De acordo com o engenheiro agrônomo e consultor agrícola Luiz Albino Bonamigo, com a intensificação da atividade agrícola no país verificou-se uma diminuição gradativa da oferta de áreas férteis para cultivo. Esse fato pressionou os custos fixos de implantação das principais lavouras comerciais, problema que afetou mais diretamente os pequenos agricultores das regiões Sul e Sudeste do país, obrigando muita gente a pegar suas famílias e migrarem para outras regiões, onde a terra tinha valor mais acessível.
Nesse contexto, explica Bonamigo, milhares de agricultores principalmente do Sul do país, migraram para regiões pouco conhecidas da pesquisa e que apresentava condições de solo, arenosos, pouco indicados para a agricultura. Em alguns casos chegou-se a encontrar áreas com níveis de argila abaixo de 8% (índice mínimo estabelecido pela Embrapa para que uma área possa ser considerada agricultável) e esse foi o maior desafio que o SPD enfrentou e ainda enfrenta que é a criação e desenvolvimento de tecnologias que aumentassem as opções de cobertura vegetal para o solo, possibilitando uma atividade agrícola de menor risco e, portanto, mais estável, enfatiza o consultor.
“A semeadura nessas áreas de cerrado tem se mostrado um desafio e uma preocupação constante para agrônomos e técnicos agrícolas. Alguns fatores como a carência de macro e micro nutrientes, a desagregação dos terrenos causada pelos baixos níveis de argila na composição do solo e ainda o problema do clima que tem duas estações de chuva e seca, muito bem definidas. Essa tríade de fatores ambientais, que se repetem ano após ano, tiram o sono do agricultor”.
Monocultura do milheto é motivo de polêmica
Nos últimos dez anos o milheto tem sido a cultura mais utilizada pelos agricultores como cultura para formação de palhada, figurando, portanto, como um cultivo de grande importância para a estruturação e estabilidade dos sistemas de plantio nas regiões tropicais brasileiras. Atualmente estima-se que esta cultura ocupe uma área entre 3 e 4 milhões de hectares, em todas as regiões do país. Segundo Bonamigo, o uso em grande escala do milheto como cobertura secundária tem sua justificativa pela rapidez inicial de crescimento, menor necessidade de água em relação às outras espécies, o que proporciona sua semeadura em condições climáticas menos favoráveis, inclusive, em períodos de veranico. “Além da baixa exigência quanto à fertilidade do solo fácil mecanização desde a semeadura até a colheita, assim como o manejo facilitado à cultura oferece farta produção de massa verde, superior a todas as outras, mesmo em condições de restrições hídricas severas”.
Já na contra-mão dessas afirmações vários especialistas vêem condenando a monocultura do milheto alegando que tal pratica pode se prejudicial pela baixa oferta de nutrientes que a cultura, sozinha, pode depositar no solo. Outro dado é o aumento na incidência de pragas e doenças de solo e parte aérea das plantas, logo na fase de emergência da culturas de verão, fato que denota uma baixa resistência do solo contra esses agentes.
Evaldo Kazushi Takizawa, engenheiro agrônomo e consultor agrícola para melhores praticas de manejo, da Ceres Consultoria Agrícola, de Maringá, MT, diz que é muito difícil para as regiões de cerrado, onde o calor é forte e existem longos períodos de estiagem, conseguir uma espécie vegetal que garanta um cobertura do solo satisfatória. Sendo assim, é muito importante se fazer um preparo do solo antes da implantação do PD. O agricultor tem várias opções de cultura para cobertura de solo, inclusive, variedades adaptadas à realidade brasileira. Dessa forma o país ganha tempo no trabalho de melhoramento genético das culturas e ainda aumenta a produtividade das culturas. “A cobertura vegetal é o banco de nutrientes das plantas e dos organismos que vivem no solo. Por isso, a cultura de cobertura deve ser tratada como cultura prioritária e não de forma marginal”, conclui.
Carlos Roberto Spehar, pesquisador da Embrapa Cerrados, de Planaltina, DF, diz que é fundamental que o agricultor escolha dentro das muitas opções, aquelas que tenham um apelo comercial. Segundo Spehar, as pesquisas já mostram uma gama enorme de culturas que poderiam estar sendo melhor utilizadas. “Espécies como: Amaranto, Kenaf, Gergelin, as crotalárias, o nabo forrageiro e as leguminosas Guandu, utilizadas, juntamente ao sorgo e o próprio milheto, podem ser utilizadas em consórcio ou em rotação com as culturas principais, soja, milho, trigo, algodão, arroz, cevada, entre outras”.
Integração Lavoura – Pecuária garante sustentabilidade
O programa de Integração lavoura pecuária tem despertado, cada vez mais, o interesse de agricultores interessados em diversificar seus sistemas de produção. A consorciação de espécies forrageiras e leguminosas, de origens diversas, em sistema de consórcio ou rotação anual vem servindo como um forte aliado no combate a degradação e problemas advindos da ação de patógenos e insetos-pragas nas lavouras.
A Embrapa Arroz e Feijão, de Santo Antônio de Goiás, GO, mantém dentro de uma área de 100 hectares que compõem o campo experimental do projeto de Integração Lavoura Pecuária ( PIPL) seis talhões onde segue-se rotação de lavouras e pasto de acordo com esquemas de rotação e ocupação. No verão metade da área experimental é ocupada por gramíneas forrageiras e metade com lavouras. Já na seca, a predominância é da atividade pecuária. De acordo com os técnicos da Unidade Arroz e Feijão, os resultados econômicos desse projeto ILP no ano agrícola 2003/04 foram positivos, com lotação média de 3,25 UA e produção de carne de 52 arrobas de carne/ha/ano, sendo que a média da pecuária nacional é de 2 UA e próximo de 30 arrobas carne/ha/ano.
Desenvolvido pela Embrapa, unidade Arroz e Feijão, o Sistema Santa Fé é apresentado no 8° Encontro de Plantio Direto Cerrado, realizado entre os dias 28 de junho e 01 de julho de 2005, em Tangará da Serra, MT, como mais uma ferramenta para a obtenção de palhada nas condições do Brasil Central. A partir do consórcio de culturas anuais com espécies forrageiras (braquiária) o Santa Fé objetiva a produção de cobertura do solo pela quantidade de biomassa que esse capim oferece. Dessa forma o sistema permite explorar durante todo o ano mais de 10 milhões de hectares em regiões de cerrado e caatinga, atualmente somente utilizados com culturas de verão.
Desde que foi criado em 1993, o sistema vem sendo aperfeiçoado pela Embrapa e hoje funciona como uma opção para se obter palhada na região dos cerrados. De acordo com os técnicos da Embrapa, estima-se que somente na recuperação de pastagens degradadas no modelo de Integração Lavoura Pecuária (ILP), mais de 20 milhões de hectares poderão ser novamente incorporados ao processo produtivo sem que precise desmatar uma único metro quadrado de mata virgem.
A empresa Monsanto do Brasil apresentou na ocasião do encontro de agricultores e técnicos para discutir plantio direto uma variedade de braquiária para uso como cobertura. Segundo Orivaldo Marchiori Júnior coordenador de desenvolvimento de produtos da Monsanto a escolha da espécie de braquiária é muito importante, pois deve-se procurar variedade que ofereçam volume de biomassa. “A braquiária Ruzizienses contribui na reciclagem de nutrientes no solo devido sua alta produção de massa verde. Nos últimos anos o aumento no número de propriedades utilizando o sistema de integração lavoura pecuária é crescente e por isso a braquiária vem conquistando, cada vez mais espaço.