Em todo o País, a pecuária bovina principalmente aquela localizada no Brasil Central sofre com algumas conseqüências da exploração extrativista, historicamente adotada pelos produtores.
O fato desta exploração é que se determinou um processo avançado de degradação de grandes áreas de pastagem, constituindo uma das principais causas que vem impedindo o desenvolvimento da pecuária em sua plenitude, com reflexos negativos em toda a cadeia produtiva da carne, além disso, transforma a paisagem e dificulta a vida do homem no campo.
Hoje alguns especialistas da Embrapa já admitem que a degradação dos pastos seja um dos maiores problemas da pecuária bovina no País, principalmente em áreas onde estão localizadas as pequenas propriedades.
“Cerca de 60% de área de pastagens no nosso País está em fase de degradação de solo, em conseqüência de: pouca formação de forrageiras no solo (que já se encontra compactado), das chuvas (no período onde o solo frágil é a receita ideal para o processo de erosão), e dos animais que vai pastar em áreas próximas a margens de rios e riachos não permitindo que a forragem cresça criando assim uma crosta e deixando o solo impermeável. Com o capim crescendo ele protege o solo contra a chuva e o sistema de radicular dele faz com que o solo seja descompactado”, conta Odo Primavesi, pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste.
Além dos impactos negativos na produção, agravam-se os efeitos ambientais provocados pela degradação que gera erosão com a perda de grande quantidade de fração mais rica dos solos, provoca o assoreamento (fase em que terra escorre junto com a água) dos leitos dos cursos de água, além de facilitar o rápido escoamento das águas das chuvas sem penetração e abastecimento adequado para o lençol freático. Isso explica em parte, a escassez de água nos últimos anos.
Em algumas regiões do País há casos de riachos terem secado ou terem o fluxo de água reduzido, devido exclusivamente ao mau manejo. A descapitalização, a falta de recursos e incentivos aos pecuaristas e altos custos de insumos (corretivos, fertilizantes e herbicidas) têm sido apontados como fatores limitantes para a solução do problema. A alta ocorrência de plantas invasoras em pastagens degradadas ou em processo de degradação representa, sem dúvida, um agravante ao processo de perda de produtividade dos pastos. O problema assume maior importância quando se leva em conta a existência de grandes áreas de pastagens nessas condições, onde a recuperação ou a renovação passa a ser práticas recomendáveis para reverter este processo (entende-se por recuperação e manutenção das pastagens, o processo que visam restabelecer a produção de forragem, mantendo a mesma espécie forrageira).
A renovação e a reforma têm objetivo semelhante, entretanto, por processos mais drásticos, e com a introdução de uma nova gramínea. Posteriormente, a falta de manutenção da fertilidade do solo e o manejo inadequado das pastagens, favorecem a disseminação das plantas daninhas e reduzem a produtividade ao longo dos anos de utilização. Além disso, o gado não deve beber água nas margens de rios e lagos, mas sim em bebedouros localizados na propriedade, pois o pisoteio do gado traz assoreamento e redução do fluxo de água, além de alguns problemas para os animais. Tudo isto, faz com que o problema seja mais grave, como aponta os pesquisadores.
Para isto, ao longo dos anos alguns experimentos foram realizados. Na Embrapa Pecuária Sudeste de São Carlos, por exemplo, o trabalho em uma área em processo de degradação teve como resultado o aumento da receita do produtor que permitiu custear algumas medidas para proteger o rio que abastecia a propriedade. Os hectares ao longo de um pequeno riacho foram cercados e um reservatório foi construído para evitar o pisoteio do gado nas margens e diminuir os problemas de erosão e assoreamento. A medida também colaborou para a viabilização da regeneração de reserva legal exigida por lei, que corresponde a 20% da propriedade.
Além de reduzir os impactos das atividades agropecuárias no entorno da propriedade, o objetivo do projeto foi também o de manter ou aumentar a rentabilidade do produtor rural.
“A partir do momento que pecuarista limita o rebanho dentro de uma área e disponibiliza água para os animais ele, ao mesmo tempo, ganha na produtividade, pois o gado não precisa percorrer longas distâncias a procura de água, isto faz com que o rebanho gaste menos energia e o criador lucra. O gado transforma esta energia em carne ou leite. Se o animal estiver aceso a água dos rios ou nascente, ele acabará prejudicando a vegetação de proteção da mata auxiliar e o corredor biológico no meio do rio”, conta o pesquisador.
Com isto, na primeira fase de implantação do projeto se demonstrou que os benefícios ambientais e econômicos são grandes quando implantados nas fazendas. A segunda fase teve como objetivo de disseminar os resultados das boas práticas agrícolas, especialmente, na área das nascentes de rios, bastante degradada pelas atividades agrícolas.
Segundo Primavesi, o acesso direto dos animais nas fontes de água é melhor para o pecuarista porque não vai gastar em cercas, mas em conseqüência, o pecuarista estaria prejudicando o solo, e em um período de médio e longo prazo ele estaria provocando grandes erosões na propriedade. O pecuarista que adota a criação intensiva e semi-intensiva vê vantagens nas bombas de água, uma operação muito simples para ser adotada na propriedade.
“De acordo com a legislação atual, todas as regiões de água tem que ser protegidas por matas auxiliares, conseqüentemente, áreas que foram destruídas por corpo de água gerando degradação tem que ser recuperadas com reflorestamento, com espécies adaptadas a beira do rio. A área de proteção ajuda a propriedade a ter uma área limpa, teríamos corpo de água convertidos sem assoreamento, água limpa, e a estabilidade de corredor biológico que evita que o gado se infecte com vermes. A caminhada do gado até o corpo de água forma as trilhas que futuramente provocam a tal conhecida mossoroca, grandes valas que vão devorando as propriedades rurais”, diz o especialista no assunto.
Em muitos casos, lembra o pesquisador há o desaparecimento de rios e riachos. “Se a erosão for muito grande se a consolidação de solo e água não foram muito boa quanto na área de pastagens quanto na área agrícola de lavoura pode haver um soterramento do corpo de água”, explica.
Em sistemas mais intensivos, principalmente também em pequenas propriedades atualmente se recomenda, em função de legislação ambiental e da preservação do corpo de água a concentração dos alimentos em áreas menores mais intensivos. “Com isto, o pecuarista faz com que o gado gaste menos energia, ao mesmo tempo conserva mais água de chuva, mais terra e a propriedade também aumenta de valor, uma propriedade mais conservada com pastagens e fartura, com certeza se torna mais lucrativa para o dono. Muitas vezes com a área em prejuízo, é preciso abandonar a propriedade e procurar outra”.
Com isto, os bebedouros entram como utensílios necessários nas propriedades. “Pode ser qualquer utensílio usado na propriedade e uma bomba utilizada no copo de água, pequena e elétrica ou bomba como roda de água”, explica.