Pecuária

Inseminação: tecnologia ao alcance de todo pecuarista

Na cidade de Sertãozinho, interior de São Paulo, técnicos trabalham todos os dias no que há de mais moderno neste momento em reprodução animal. Eles investem na inseminação artificial. A tarefa que consiste na deposição mecânica do sêmen no aparelho genital da fêmea, é hoje, sem dúvida, o melhor e mais barato instrumento de melhoramento genético do rebanho.

É evidente que nos últimos 40 anos, a produção animal tem crescido em volume e diversificação na maioria dos países. Tal evolução não é devida somente à alta eficiência das principais espécies animais, mas também há uma série de melhoramentos nas áreas de fisiologia, nutrição, manejo dos reprodutores e, principalmente, genética. Atualmente, o processo da inseminação artificial está sendo cada vez mais divulgado no mercado e é hoje, considerado por muitos, o grande “gancho” da pecuária moderna.

Com o uso de touros provados de alta confiabilidade é possível hoje obter o melhor resultado nos pontos desejados pelo produtor. Além disso, a inseminação artificial auxilia no controle de doenças transmitidas pela monta natural, evita acidentes de fêmeas com touros muito pesados, aumenta o número de descendentes de um reprodutor e, sem dizer, no melhoramento do potencial genético de forma econômica, com seleção de linhagens mais lucrativas e controle de eficiência da fecundação. “Ao contrário de um touro muito bem utilizado, na monta natural, que cobre até 50 vacas por ano e pode gerar em torno de 425 filhos durante sua vida, com a inseminação artificial um touro (que em toda a sua vida útil estimada em 10 anos) pode comercializar até 500 mil doses de sêmen e ter aproximadamente 75 mil filhos”, conta Gustavo M. Chilitti, médico veterinário e supervisor de serviços, da Lagoa da Serra, hoje maior central de inseminação da América Latina e que há 30 anos desenvolve trabalhos voltados para a genética bovina.

A empresa, pertencente ao grupo holandês CRV, fornece periodicamente cursos sobre inseminação artificial e acompanha o trabalho de muitos pecuaristas que decidem investir neste setor. O veterinário responsável pelo setor, Gustavo M. Chilitti, conta que o trabalho dos técnicos é para que o produtor saía satisfeito com o serviço. Por isso, para obter um bom resultado com a inseminação artificial cada técnico tem em mãos uma pesquisa detalhada sobre cada reprodutor. E o pré-requisito para se tornar um “bom reprodutor” está na ficha.

Muitas vezes, o animal já foi destaque em exposições, tem um pedigree que o mercado procura no momento ou até apresente bons índices de produtividade. Sem contar, é claro, que neste processo a idade reprodutiva de um animal também pode ser considerada. “A idade ideal para a reprodução de um touro varia muito conforme a raça. Um exemplo são os taurinos de raça européia onde é possível encontra animais precoce com 14 a 15 meses já produzindo sêmen com qualidade suficiente para o congelamento. Outra vantagem da inseminação é que o produtor, conciliando um bom manejo e boa alimentação, poderá possuir animais com até 17 anos, ainda em fase reprodutiva, como foi no caso de alguns animais da Lagoa da Serra”, conta.

Nos piquetes da Central, o grande índice de produtividade é logo percebido, em média são de 90 a 100 animais realizando a coleta. E não é nada difícil ver animais novos sendo adquiridos para o plantel dos grandes reprodutores.

Preparo dos animais

O trabalho dos técnicos e logo no preparo dos reprodutores que chegam na Lagoa da Serra. A cada aquisição de animal, eles ficam em quarentena. Neste período, os veterinários realizam todos os exames necessários para garantir a saúde do animal e evitar a proliferação de possíveis doença. Logo depois, eles seguem para a área de coleta, onde duas vezes ao dia, por duas vezes na semana, é recolhido o todo material para a inseminação.

Porém, tudo começa antes com a limpeza dos reprodutores. Na área de piquetes, os animais são submetidos a um banho e higienização, principalmente, na área do prepúcio. Depois são encaminhados para a coleta junto com as vacas “manequins”.

“Neste processo da monta, o inseminador precisa ter muita paciente e aguardar o tempo certo e o momento de cada animal. Muitas vezes, a vaca “manequim” não está no cio. Lógico, que se o reprodutor identificar uma vaca neste período, o trabalho da coleta será bem mais rápido”, conta.

O trabalho, segundo os técnicos é rápido e em linha de produção. Já no processo de excitação, o touro dá dois saltos sobre a vaca e o inseminador colhe o material somente na terceira monta.

“Justamente para coletar um maior volume de sêmen e menos líquido seminal”, argumenta Chilitti. Neste momento, o trabalho do inseminador é desviar o pênis do animal e introduzi-lo na vagina artificial (uma estrutura que tem duas paredes internas revestida de borracha flexível e onde é colocada água aquecida. Tudo para parecer o mais natural possível). Depois, o material é encaminhado para o laboratório para o controle de qualidade. “Temos que certificar que uma dose de sêmen que o produtor adquiriu não lhe apresentará problemas e garantir que o material que saiu da Central tenha 560 de chance de emprenhar uma vaca”. Mas como fazer a inseminação correta? Nesta reportagem apontamos passos importantes.

Como inseminar

Confira a seqüência correta para realizar a inseminação artificial:
1 – A etapa importante da inseminação é verificar a ficha da vaca. É preciso ver se está parida há mais de 45 dias, se tem apresentado cios normais e se já recebeu a segunda inseminação. Logo depois, o inseminador precisa conter o animal no tronco e fazer o exame do muco. Normalmente este exame é o bastante para se concluir sobre a qualidade do cio. O muco normal que reflete um cio de boa qualidade é semelhante a uma clara de ovo: límpido, transparente, brilhante e de consistência nem rala nem espessa. De acordo com o veterinário, é fundamental fazer a observação do pico do cio da vaca. “Em média, a vaca aceita a monta por até 12 horas é o recomendado para o produtor inseminar o animal é 12 horas depois, principalmente, quando ela vai sair do cio”, conta. Os bovinos, segundo ele, tem uma característica de estar no momento fértil da ovulação sempre no pós-cio”.
2 – Em seguida, exteriorize a ponta da bainha através de uma pequena abertura no saco plástico do lado da extremidade onde deverá penetrar o aplicador. Prepare-o, verificando a extremidade que será utilizada e retire o êmbolo metálico de seu interior, colocando-o ao lado. Esta atitude evitará que o êmbolo metálico possa empurrar a bucha da palheta antecipadamente, fazendo perder parte ou todo o sêmen contido na embalagem. Prepare uma lâmina de barbear e papel higiênico;
3 – Faça a limpeza do reto da fêmea a ser inseminada. Depois, utilizando somente água, lave bem os órgãos genitais externos e enxugue-os com papel higiênico;
4 – Localize o sêmen a ser usado e abra a tampa do botijão. Levante a caneca contendo o sêmen, até no máximo 7 cm abaixo da boca do botijão, e retire a dose de sêmen com auxílio de uma pinça;
5 – Em seguida, mergulhe a palheta, com a extremidade da bucha voltada para baixo, em água a 35 ºC (o nível da água deve cobrir totalmente a palheta). Sêmen acondicionado em palheta média deve ser descongelado por 30 segundos, enquanto o acondicionado em palheta fina deve ser por 20 segundos;
6 – Enxugue a palheta com papel higiênico e corte com a lâmina na extremidade oposta à da bucha. Nas palhetas finas, o corte deve ser reto. Já nas palhetas médias, faça o corte inclinado (bisel);
7 – Pressione levemente o êmbolo plástico da bainha com uma das mãos e encaixe nele a extremidade cortada da palheta até que esta se firme. Este procedimento evitará que o sêmen possa refluir entre a bainha e a palheta no momento da aplicação. Introduza o aplicador na bainha, empurrando a palheta até a ponta. Fixe a bainha no aplicador através de pressão no anel plástico. Observe que o aplicador universal possui extremidades de diâmetros diferentes. A extremidade com diâmetro menor deve ser usada para encaixe da palheta fina e a extremidade de diâmetro maior para encaixe da palheta média;
8 – Encaixe o êmbolo metálico introduzindo-o vagarosamente até onde está situada a bucha da palheta. Após colocar a luva de inseminação artificial, dirija-se à vaca, com o aplicador devidamente montado, tomando todos os cuidados de higiene. ” Na hora da manipulação é preciso ser rápido, pois o material poderá perde muita na questão qualidade”, argumenta o veterinário. Abra a vulva da vaca e introduza, profundamente, o aplicador na vagina. Com um auxiliar, esta operação será facilitada;
9 – Introduza delicadamente a mão esquerda no reto do animal, fixando a cérvix. Oriente a introdução do aplicador até a entrada da abertura do colo. A partir daí, faça movimentos com a mão, que fixa o colo, e não com o aparelho, até a completa passagem deste através do colo; Passando o colo uterino, deposite lentamente o sêmen após o último anel; Retire o aplicador e o braço e faça uma leve massagem no clitóris da fêmea;
10 – Após a inseminação, libere a bainha utilizada e anote todos os dados contidos na palheta na ficha da vaca. Logo após, envolva a bainha na luva e jogue-as no lixo. Periodicamente, faça a limpeza do aplicador universal com álcool.

DÊ OLHO NO FUTURO

De acordo com o médico veterinário, Gustavo M. Chilitti, futuramente o trabalho dos técnicos poderá aumentar. Em breve, a Central estará divulgado um projeto sobre a sexagem de sêmen. Esse estranho nome nada mais é que uma técnica para predeterminar o sexo do gado. Ou seja: será possível escolher se irá nascer uma vaca ou um boi.

Para alguns produtores e em determinadas raças o trabalho abrirá novo leque. Segundo Chilitti, hoje, para o produtor de Nelore, por exemplo, que trabalha com tourinhos para a comercialização de monta natural vai ser muito interessante investir nesta tecnologia. Isto significa, por exemplo, também que um criador de gado leiteiro poderá escolher apenas o nascimento de fêmeas.

O mesmo poderá ser feito para o criador de animais de elite, que preferem as fêmeas, geradores de novos embriões. “A Lagoa da Serra é a segunda central que implanta este tipo de trabalho no Brasil junto com uma empresa americana, que também é detentora da patente. O laboratório já está em fase final dos testes e não liberou ainda o sêmen para comercialização porque é preciso uma análise minuciosa”, diz.

Em um plano futuro, será possível também desenvolver técnicas novas com a utilização de embriões congelados para o produtor preocupado na comercialização de raças leiteiras e, principalmente, na comercialização de raças de corte.

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