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Biodiesel: bons caminhos para a soja também no mercado interno

O mercado de biodiesel encontra-se em estruturação. Porém, as perspectivas, segundo os especialistas, são ilimitadas. Hoje, os investimentos para este setor estão cada vez mais visíveis. Tudo isso, porque já que existe a possibilidade da escassez do petróleo e o grande impacto ambiental da queima de combustíveis fósseis se tornaram as maiores preocupações do mundo inteiro.

Além disso, a disponibilidade de matérias-primas para o processamento parecer ser um dos triunfos do projeto do biodiesel. Neste contexto promissor, o biodiesel significa uma ótima opção para agregar valor a produtos tradicionais, como a soja.

Tradicionalmente, o grão é usado para a produção de óleo e farelo para alimentação animal. A maioria dos produtos alimentícios tem em sua composição a lecitina de soja, um agente conservante. A soja também é usada como fonte protéica de alimentos embutidos, como as salsichas. Além disso, a soja também é utilizada como composição de vários produtos cosméticos. Porém, na realidade, nos últimos anos, aqui no Brasil se intensificou o estudo da soja para a aplicação de combustível ecológico (o biodiesel).

De acordo com o pesquisador da Embrapa Soja, Décio Gazzoni, é sempre interessante lembrar que, nos EUA, a soja é a única oleaginosa utilizada para produção de biodiesel. “A soja possui teor de óleo relativamente baixo, porém, é a oleaginosa mais plantada no mundo, sendo a maior fornecedora de óleo em escala global. Além disso, a soja possui um papel altamente relevante, nos curtos e médios prazos, ou seja, durante esta e a próxima década. Apesar de o grão de soja conter apenas 18% de óleo, trata-se da cultura com maior organização da cadeia produtiva, com sistema de produção dominado, mercado estabelecido e diversificado, grande capacidade de resposta e muito adequado às condições de clima e solo, como por exemplo, do Brasil. Portanto, nos próximos 15 anos, dificilmente a soja será superada como fornecedora de matéria prima”, diz o pesquisador.

Por isto, alinhada ao Plano Nacional de Agroenergia, lançado no dia 14 de outubro de 2005, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e outras 37 instituições de ensino e pesquisa brasileiras elaboram um projeto, no valor R$ 8 milhões, para o desenvolvimento tecnológico de soja. Porém, outras oleaginosas também vêm sendo estudadas, como o girassol, mamona, dendê e canola para produção de biocombustíveis nos próximos quatro anos.

Segundo o líder do projeto, o pesquisador Décio Gazzoni, o uso de fontes renováveis de energia, como é o caso da biomassa para a produção de biocombustíveis é uma das alternativas para substituir a base energética, hoje baseada no uso de combustíveis fósseis. “Além de não renováveis, esses combustíveis aumentam a poluição no ambiente, o aquecimento global e o efeito estufa”, explica o pesquisador. “Na Embrapa o tema possui atenção destacada em razão de que os biocombustíveis empregam como matéria-prima vários produtos agrícolas”, diz.

De acordo com Gazzoni, o projeto pretende estudar a viabilidade, a competitividade e a sustentabilidade das cadeias produtivas de soja, girassol, canola, mamona e dendê, incluindo os co-produtos resultantes destas cadeias na obtenção de biocombustíveis. “A principal questão agora a ser respondida é se estas cadeias produtivas podem se tornar fontes viáveis, competitivas e sustentáveis de biocombustíveis, atualmente e no futuro”, argumenta o pesquisador.

Além do estudo das cadeias produtivas, o projeto pretende gerar e desenvolver tecnologias para o aproveitamento de co-produtos da obtenção de biocombustíveis derivados de óleos vegetais. Outro objetivo do projeto é desenvolver um zoneamento agroecológico de culturas oleaginosas para produção de biocombustível.

De acordo com os estudos da Embrapa Solos, o zoneamento agroecológico é uma ferramenta que permite a divisão de uma grande área geográfica em unidades menores de terra com características similares quanto à aptidão para determinados cultivos, ao potencial de produção e ao impacto ambiental de sua utilização.

A obtenção de biodiesel a partir de óleos vegetais já se encontra largamente utilizada na Europa e nos EUA. Segundo o pesquisador, como os Estados Unidos e os países europeus, o Brasil precisa avançar nas pesquisas para a produção de biodiesel. “O Brasil está entrando relativamente atrasado no estudo e na produção de biodiesel. Ao menos 30 anos atrasado nas pesquisas e 10 anos atrasado na produção. Com isso, o Hemisfério Norte é o detentor do estado da arte tecnológico (em especial EUA e Alemanha). A Alemanha também é o maior produtor mundial de biodiesel, atualmente quase dois bilhões de litros anuais. Entretanto, o Brasil está fadado a ser o maior fornecedor mundial de agroenergia, em especial etanol e biodiesel. Precisamos recuperar o atraso, o que pode nos tomar entre 10 ou 15 anos, porém, as perspectivas de ganho de mercado no médio e longo prazo são extremamente otimistas”, argumenta Gazzoni.

Para se ter uma idéia que, o Brasil precisa correr atrás do prejuízo, por ano o país importa 18% dos 36,8 bilhões de litros de óleo diesel que consome, a um custo de US$ 1,22 bilhões (dados de 2005). Para realizar a substituição do combustível, é necessária a produção de óleo vegetal em larga escala. Uma das possibilidades é o uso da soja, do dendê, da mamona, o que pode representar a expansão dessas culturas em várias regiões. Porém, hoje, o único óleo que atende à demanda industrial é a soja – o Brasil produz mais de 40 milhões de toneladas, nas regiões Centro-Oeste e Sul.

Pesquisas da soja como biodiesel se espalham

O biodiesel é a principal experiência com combustíveis alternativos do Governo. Proveniente da biomassa (aproveitamento dos vegetais, entre eles a soja, o girassol, mamona, entre outras oleaginosas), o “diesel natural”, como também é chamado, é considerado um combustível de queima limpa e pode ser usado para alimentar motores ou com a finalidade de geração de energia elétrica (bioeletricidade).

Com relação à pesquisa da soja como fonte de biodiesel um dos principais aspectos positivo, apontam os pesquisadores, é que o grão tem alta capacidade de resposta a induções de mercado, no curto prazo. Se o mercado exigir a semeadura de mais um milhão de hectares a cada ano, durante os próximos 15 anos, o setor responderá tranquilamente, sem sobressaltos. Outro ponto positivo, é que na técnica da produção de biodiesel a partir da soja já é possível fazer sem a utilização do hexano, um elemento altamente poluidor (o hexano é um líquido inflamável e sem cor, derivado do petróleo. Ele é utilizado tradicionalmente para extrair triglicérides de óleos vegetais a partir da matéria-prima bruta, antes da fabricação do biodiesel). Neste caso, o ciclo de extração é fechado, ou seja, o hexano extrai o óleo da soja, depois o óleo é separado do hexano, que é utilizado novamente para extrair óleo da soja. O hexano nunca é perdido no processo.

“O principal aspecto negativo é que a soja possui baixo teor de óleo, exigindo mais área que outras oleaginosas. Por exemplo, enquanto a soja produz 600kg de óleo por hectare, o dendê produz 6.000kg, o que exige apenas 10% da área para produzir a mesma quantidade de óleo”, conta Gazzoni.

De acordo com o pesquisador da Empresa Soja, Décio Gazzoni, o processo da produção do biodiesel com a soja é simples e se inicia com a extração do óleo, que é a mesma técnica para produzir óleo para uso alimentar. Entretanto, antes da fase final de refino, a linha de produção é “desviada” para produzir energia. “Existem, atualmente, duas rotas para produção de biodiesel”, conta. Segundo ele, a primeira é por transesterificação: provoca-se uma reação química do óleo vegetal com o etanol, auxiliada por catalisadores. Ao final da reação, a glicerina é retirada dos óleos vegetais (óleos são triglicéridos, ou seja, três moléculas de ácidos graxos ligados a uma molécula de glicerina). Isto é importante, porque a glicerina tem baixo poder de combustão, aumenta a viscosidade do óleo e produz substâncias tóxicas durante a queima no motor. O produto final é o biodiesel, que são esteres de ácidos graxos.

A segunda rota é realizada através da junção da parceria da Embrapa Soja com a Universidade de Brasília (UNB) que desenvolveu um novo método para obtenção de biodiesel chamado de “craqueamento”. “A vantagem desse processo, em relação ao método tradicional, é que o produto sai pronto para ser utilizado pelos motores e não há sub-produtos como a glicerina, o que deve facilitar a utilização por pequenos e médios produtores”, avalia Gazzoni. Por craqueamento: o óleo vegetal passa por uma reação de quebra de suas moléculas e refino em uma torre de destilação (semelhante ao que ocorre com o petróleo, nas refinarias da Petrobrás). Deste refino, além do biodiesel, pode ser obtido gasolina, querosene e gás combustível.

Biodiesel da Soja em discussão

Hoje no Brasil sob o ponto de vista técnico, não existem restrições quanto ao uso da soja como biocombustível. Pelo contrário, a fabricação de biodiesel a partir da soja é um assunto muito discutido. De acordo com a Embrapa Soja, as questões que necessitam ser convenientemente encaminhada são de caráter ambiental e comercial. “Do ponto de vista ambiental, a sociedade precisa vigiar de perto o processo de expansão das áreas de soja, para evitar o seu ingresso em sistemas e biomas sensíveis. Do lado do mercado, significa que teremos um aumento sensível do consumo de óleo, implicando em maior produção de torta e farelo, o que demandará a necessidade de ampliar o seu consumo, seja através da alimentação humana ou formulação de rações para animais”, explica o pesquisador.

“O biodiesel é um substituto do óleo diesel de petróleo. O petróleo ficará cada vez mais caro. Esta semana está cotado a US$70,00 por barril. Em cinco anos estará valendo mais de US$100,00. As razões para o aumento de preço são o esgotamento das reservas e as disputas bélicas pelas últimas reservas. O petróleo também tem sido acusado de ser o grande vilão ambiental, que está provocando as mudanças climáticas globais (nevascas, secas, inundações, degelo, furacões, tornados e ondas de frio e de calor), o que tem provocado a exigência da sociedade civil por novas formas de energia não poluentes. O preço de equilíbrio entre biodiesel /diesel de petróleo se ocorre quando o barril de petróleo é vendido a US$60. A esse preço, o barril de óleo vegetal vale tanto quanto o barril de petróleo. Portanto, com o petróleo valendo acima de US$60,00 ao barril, o biodiesel é um bom negócio. Porém, no curto prazo, o preço do petróleo subirá, mas o do óleo vegetal não deverá acompanhar a escalada. Logo, o biodiesel ficará, progressivamente, mais competitivo. Será o grande negócio das próximas décadas”, finaliza o pesquisador Décio Gazzoni.

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