Eventos

Expointer 2005: chuva, que faltou no ano, castigou a feira!

O frio intenso que não deu trégua não chegou a ser considerado um problema pelos visitantes, um público já bastante acostumado às baixas temperaturas.

As modificações na infra-estrutura do parque de exposições para receber a imprensa, o novo pavilhão que recebeu a agricultura familiar, a pista para receber o julgamento de animais rústicos, além da estrutura para o tradicional concurso Freio de Ouro, deram à feira um ar bastante democrático. Para o governador do estado, Germano Rigoto a maior parte dos custos vieram da iniciativa privada, através de parcerias e convênios. Rigoto disse ainda que o investimento total desta edição, ficou entre R$ 4 milhões e R5 milhões.

Agricultura familiar conquista seu espaço

O espaço da agricultura familiar reuniu dentro de uma área de 4,2 mil m², 44 bancas, além de um restaurante onde diferentes entidades que representam os pequenos agricultores do país puderam expor seus produtos e serviços, como é o caso do produtor de vinho orgânico da cidade de Garibaldi no extremo sul do estado e presidente da Cooperativa dos produtores ecologistas Jorge Luis Mariani. Para Mariani, a Expointer é uma oportunidade de mostrar, num grande centro de comércio, um pouco do seu trabalho.

O produtor que mantém um trabalho à frente de uma comunidade de pequenos produtores diz que a maior dificuldade enfrentada, no momento, é a colocação dos produtos no mercado. “Os órgãos que regulam a vigilância e inspeção sanitária não nos conferem o certificado de inspeção para comercializar fora da nossa localidade”. Para Ezídio Pinheiro, presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no RS, FETAG, entidade com 452 sindicatos rurais filiados, um setor que reúne somente no estado gaúcho, um contingente de cerca de 396 mil famílias de pequenos produtores, o que somado, congrega um contingente de mais de 1,5 milhão de trabalhadores, produzindo, desde artesanato até vinhos e queijos especiais, se responsabiliza por mais de 50% da produção de bens agrícolas de consumo familiar diário, na região, não pode se ver numa situação desta frente às autoridades dos governos do estado e federal.

Segundo ele, por uma questão unicamente de protocolo sanitário, os produtores já bastante penalizados por outros problemas de políticas públicas, não podem vender sua produção fora de suas localidades. “O SIF, Serviço de Inspeção Federal, órgão responsável por fazer esse controle deveria realizar as visitas nas propriedades e liberar o comércio desses produtos para outras regiões”, conclui.

Alberto Ercílio Broch, vice-presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura do Brasil, CONTAG, comunga da mesma visão do representante maior da Fetag e vai além nas críticas ao governo federal. Segundo Broch, a falta de uma legislação especifica que atenda as necessidades do pequeno produtor, faz com que inúmeros projetos apodreçam nas gavetas por falta de viabilidade legal. Para ele, o caminho para tentar equacionar esse problema seria montar uma bancada ruralista dentro do legislativo, preocupada, exclusivamente, com a agricultura familiar.

Indústria se mantém cautelosa

O setor agroindustrial, por sua vez, sente nas vendas os impactos de uma crise que atingiu em cheio, no último terço do ano passado, diferentes segmentos da produção agrícola do país. Como boa parte, mais de 70%, das vendas de máquinas e insumos para uso na agricultura, foram comercializados através das linhas de financiamento do governo, Moderfrota, Moderagro, Moderinfra, entre outros, as perdas decorrentes da seca prolongada, do câmbio, que sofreu redução de mais de 60%, causaram um endividamento do produtor, nunca visto antes na história da atividade rural. Esse quadro desfavorável deixou muito agricultor a beira da falência e precisando renegociar suas dividas junto aos bancos e cooperativas de crédito.

Na opinião de vários representantes de empresas que estiveram presentes na Expointer não cabe ao setor empresarial assumir sozinho o ônus da crise. Jalsomir Bruneto gerente técnico da Semeato, empresa que atua no fornecimento plantadeiras ao setor diz que a indústria está fazendo, mesmo que a contra gosto, os ajustes necessários para garantir o andamento do setor. Para Brunetto,o momento é de cautela para a próxima safra, mas acredita numa virada do setor para 2006. “A redução nas vendas foi significativa, e isso porque atuamos nos segmentos mais atingido pela crise que é a produção de grãos, soja, milho, trigo e arroz, porém isso não deve permanecer”. A empresa recebeu o troféu Ouro na categoria destaque do Prêmio “Melhores da Terra”, oferecido pelo Grupo Gerdau com a semeadora-adubadora de plantio direto “Personale Drill”. Para o representante técnico a premiação é o reconhecimento do produtor que comprou o produto no ano passado e respondeu a pesquisa de forma favorável.

Epitácio Brazotto, executivo de marketing do grupo Fockink, de Panambi, RS, mostra projeções otimistas para o setor lácteo que, segundo ele, deve apresentar excelente índices de produção. Para Barzotto o uso de tecnologias como o pivô central trará um novo salto para o segmento que deve melhorar, inclusive, a qualidade do leite tornando o produto brasileiro mais próximo da realidade dos países exportadores.

A força do produtor gaúcho

Para os produtores rurais gaúchos que trouxeram seus animais para expor o clima é de resignação por parte de alguns e indignação de outros que se dizem reféns da atual situação política e econômica do país.A ovinocultura gaúcha , por exemplo, após amargar quase uma década de resultados ruins, com o preço da lã, o caminho foi re-adequar sua produção. A carne antes olhada como sub-produto figura como principal produto de comércio para os criadores, inclusive, de raças laneiras. Para muito a produção atual do estado é insuficiente para atender uma demanda que apara de crescer, sobretudo nos estados do Sudeste. Álvaro Lima da Silva presidente da Fecolã, Federação das Cooperativas de Lã do Brasil fala do passado do setor com ar despreocupado. A situação hoje é bem diferente de outras épocas onde o ovinocultor era obrigado a liquidar seu plantel para pagar as contas. “A lã é comercializada no mercado em forma commoditie, e por isso quem determina o preço é o mercado que sofreu uma inundação de produto industrial, sintético, de custo bem mais baixo”.

Valdomiro Poliselli da VPJ agropecuária, criador de ovinos da raça Dorper, no interior de São Paulo fala com entusiasmo do segmento. O projeto de ovinos da VPJ que nasceu há alguns anos, vem crescendo de forma vertiginosa, explica o criador. “Hoje, são abatidas na central de beneficiamento cerca de 600 cabeças por mês o que gera uma produção de 10 toneladas”, enfatiza o criador. “A idéia é dobra essa produção para o próximo ano”. Para isso a VPJ está buscando parcerias com produtores do Sul do país levando 30 reprodutores White Dorper para o município de Bagé, na cerra gaúcha, para que produtores possam incorpora-los ao plantel. Com isso eles esperam dar um ‘up-grade’ na produção de carne de ovino na região além de chegar na meta estabelecida para 2006.

Fernando Rodrigues Afonso, criador no município de Jaguarão, quase na fronteira com o Uruguai também aposta na carne como a saída para a ovinocultura gaúcha. Afonso lembra com saudades dos tempos áureos onde produzir lã era motivo de orgulho e status para eles. “O Rio Grande do Sul sempre foi um importante pólo para a ovinocultura brasileira. Em outras épocas a região tinha 20 cooperativas de produtores muito bem organizados”, lembra. O produtor conta que, com o advento da lã sintética muito produtor se viu obrigado a deixa de lado seu oficio, o que para muitas famílias era motivo de grande tristeza. “Atualmente o estado conta com apenas três grandes cooperativas, uma delas a Mauá, presidida por mim, com 450 associados de 17 municípios gaúchos”, conclui.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *