustível do motor do crescimento econômico: o consumo das famílias, que representa aproximadamente 60% da composição do PIB pela ótica da demanda.

Aliada à recuperação da renda e do emprego nos últimos dois anos está a forte evolução do mercado de crédito. Na medida em que a taxa de juros cai, reduzindo a atratividade dos investimentos em títulos públicos, mais as instituições financeiras serão forçadas a avançar no mercado de crédito, entrando em níveis de tomadores de crédito não contemplados nos planejamentos financeiros, em decorrência aos altos riscos de inadimplência.

Ou seja, a forte evolução observada no mercado de crédito nos últimos anos deve não só permanecer nos anos entrantes, bem como deverá ter seu fôlego revigorado em algum momento do tempo, estimulando, portanto, os setores relacionados diretamente aos bens de consumo duráveis e semiduráveis, que geralmente sua aquisição é realizada através de financiamento.

A divulgação do PAC – Programa de Aceleração do Crescimento, não é a solução dos problemas, porém ao menos reascende a discussão do crescimento econômico, que estava esquecida pela ansiedade na obtenção do controle inflacionário que dominou acadêmicos e especialistas nas últimas décadas, mas que já não é mais uma preocupação primordial.

As expectativas para os próximos três e cinco anos são boas. Contando com mais um pouco de sorte, no que diz respeito ao cenário internacional ainda benigno, há grande possibilidade do Brasil apresentar taxas de crescimento superiores a 4% ao ano. Isso porque, mesmo que de forma duvidosa, a tendência para a taxa de juros é de queda para os próximos anos, incorrendo em maior competitividade entre as opções de investimentos no mercado financeiro e as opções no setor produtivo. Ademais, o quadro prospectivo, tanto para taxa de inflação quanto para investimentos e consumo, é otimista, impondo, portanto, maior dinâmica ao crescimento econômico.

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