O uso da cana-de-açúcar como alimento complementar na dieta alimentar dos bovinos é uma fórmula que há muito tempo é usada pelos pecuaristas brasileiros, para melhorar as condições nutricionais do rebanho, durante os períodos de estiagem.
Tanto no corte como no leite seu uso é bastante intenso, seja oferecida sozinha na forma in-natura ou consorciada com outras espécies vegetais na forma de silagem.
Na opinião de vários especialistas, essa reserva é a garantia de que o rebanho vai sofre o mínimo possível com a falta de pasto e não vai padecer do temido efeito sanfona, onde os animais emagrecem durante a seca para depois ter de recuperar seu peso no final da primavera, época que voltam as chuvas na maior parte das regiões produtoras do país.
O uso da cana fresca é hoje o mais utilizado pelos produtores principal, mas a grande maioria reclama da trabalheira que é o peão ter de ir ao canavial, pelo menos uma vez por dia, para fazer o corte e depois o transportar a cana-de-açúcar até o lugar onde se encontram os animais. Em alguns casos essas distâncias são bastante grandes e isso gera um custo adicional com a contratação de mão-de-obra ou a compra de maquinários para fazer o serviço.
Na forma de silagem, até pouco tempo, a cana figurava como uma opção quase nula, pois, suas característica de produzir álcool durante o processo de fermentação natural tornava a cultura praticamente inviável. Os animais sofriam irritação nas suas mucosas o que gera um desestimulo ao consumo, gerando perdas diárias que em muito casos chegavam a 80%, dependendo do estágio de fermentação do material, observa Paulo Roberto Soeiro, médico veterinário e gerente da Lallemand Animal Nutrition para o Brasil.
Segundo Soeiro, a descoberta da bactéria Lactobacllus Buchneri, que tem a capacidade de inibir essa produção de álcool no processo de fermentação da cana, está mudando a realidade em muitas fazendas pelo país. “A inoculação das enzimas responsáveis pela formação do álcool garante a preservação da silagem por um período muito maior, sem aquele cheiro desagradável que incomoda os animais”, destaca.
Na opinião do veterinário são muitos os aspectos que vão motivar os pecuaristas a optarem pela cana na formação da silagem. Os números mostram que a cultura ensilada proporciona um volumoso de custo mais baixo e qualidade nutricional satisfatória até mesmo quando comparado com a cana fresca. Os técnicos também observaram uma melhoria no manejo do gado que passa a receber um alimento de maior valor nutritivo e melhor digestibilidade. Por fim, ele diz que o próprio manejo do canavial que fica facilitado, pois só recebe um corte por ano, melhorando de 25% e 30% sua produtividade por corte.
O gerente Lallemand faz um calculo demonstrativo para elucidar a diferença entre o custo de formação de uma tonelada de matéria seca de milho, por exemplo, que tem seu preço em torno de R$ 176,00/ no MS, enquanto que a mesma quantidade de bio-massa de cana-de-açúcar sai em média por R$ 120,00/ton., valor 30% mais em conta. Na colheita mecanizada a diferença por tonelada produzida é ainda maior. O custo cai pela metade, para a casa dos 87,00/ton. O resultado final do estudo mostra que, mesmo tendo que corrigir a diferença nutricional, usando uréia ou sulfato de amônia, a utilização da silagem de cana, tem um custo valor mais em conta na comparação com outros tipos de material.
Mauro Gonçalves, gerente da fazenda Pau D’Alho de São Sebastião do Paraíso, no Sudoeste de Minas Gerais, conta que, está há três anos usando o inoculante SiloMax Cana nos animais da propriedade. O rebanho que está formado por cerca de 20 vacas em lactação, produzindo em média cerca de 15 quilos de leite por dia, durante o inverno foi alimentado com a cana inoculada. Gonçalves, que também é médico veterinário, diz que a produtividade se manteve nos mesmos patamares das águas e, em alguns animais que tem melhor conversão alimentar o resultado com a cana foi superior.
A idéia é ampliar o projeto do Centro de Treinamento Pedro Luiz Cerizze, transformando o local numa espécie de escola técnica de formação profissional. A propriedade de 60 alqueires vai começar a investir em tecnologias para reprodução animal e já estão esperando a chegada de um lote de embriões da raça Gir Leiteiro. De acordo os diretores da Matsuda Minas, Leonardo Cerizze, pai e filho, a idéia é que os projetos sejam implantados aos poucos. ” Nós já estamos buscando parcerias com empresas do setor e com bancos para tentar viabilizar os projetos”, destaca o empresário. “Tem projeto que só deve ficar concluído em 2008”, conclui.
Francisco José Tonin, proprietário da fazenda Santa Luzia, também em São Sebastião do Paraíso, MG, atesta a eficiência da bactéria inoculante na conservação da silagem de cana-de-açúcar. O produtor que mantém um plantel de cria, com cerca de 350 bezerros Nelore, mais um lote de vacas para produção leiteira é enfático ao dizer que a bactéria Lactobacillus Bochner, é um divisor de águas na produção pecuária, praticada em sistema de semi-confinamento. “Antes era impraticável usar cana-de-açúcar na alimentação do gado, a não ser que fosse colhida na hora”, conclui.
Tecnologia é apresentada em dia de campo
O dia de campo para produtores realizado pela Matsuda, empresa de sementes e nutrição animal, junto com a Lallemand Animal Nutrition, serviu para apresentar essas e outras novidades na área da nutrição animal. Os mais de 100 pecuaristas que se reuniram na sede da fazenda Pau D’Alho, em São Sebastião do Paraíso, MG assistiram à apresentação de palestras e puderam ver in-loco os resultados de uma série de experimentos, entre eles, o inoculante para cana-de-açúcar Lalsil e o inoculante Silo Max Centurion, usado para silagem de milho, sorgo e outras forrageiras.
Vários produtores de leite do Sudoeste, MG, puderem conferir a diferença qualitativa entre as silagens de capim e cana-de-açúcar, inoculadas e outro material ensilado no processo convencional. De acordo com a equipe técnica da empresas envolvidas a diferença do material pode ser percebida de diferentes formas. A coloração mais escura e o forte cheiro de álcool são os principais indicativos da ação do tempo sobre o material, explica Arthur Tavares, médico veterinário e distribuidor do produto Lalsil Cana para o estado e São Paulo. “Mesmo que o animal coma a silagem após a evaporação do álcool, a perda nutricional já terá ocorrido”, destaca.
O encontro serviu também que os produtores da região pudessem conhecer as novas variedades de espécies forrageiras oferecidas pela Matsuda Sementes e Nutrição Animal. Luiz Sérgio Márquez, produtor rural e diretor administrativo do Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil, SICOOB, ligada a Cooperativa de Crédito do Sudoeste Mineiro e Norte Paulista, diz ser muito importante um evento técnico para produtores rurais naquela região que é muito carente de informações.
Para Marquez, a desinformação é o principal problema da produção agrícola no país. A quantidade de projetos que não são tocados para frentes, simplesmente, porque as pessoas não ficam sabendo é imensa. O produtor defende o crédito cooperativo, pois, segundo ele, as cooperativas de crédito oferecem basicamente os mesmos serviços dos bancos estatais e privados, só que com a diferença de ser uma instituição formada por produtores rurais e que conhecem as dificuldades vividas no campo.
A fazenda tem ainda uma lavoura experimental de cana-forrageira, variedade desenvolvida pelo Instituto Agronômico de Campinas, IAC, junto com os técnicos da Matsuda Sementes. De acordo com o pesquisador do IAC, Ivan Antônio dos Anjos, a cana forrageira apresenta características que faz dela uma opção mais interessante para o uso na alimentação do gado. Os estudos foram no sentido de desenvolver uma cana menos fibrosa e com uma maior quantidade de massa seca. Além disso, houve a preocupação em facilitar o manejo do canavial no processo de colheita. De acordo com o técnico do IAC, o aumento na procura pela cana forrageira tem sido grande em todas as regiões do país. A facilidade de adaptação da planta e a reposta dos animais são apontados como os principais responsáveis, ressalta.