Pecuária

Saúde: o poder da invermectina

Para Edson Bordin, médico veterinário e patologista, guardando-se as devidas proporções essa comparação não é absurda. A diferença é que a penicilina se situa no início da era de controle das doenças bacterianas humanas, e a ivermectina se situa como uma das últimas moléculas desenvolvidas para o controle dos parasitos animais. Curiosamente, são ambos produtos de fermentação. Bordin fala ainda que, basicamente, o sucesso da ivermectina se deu a partir do uso de produtos que caíram no gosto do pecuarista. Segundo ele, essa molécula demonstrou absoluta eficácia sobre parasitos, quer sejam externos ou internos, e tornou as demais formulações existentes como convencionais.

Perguntado sobre, se o uso da ivermectina, em larga escala e contínuo no rebanho bovino, não pode promover uma resistência dos parasitas ao princípio ativo do medicamento? O especialista diz que não, desde que utilizado como parte de um programa de controle no qual a exposição droga/parasito seja pequena e controlada. Agora, ele explica, como a resistência é um fenômeno biológico, considerado inevitável, quanto mais se usa uma droga, maiores a sua exposição aos agentes do meio, e nessas circunstâncias, maiores as chances de eventual resistência.

Bordin conta que isso ocorreu durante certo tempo com o mercado de ovinos. Entre bovinos é ainda bastante incipiente, diz ele. “O controle parasitário exige um protocolo técnico-científico, com o qual se prevê essas possibilidades”.

Uma analise sobre o percentual do rebanho bovino brasileiro que usa a invermectina regularmente, mostra que o número de animais ainda é pequeno, basicamente, animais novos entre o desmame e os 24 meses de idade, no caso da pecuária de corte.

A falsificação da ivermectina, nos últimos anos, é um problema que precisou ser combatido pelas autoridades brasileiras. Nos últimos dois ou três a quantidade de produtos piratas surgidos foi imensa. De acordo com o técnico, isso não chega ser um problema como já o foi no passado. Segundo ele, há imensa oferta de ivermectinas no mercado e com preços bastante acessíveis. A indagação é quanto à qualidade dessas matérias primas bem como dos produtos finais.

O fato de o país ainda não ter uma legislação específica aplicada ao setor de genéricos/similares, como ocorre com genéricos humanos, influi potencialmente nesse aspecto. Assim, o patologista prefere não emitir uma opinião fechada se genéricos e similares são bons produtos ou não, apenas considera o fato de que, em termos realmente efetivo, não há instrumento que ateste indubitavelmente o nível de eficiência dessas moléculas. “Talvez seja interessante que o produtor exija do fabricante um laudo técnico que efetivamente situe o percentual da molécula na formulação, a proporção entre os análogos e o nível de impurezas, etc. Evidentemente, espera-se que cada fabricante esteja preparado para atender esse questionamento por parte do produtor”. “Essa comprovação de qualidade é fator que deveria ser exigido com maior rigor a partir do próprio registro de produtos no Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, MAPA e posteriormente através da fiscalização”, conclui.

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