Hoje, as taxas de mortalidade seguidas de descarte variam entre 40 e 60% do total capturado, dependendo da época do ano. O oceanólogo e pesquisador Jefferson Legat, que coordena os trabalhos, considera esse fato como um indicativo de que a captura pode ser reduzida sem afetar a cadeia produtiva, pois a quantidade de caranguejo consumida é, no mínimo, 40% menor do que é extraída.
Segundo o pesquisador, a mortalidade é maior durante o período da muda, ou seja, a troca da carapaça externa do animal, que vai do final de julho ao início de novembro. Nesse período, a carapaça encontra-se mais fraca e os caranguejos tendem a permanecer dentro das tocas.
Se forem capturados nessa fase, eles terão maior possibilidade de morrer durante a captura, estocagem e transporte.
As perdas elevadas de caranguejo, de acordo com o pesquisador, estão conectadas aos métodos inadequados de captura, manuseio e armazenamento dos animais pelos catadores, comerciantes e distribuidores. As estruturas inadequadas de transporte marítimo e rodoviário, bem como a falta de uma regulamentação e fiscalização são também apontadas por ele como responsáveis pelas perdas.
Para viabilizar essas ações, a Unidade está trabalhando com dois projetos denominados Sustentabilidade do Extrativismo do Caranguejo-uçá, um no Delta do Parnaíba e o outro exclusivamente no estado do Piauí. O do Delta tem um orçamento de R$ 41.961, financiado pelo Banco do Nordeste. O do Piauí está orçado em R$ 89.750, recursos oriundos da Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca da Presidência da República. Os projetos, que começaram em agosto de 2003, serão concluídos em julho deste ano. Uma cartilha, com todas as recomendações técnicas à comercialização do produto, será produzida ainda em 2006.
Jefferson Legat está trabalhando também em mais três projetos com caranguejo-uçá, que visam alternativas sustentáveis de geração de alimento, emprego e renda em comunidades de catadores; monitoramento da estrutura populacional e crescimento relativo da espécie; e biologia e comportamento reprodutivo do caranguejo.
Principal produto pesqueiro do Piauí, o caranguejo-uçá é meio de vida para quase cinco mil famílias da região do Delta do Rio Parnaíba, que compreende os municípios de Ilha Grande de Santa Isabel, Parnaíba e Luiz Correia, no Piauí; e Tutóia, Água Doce do Maranhão e Araioses, no Maranhão.
O Maranhão é o líder do ranking com 1,8 mil toneladas. O Piauí, segundo dados do Ibama e do Centro de Pesquisa e Extensão Pesqueira do Nordeste – Cepene, é o segundo maior produtor de caranguejo da região, com 821,8 toneladas, em 2002. A Bahia está em terceiro lugar com 619,2 toneladas.
Além do mercado piauiense e do Estado do Ceará, o caranguejo capturado no Delta do Parnaíba abastece, também, em menor escala, as regiões Sudeste e Centro-Oeste do País. Nos últimos anos, a captura de caranguejo está em declínio em praticamente todo o Nordeste. No Piauí e Maranhão, segundo os últimos estudos, a captura tem se mantido permanente. No entanto, a redução dos exemplares é um dos indícios de que a pesca já está no limite tolerável.