Os muitos avanços tecnológicos que hoje fazem parte do cotidiano das propriedades rurais brasileiras, já permite que os produtores tenham uma maior autonomia no gerenciamento de suas lavouras. Agora, se tem uma coisa que a ciência ainda não conseguiu evoluiu a ponto de ajudar, efetivamente, o homem do campo, é saber com exatidão, quando e onde vão ocorrer as chamadas intempéries climáticas.
A queda de um raio ou de uma tromba d´água, acompanhada de granizo, por exemplo, são catástrofes naturais, que podem acontecer, a qualquer hora, em qualquer lugar, e acabar com uma plantação inteira ou vitimar um animal de grande valor comercial. A falta de meios que garantam um combate contra esses e outros fenômenos da natureza têm levado muita gente a buscar meios, para garantir o retorno da sua produção.
O seguro rural modalidade criada não faz muito tempo, já é uma realidade em grande parte das propriedades de grãos e de criação pecuária pelo país, e agora começa conquistar adeptos também em outros ramos da produção agrícola. A fruticultura que se desenvolve em regiões de clima é mais instável, onde as pancadas de chuvas são freqüentes, essa modalidade de seguro está se tornando muito popular.
E isso porque o granizo que cai, todos os anos, em grande parte das regiões produtoras de frutas do país, sempre a partir do início da primavera, época que está começando a fase da floração e se estende até o término do verão, acompanhando o termino da colheita é causa de perdas substanciais na produção, segundo os especialistas. O seguro nestes casos funciona como um alicerce para o produtor garantir o retorno do seu negócio, destaca Aloísio Góis, gerente comercial agrícola da seguradora Brasileira Rural, empresa que está lançando uma carteira de seguro, voltada, especificamente, para fruticultura. Segundo Góis, “se o produtor não assegurar sua lavoura ele perde todo o seu investimento”.
De acordo com o gerente da seguradora, o segmento de seguro rural sofreu um forte impulso nos últimos anos e está se tornado um dos mais promissores no mercado de seguro de risco, justamente pelo fato de o produtor rural estar mais atento. Mas não é só isso. Esse impulso é resultado de um trabalho de anos na especialização e capacitação dos profissionais do setor para oferecer as melhores e mais flexíveis alternativas na área de seguro agrícola, enfatiza Góis. Para ele, o setor de seguros, de modo geral, é bastante dinâmico e por esse motivo as empresas não deixam de investir em novas tecnologias.
Historicamente o produtor rural sempre enxergou o seguro como um custo a mais e não como investimento para sua lavoura. Esse é um conceito equivocado, segundo o especialista, e que começa a ser mudado graças ao trabalho conjunto do governo do estado de São Paulo, em parceira com os produtores rurais, entidades de classe e seguradoras. A grande maioria dos produtores se preocupa em fazer o seguro do trator, da colhedora, da casa e até mesmo do carro de passeio da família. Agora se esquece de proteger o bem mais importante para a manutenção de todo o resto que é a sua lavoura, lembra Pedro Pellegrini, presidente da associação agrícola de Valinhos e região.
Um levantamento feito pela equipe técnica da seguradora Brasileira Rural, em algumas regiões do estado no ano de 2004, mostrou que o nível de sinistralidade, (dano à lavoura) para a atividade de produção de frutas foi de 300%. Isso na prática significa que o risco para o produtor que não tem sua lavoura assegurada é demasiadamente alto, destaca o gerente comercial da seguradora.
Fundo promete mudar essa realidade
O estado de São Paulo, através da Secretária de Estado da Agricultura, tomou uma dianteira importante com a criação do fundo de subvenção para seguro rural para atender a cadeia da fruticultura. Os fruticultores recebem de volta 50% do valor original pago pela apólice, dinheiro este que está fazendo o número de contratos de seguro, crescer de forma substancial nas propriedades rurais de Campinas e região. O fundo que foi criado em 2003, no seu primeiro ano tinha apenas cinco culturas cobertas. Atualmente, tem a restituição assegurada pelo governo 25 culturas diferentes. Para a safra 2005/06, que começa agora e vai até o final d e abril, maio, a verba prevista no programa é de R$ 30 milhões.
A goiaba é uma das culturas contempladas pelo governo para receber o prêmio. Já os produtores de Figo que ficaram de fora do programa na safra passada, entraram com uma representação para conquistar o direito este ano. De acordo com fontes da Secretaria de Estado da Agricultura de São Paulo, para que os produtores de figo de Valinhos e região comecem a receber o prêmio de seguro agrícola, eles têm de enviar por meio do Conselho Regional de Desenvolvimento Rural uma solicitação formal.
De acordo com o presidente da associação dos produtores isso já está acontecendo e os produtores devem começar a usufruir do benefício a partir desta safra. Ao todo a entidade representa 52 grandes fruticultores e centenas de outras pequenas propriedades de frutas no interior paulista. Atualmente cerca de 10 culturas possuem cobertura pela seguradora, número este que deve crescer na próxima safra se as coisas continuarem mesmo ritmo, segundo o gerente comercial da Brasileira Rural.
Evolução das carteiras é o futuro
O desenvolvimento de um estudo para a criação das apólices de seguro para lavoura de frutas depende, fundamentalmente, da análise de um agrônomo no sentido de dimensione o grau de risco de uma determinada região para a ocorrência de catástrofes naturais. Além disso, a quantidade de produtores envolvidos na mesma área com uma determinada cultura e a destinação final dos frutos são pontos observados pelos técnicos. De acordo com o gerente técnico da seguradora Brasileira Rural o valor de uma apólice dentro do estado de São Paulo pode variar bastante de uma região para outra. Segundo ele, alguns produtores de uva de mesa da região de São Miguel Arcanjo, SP, por exemplo, pagam em média 11% do valor segurado de taxa de sinistralidade. Já na região de Valinhos, também dentro do estado, os produtores pagam entre 5% e 7% para assegurar a mesma lavoura.
No sítio Sebastião que fica localizado na cidade de Itatiba, região próxima a Vinhedo e Valinhos, importante pólo de produção de frutas de mesa da região Sudeste, o produtor José Ortiz, de 61 anos e seu filho Diego Ortiz de 28 anos, tocam uma área de sessenta e quatro mil metros quadrados, plantada com caqui e uva de mesa. A produção está dividida em 3 quadras com uva da variedade niagara e 6 quadras com Caqui da variedade rama forte. Morador da região, desde 1983, o produtor lembra do tempo em que a lavoura não tinha seguro e que era só armar uma chuva para os produtores entrarem em desespero.
Seu José conta que, em 2001, uma chuva de granizo que teve duração 45 minutos, destruiu boa parte da sua lavoura e de outros produtores vizinhos. De lá para cá, a comunidade de fruticultores do bairro do morro aderiu em massa ao seguro da lavoura. “Hoje dá para contar nos dedos os vizinhos que não tem a sua lavoura assegurada”, conclui o produtor.
Para assegura 560 da sua lavoura, seu José Ortiz, gasta, por ano, uma média de 5 mil reais. Investimentos que segundo ele, é muito bem feito pois a tranqüilidade de saber que independente do que aconteça com o tempo, no final da safra seu lucro, mesmo que modesto, está garantido. De acordo com o produtor, a lavoura de caqui está assegurada em 30 mil reais e a de uva em R$ 20 mil. Esse valor é um cálculo sobre os gastos com insumos usados na manutenção e melhorias no pomar.
Na propriedade da família Ortiz acontece uma coisa curiosa e que é uma mostra do papel importante que o estado desempenha na criação de políticas públicas para ajudar os pequenos produtores. Com o dinheiro dos 50% do prêmio de seguro rural, referente à lavoura do caqui, o produtor para o seguro da Uva de mesa, segunda lavoura da propriedade.
Outras opções ao produtor
Além do seguro total da safra, o produtor pode optar por assegurar apenas uma parte do seu investimento como os insumos utilizados naquele ano. Neste caso, o custo final diminui. Os modelos de apólice disponibilizados pelas seguradoras dão cobertura tanto às lavouras destinadas a produzir frutas de mesa como para aquelas que o fruto tem como destino à indústria de alimentos. A cobertura tem início assim que a planta começa a soltar seus primeiros frutos e se estende até o término da colheita. Isso acorre, normalmente, a partir do segundo semestre do ano, período que coincide com o início das chuvas na maioria das regiões produtoras. No caso de ocorrer uma chuva de granizo que danifique o pomar, o produtor assegurado comunica à seguradora a ocorrência do fato e está fará as devidas vistorias para avaliar os danos causados. Após a verificação dos peritos, a empresa de seguros tem um prazo de 30 dias, a contar da data do encerramento da colheita para efetuar o pagamento.
Hoje as apólices só cobrem as culturas a partir da floração fato que está causando controvérsias entre os produtores. De acordo com o presidente da entidade que representa os fruticultores de Valinhos e região o ideal seria que outras culturas pudessem ter uma cobertura já a partir da brotação como já existe na cultura da uva. Góis, no entanto, diz que já existem projetos na Brasileira Rural, em fase de conclusão, para direcionar as apólices nessa direção.