Segundo o pesquisador da Embrapa Cerrados Júlio César Albrecht, as novas variedades são produtivas e de ótima qualidade industrial, foram desenvolvidas conforme os padrões exigidos pelo mercado, para que os produtores tenham boa liquidez do produto na hora da comercialização.
A produtividade da BRS 254, à nível de experimento, chega a 6.500 quilos por hectare. Nas áreas experimentais, a BRS 264 alcança produtividade de 7.500 quilos por hectare. Nos experimentos, a produtividade da BRS 264 é em torno de 15% superior as variedades mais plantadas, a Embrapa 22 e Embrapa 42, enquanto a BRS 254 é 9% mais produtiva que essas variedades mais plantadas.
Outra característica da BRS 264 é a precocidade. O período entre emergência e espigamento é de 50 dias, e da emergência à maturação é de 108 dias. Com a BRS 254, o período de emergência ao espigamento dura em média 55 dias, e da emergência à maturação em média 115 dias, semelhante a Embrapa 22 e Embrapa 42.
A variedade BRS 254 é proveniente do cruzamento da Embrapa 22 com a cultivar Anahuac. A BRS 264 é originada do cruzamento das cultivares Buckbuck, Chiroca e Tui. Ainda em relação às características agronômicas, a BRS 254 tem altura média de 86 centímetros, enquanto que a altura da BRS 264 é de 90 centímetros. Ambas têm coloração do grão vermelho escuro e duros, que são exigências do mercado.
Em termos de classificação comercial, a BRS 254 é um trigo classificado como melhorador, com alta força de glúten, é em média 330x 10 -4J, variando entre 297 a 383 x10 -4 J, podendo ser utilizada na fabricação de massas alimentícias, bolacha tipo água e sal, pão industrial (pão de forma) e mesclada com trigos brandos para fins de panificação. A BRS 264 é classificada como trigo pão, com alta força de glúten em média 250×10 -4 J, com uma variação observada entre 200 a 314x 10 -4 J, também utilizada na panificação, fabricação de massas alimentícias e pão industrial.
Outra característica importante para a industria é o peso hectolitro (kg/hl), quanto maior o peso, maior o rendimento da farinha. A BRS 254 e a BRS 264 têm peso hectolitro, em média, 81. O peso de 1.000 sementes da BRS 254 é em média de 39 g e o da BRS 264 é de 38 g. O teor de proteína da BRS 254 é em média 11.4% e o da BRS 264 é de 11%, com variação de 9 a 12%. O rendimento industrial da BRS 254 é em média de 62.2% (base 14% de umidade) e da BRS 264 em média de 66.4% (base 14% de umidade).
As novas variedades são indicadas para altitudes superiores a 500 metros. A época de semeadura do trigo irrigado é entre 10 de abril e 30 de maio, a profundidade de semeadura é em torno de 5 cm, o espaçamento é de 17 centímetros, entre fileiras, e a densidade de 270 a 350 sementes aptas por metro quadrado.
Trigo na região do Cerrado
A área plantada de trigo irrigado na região do Cerrado é em torno de 60 mil hectares, que produz aproximadamente 5% da produção nacional. De acordo com Júlio Albrecht, a cadeia produtiva do trigo na região tem potencial para produzir de 15 a 25% do trigo consumido no País. O trigo é uma opção importante para agricultura irrigada da região, por possibilitar a rotação de cultura com as leguminosas, como o feijão que é a cultura mais plantada pelos irrigantes, e com as hortaliças (alho, cebola, batata, tomate e cenoura). Os agricultores perceberam que o trigo é uma excelente alternativa para o seu sistema de produção.
O pesquisador da Embrapa Cerrados explica que como o trigo é uma gramínea, a cultura entra no sistema de produção irrigado para quebrar o ciclo de doenças das leguminosas, principalmente os fungos de solo.
Apesar dos baixos preços da comercialização do trigo este ano, a cultura ainda é rentável pela sua alta produtividade. Como o trigo do Cerrado é o primeiro a ser colhido no Brasil (entre os meses de agosto e setembro) e de excelente qualidade industrial, os preços são melhores que os praticados no sul do país.
Os custos de produção este ano estão em média em torno de R$ 1.600 por hectare, mantendo-se próximo aos valores do ano passado. Atualmente, o trigo está sendo comercializado entre R$ 26,00 a R$ 27,00 por saco (de 60 quilos), semelhante aos valores praticados em 2004.
A conjuntura da cadeia produtiva de trigo exige, do setor como um todo, maior integração desde a porteira até a indústria moageira. A Embrapa vem trabalhando no sentido de atuar mais intensamente com a cadeia produtiva de trigo na região do Cerrado, melhorar as relações entre seus integrantes, que na maioria das ocasiões não se conhecem. Ao mesmo tempo, a pesquisa vem procurando ajustar a criação de cultivares à nova realidade de mercado, com maior competitividade e melhor regionalizadas.