Avicultura

A vez do “frango verde”

Atualmente, a palavra de ordem do setor de produção de alimentos por todo o mundo é: segurança. Neste universo, os produtos naturais deixaram de meros “figurantes” e cada vez mais “abocanham” a preferência dos consumidores exigentes, quando o assunto é: o que se põe à mesa. Esta tendência, segundos especialistas, partiu lá na Europa e hoje se alastra por todos os países, inclusive no Brasil.

Preocupados, os consumidores exigiram a garantia da qualidade dos produtos que retiravam das gôndolas dos supermercados, e os produtores buscaram uma filosofia de absoluto e total respeito à natureza e ao ser humano. E juntos, eles encontraram alternativas viáveis, buscando o mercado da agricultura natural.

Diferentemente de alguns anos, hoje é possível encontrar sim, alimentos naturais para montar os mais variados cardápios. Frutas, verduras, legumes, ovos, sucos e até mesmo vinhos, são hoje produzidos em larga escala para atender uma demanda cada vez maior.

“Agora a realidade é outra”, diz Fernando Augusto de Souza, gerente-geral da Korin Agropecuária, uma empresa brasileira ligada à Igreja Messiânica Mundial e que utiliza os preceitos de agricultura natural, preconizados pelo pensador japonês Mokiti Okada, de absoluto e total respeito à natureza.

A Korin Agropecuária, localizada no município de Ipeúna (a 180 km de São Paulo), é pioneira na criação de frangos conhecidos como alternativos ou verdes sem uso de antibióticos, anticoccidianos, promotores de crescimento e quimioterápicos. Associada à AVAL – Associação da Avicultura Alternativa (entidade dedicada ao incentivo da normatização da produção avícola alternativa, com tecnologias adequadas, respeitando a saúde humana e o bem-estar animal), a empresa, que atua no mercado há seis anos, ensina aos avicultores que a saúde e o desempenho dos animais são conseguidos através de princípios naturais: extrato de plantas, óleos, essências e micro-organismos benéficos conhecidos como probióticos.

Através desta filosofia, cada produtor aprende desde o manejo correto até respeitar o ciclo de vida natural de cada ave, que varia entre 49 e 52 dias. “A ração oferecida às aves, por exemplo, é especialmente formulada pelos nutricionistas em fábricas próprias da Korin. Esta é uma forma encontrada para garantir quanto a não inclusão de substâncias químicas e ingredientes animal. Elas são de origem 560 vegetal, e é composta em sua maior proporção por milho e farelo de soja. Aqui, não se usam ingredientes de origem animal, tais como farinha de carne, farinha de penas, farinha de vísceras e farinha de sangue”, afirma Evandro Possamai, supervisor de produção animal da Korin.

Ele explica que os métodos de criação da empresa são revolucionários. E lembra, que no começo tudo foi difícil, porque não havia produtos nem profissionais especializados nesta área. A produtividade no início era muito ruim. “E o nosso modelo era visto com muita desconfiança”, ressalta Evandro Possamai.

No entanto, a realidade agora é outra. “Hoje, o carro-chefe da empresa, os frangos, são os mais conhecidos e é um alimento natural que reúne o ideal e o anseio de muitos consumidores que buscam uma vida saudável”, conta. Segundo especialistas, os alimentos orgânicos são menos prejudiciais à saúde que os convencionais. Eles são mais nutritivos e apresenta maior conteúdo de cálcio e sais minerais. Por essas e outras vantagens, muitos consumidores já descobriram os benefícios da agricultura natural. Tanto, que o consumo desta linha de produtos cresce cerca de 30% ao ano.

Sistema de Produção

Hoje, a Korin abate seis mil aves diariamente, que são criadas em sistema de integração com 13 criadores da região, localizados em um raio de 50 km da sede, divididos entre os municípios de São Pedro, Charqueada e Rio Claro, interior paulista. As aves criadas em galpões são separadas entre machos e fêmeas. “Tudo para garantir o bem-estar das aves. Procuramos por um sistema mais de acordo com as leis da natureza. O ideal seria criar as aves soltas, mas isso não é viável para uma produção em grande escala”, afirma Fernando Augusto de Souza, gerente-geral da Korin.

No entanto, de acordo com o supervisor de produção animal, Evandro Possamai, o caminho para se chegar aos métodos alternativos de criação não foi fácil. “Os primeiros resultados foram muito ruins, com mortalidade e custos elevados”, recorda. Mas, agora a realidade é outra. “Hoje, se conseguimos uma boa conversão alimentar, os resultados vem logo atrás”, conta o avicultor, da cidade de Rio Claro, Antonio Corrocher, 48 anos, e que há quatro anos é um integrado da Korin. De acordo com ele, que tem em sua propriedade 25 mil aves, por cada uma entregue à empresa, o pagamento gira em torno de R$ 0,31 centavos.

Em torno de 50 dias de vida, ou até menos já que se consegue maior peso em menos dias, atingindo média de peso vivo de 2,42 quilos (a um custo de produção do frango vivo que se calcula ser pelo menos 20% mais alto do que uma produção convencional) os frangos, do seu Corrocher, são levados para a empresa e abatidos.

Embalados trazem a inscrição “criados sem antibióticos e promotores de crescimento”. Atualmente, a Korin já oferece no mercado os frangos resfriados (inteiros e em cortes) e congelados que são ofertados em lojas de produtos naturais, mas também estão hoje presentes em grandes supermercados, da Capital e até de outros Estados, como Rio de Janeiro, Curitiba e Brasília.

Manejo Redobrado

Na criação de frangos verde, a conversão alimentar é muito importante. “Sem bons pintinhos e boa ração, aliada a um bom manejo, não há grande produtividade”, diz o supervisor de produção animal, Evandro Possamai. Na recepção do milho, por exemplo, a máquina de limpeza deve separar, eventuais grãos de milho quebrados, e outras impurezas antes do armazenamento pois estes resíduos aumenta a probabilidade de contaminação por micotoxinas, que deprimem o sistema imunológico do plantel. A dieta das aves é complementada com vitaminas e mineral, mas não inclui ingredientes de origem animal.

No lugar dos antibióticos e dos promotores de crescimento (que, na verdade, também são antibióticos), os frangos recebem os probióticos. Os primeiros são fornecidos às aves para eliminar bactérias patogênicas, mas podem destruir as bactérias que atuam em sua defesa ou ainda favorecer o aparecimento de organismos resistentes a esses mesmos produtos. Os probióticos, por sua vez, agem de forma diversa: micro-organismos “do bem” (como, por exemplo, os lactobacilos), eles são ministrados às aves para colonizar seu trato intestinal, e assim combater os agentes nocivos. Além de lactobacilos, os frangos da Korin recebem ainda prebióticos, que podem ser definidos como um alimento para os micro-organismos que favorecem o equilíbrio intestinal das aves.

Os quimioterápicos como os anticoccidianos também ficam de fora do manejo do frango. A coccidiose, causada pelo protozoário eiméria, é uma das mais graves doenças que podem afetar as criações de frango, provocando diarréias tão severas que às vezes se tornam hemorrágicas. As aves produzidas pela Korin recebem, em vez de anticoccidianos (que são similares a antibióticos), uma vacina contra a coccidiose. Além dessa vacina, as aves da Korin recebem imunização contra as doenças de Gumboro e Marek. “Um manejo alternativo que exige dos integrados maior dedicação à criação. No sistema convencional permite que sejam feitas algumas correções ao longo do ciclo, o que já não acontece aqui”, explica o avicultor Antonio Corrocher.

Além disso, o controle da qualidade da água é tão importante quanto o da ração, exigindo, por exemplo, que os criadores confiram pelo menos duas vezes ao dia as condições de limpeza de bebedouros. “Os integrados têm uma lista de procedimentos que devem ser adotados, como checagem do estado e regulagem de equipamentos, e recebem pelo menos uma visita semanal dos técnicos da empresa”, afirma o supervisor de produção animal.

Preço e Mercado na Agricultura Natural

Em um ponto todos concordam. Produzir frango natural ainda é mais caro, principalmente porque a escala de produção é bem menor e o custo da ração é elevado. “Com relação ao preço, há uma tendência em se pagar mais por estes produtos. O custo pode variar de 10 a 20% a mais do que o convencional. Mas, hoje caminhamos para uma produção que poderá ter um padrão de produção melhor ou igual ao que utiliza produtos químicos”, argumenta Evandro Possamai, supervisor de produção animal.

Apesar do preço, o consumidor ganha nas vantagens. O frango verde tem uma hidratação controlada abaixo do limite legal de 8% e são embalados sem cabeça, é o mais importante para não agregar peso. Talvez por isto, os produtos naturais têm grande aceitação no mercado externo. Tanto, que cerca de 80% da produção nacional de produtos orgânicos são destinadas à exportação. E o interesse de estrangeiros pela agricultura natural brasileira é confirmada. Segundo Evandro Possamai, produtores e técnicos de outros países visitam regularmente as instalações da fazenda da Korin.

Além do frango

O frango, no entanto, não é o único produto da Korin. Hoje, a agropecuária é responsável por 64 tipos de produtos agrícolas, além do composto orgânico chamado Bokashi, recomendado para a recuperação do solo. Além disso, desde 1997, o Grupo Korin, que possui duas fazendas, uma em Ipeúna e outra em Atibaia, tem um instituto de pesquisa que foi criado com o intuito de assegurar a oferta de produtos naturais zelando pela viabilidade dos produtores e a estrita observância das normas de produção. Com isso, a produção artesanal de alimentos naturais ganhou ares de indústria e o slogan: “Sua vida com mais saúde”. Atualmente, o grupo produz mensalmente 300 toneladas de frango verde ou natural e 200 toneladas da linha FLV (frutas, verduras e legumes).

Os principais objetivos da agricultura natural são:

• Produzir alimentos que incrementem cada vez mais a saúde do homem;
• Recuperar o equilíbrio e propriedades do solo, da planta, do animal e do meio ambiente;
• Ser espiritual e economicamente vantajosa tanto para o produtor quanto para o consumidor;
• Ser praticada por qualquer pessoa, até em casa e pequenos sítios. Além disso, ter caráter permanente;
• Respeitar a natureza e conservá-la;
• Garantir alimentação para toda a humanidade independente do crescimento demográfico.

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