Agricultura

Lavoura “sob tensão”

Entre as principais culturas desenvolvidas nas hortas, por exemplo, estão a alface, catalonia, almeirão, espinafre, couve-flor, rúcula, salsinha, cebolinha, coentro, entre outros. “Tudo da melhor qualidade, fresco é o mais importante sem o uso de agroquímicos”, conta Katsumi Ogawa, 67 anos, que há mais de 10 anos cultiva diversas hortaliças no espaço concedido pela empresa.

De acordo com a diretora de Serviços e Patrimônios da AES Eletropaulo, Maria do Carmo Marini, a empresa é uma concessionária de distribuição de 24 municípios de São Paulo Capital e 23 municípios como um todo. Isto resulta em um espaço de seis milhões de metros quadrados que são destinados a estes serviços. Áreas estas que ficam em baixo de uma faixa de segurança que não podia ser utilizada para construções, por exemplo. O que contribuía ao longo dos anos para invasão de terrenos e, principalmente, áreas de entulhos e lixos. “Na verdade, o projeto de ‘hortas comunitárias’ é antigo, porém, a partir de 2003 a empresa resolveu atuar de forma mais eficaz, abrangente e até como forma de atuação de responsabilidade social. Vimos à possibilidade de aproveitar estas áreas para produzir alimentos para a população carente e gerar, de certa forma, até renda para estas famílias. Por outro lado, à medida que estas famílias cuidavam das hortas, estavam preservando o meio ambiente, nas áreas que eram antes tratadas com lixo e entulho. De fato, foi criada uma parceria entre a empresa e a própria população, que ajuda a cuidar daqueles terrenos, que são nossos. Em outras palavras, entramos com a terra e as pessoas com o trabalho e a produção de alimentos e rendas. Nós queremos estender uma parceria com a população. Mantendo os terrenos limpos e proporcionar uma perspectiva de vida para centenas de famílias”, argumenta a diretora de Patrimônios da AES Eletropaulo, Maria do Carmo Marini.

E hoje, são inúmeras as famílias que tratam dos espaços concedidos pela empresa da AES Eletropaulo. Uma das mãos habilidosas, por exemplo, é a do Sr. Antonio Rodrigues Filho, ex-esportista, aposentado, e que aos 74 anos, cultiva nos seus 300 metros quadrados, plantas medicinais de várias espécies. O Sr. Antonio foi um dos pioneiros no projeto na cidade de São Bernardo do Campo, São Paulo. Ele participa desde a década de 50 e ao longo dos anos viu muitas mudanças acontecerem.”Antes estas áreas só tinha espaço para grandes lixões sanitários e procriação de insetos. Hoje, a realidade é outra, principalmente após a chegada da Associação, que organizou as famílias no planejamento da horta comunitária. Logo que aposentei vim para cá, e agora gasto o tempo, aqui, plantando para o ‘gasto’ da família”, diz. Hoje, seu Antonio coloca em prática tudo o que aprendeu ao longo da vida profissional. “Sei de muitas plantas medicinais e até as cultivo para o tratamento de muitas enfermidades. Aqui só faço remédio caseiro”, diz.

O terreno que o Sr. Antonio planta, está em uma área de quase três km e ainda é dividido em lotes para 100 famílias cadastradas da região, e está localizado sob as Linhas de Transmissão Aérea da Eletropaulo, nas faixas de segurança da avenida Vivaldi, no bairro Rudge Ramos, São Bernardo. E lá também que funciona desde 1984 a sede da AGDS, Associação Global Desenvolvimento Sustentável, hoje responsável pela organização e a divisão das famílias no projeto.

“O objetivo principal da AGDS é fazer destas áreas urbanas um meio de ajudar as pessoas no sentido de aliviar o stress da cidade, ocupar o tempo livre dos aposentados, gerar interatividade entre os produtores, e o melhor, a possibilidade de produzir renda e a questão relevante do impacto causado ao meio ambiente. E por incrível que pareça, o melhor local foi embaixo de rede elétricas, em áreas desocupadas que precisavam ganhar vida”, comenta Nelson Pedrosa, presidente da Associação.

Vida e auto-estima proporcionadas também para o aposentado Darci Simões, que encontrou na agricultura uma forma de passar o tempo. Mais do que isso: reforçou o orçamento da pequena aposentadoria. “Isso aqui para mim é uma terapia”, diz seu Darci, que há sete meses é um dos mais recentes beneficiados pelo programa da Eletropaulo.

A Horta da Responsabilidade Social

Grande parte do que é produzido nas hortas é vendido. Se um produtor não tem o produto outro pode ter e vender. “É um sistema de produção contínua”, diz Nelson Pedrosa. Assim, a freguesia nunca vai embora de mãos vazias. O lucro depende de cada família, mas o preço, a qualidade e a quantidade são tabelados pela Associação. “Tudo que o produtor vende é dele. Precisamos apenas manter uma ordem”, comenta o presidente da Associação.

O serviço da Associação Global Desenvolvimento Sustentável, AGDS, é capacitar as famílias pretendentes às áreas. Num primeiro momento, as famílias recebem sementes, ferramentas, para iniciar o trabalho, e as primeiras noções. “Hoje, existem cursos de capacitação que vão de 10 a 20 horas, para saber noções básicas da instalação da horta, o passo a passo no cultivo da agricultura orgânica e de plantas medicinais. O curso ensina desde a adubação, o manejo sustentado e, principalmente a não utilização de agrotóxicos. Eles aprendem também que qualquer terreno pode ser agricultável. O restante da teoria os próprios produtores aprendem na prática e entre si, trocando experiências das diversas culturas”, revela Nelson Pedrosa.

O espaço mínimo para cada pessoa é de 100 metros quadrados, o que eles chamam de participante comunitário, que utilizam as terras apenas para se abastecer, mas existem famílias que chegam a adquirir de 200 metros quadrados até 4.500 metros quadrados, são os conhecidos produtores comunitários e os principais responsáveis pelo abastecimento do público. O tempo para ficar permanecer com as áreas é indeterminado. A empresa apenas define as renovações nos acordos e realiza uma fiscalização para ver se os terrenos estão sendo direcionados para este tipo de trabalho. “Atualmente, só existem desistência quanto as famílias mudam de região, e muitas delas ainda permanecem vindo, não medidos esforços. Há casos também quando ocorre falecimentos, já que o projeto existe há muito tempo. Mas, sempre temos alguém na fila de espera para participar do projeto, o que é muito bom, para que isto nunca se encerre”, diz.

A utilização das hortas abaixo das redes elétricas da Eletropaulo ganhou grande dimensão. Agora, a Eletropaulo quer expandir o projeto de duas décadas e está procurando novas parcerias para ceder gratuitamente terrenos em comodato nas faixas de segurança, localizadas sob as Linhas de Transmissão Aérea (LTAs). Até agora, foram assinados 1.040 contratos. Atualmente, a distribuidora tem disponíveis 2,9 milhões metros quadrados de terrenos sob 364 quilômetros de linhas de transmissão. As áreas cedidas em comodato somam hoje 3,1 milhões de metros quadrados sob 390 quilômetros de linhas de transmissão. Ao todo, a empresa tem seis milhões metros quadrados de área sob 754 quilômetros de linhas de transmissão.

“Para adquirir qualquer pessoa pode solicitar e o primeiro passo é identificar o local pretendido. Dentro de 30 dias, a AES Eletropaulo faz uma análise técnica e legal. Se a proposta for aprovada, a empresa chamará o interessado para assinar o contrato de posse, que é renovado de cinco em cinco anos”, comenta a diretora de Patrimônio da AES Eletropaulo, Maria do Carmo Marini.

Hoje, na região do Grande ABC, onde existe a atuação da Associação, além dos 145 km disponíveis, outros 83 km já estão ocupados e foram transformados em hortas na região por mais de 300 famílias. Nas cidades de Santo André, São Bernardo e Diadema ainda há áreas para serem cedidas. Já em São Caetano, não há mais terreno disponível.

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