Agricultura

É hora de plantar trigo irrigado no cerrado

O trigo irrigado apresenta excelente potencial de expansão na região de Cerrado, boa produtividade e qualidade industrial. O pesquisador Julio Cesar Albrecht da Embrapa Cerrados, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA destaca que o trigo do Cerrado é o primeiro trigo a ser colhido no Brasil (entre agosto e setembro), o que favorece a comercialização.

Pois é neste período que os preços de mercado geralmente estão com os valores máximos durante o ano, além de ser um período de escassez do produto no mercado. Estas características têm mantido o trigo entre as principais culturas da cadeia produtiva da região.

E este é o período ideal para o plantio do trigo irrigado (entre 20 de abril e 30 de maio). Nos plantios realizados neste período, a cultura atinge seus melhores resultados , porque é quando as cultivares de trigo alcançam o melhor potencial genético. Se o plantio ocorre muito cedo, o desenvolvimento das plantas é prejudicado; e tardiamente corre-se o risco da colheita atingir o período das chuvas, prejudicando a qualidade industrial da produção.

Para garantir bons resultados na produção é importante que o produtor adote práticas adequadas para a instalação e condução da lavoura e acompanhe todas as fases de desenvolvimento da planta, porque o ciclo do trigo irrigado é curto, menor que o de sequeiro, em torno de 110 dias. O que exige agilidade e muita atenção do produtor na condução dessa lavoura.

Albrecht destaca também que na safra de 2004 vários produtores obtiveram produtividades superiores a 7 toneladas por hectare, usando cultivares desenvolvidas pela Embrapa (Embrapa 22, Embrapa 42 e BRS 207). As cultivares Embrapa 22 e 42 possuem qualidade industrial excelente para a panificação, nos mesmos padrões de qualidade daquelas importadas da Argentina. Este ano a Embrapa deve lançar duas novas cultivares de trigo (BRS 254 e BRS 264) para a safra 2006 na região do Cerrado, materiais com alto potencial de produtividade e qualidade para panificação.

Cuidados no Plantio e Adubação Nitrogenada

O pesquisador Antônio Fernando Guerra, da área de manejo de irrigação da Embrapa Cerrados, alerta que o trigo irrigado na região deve ser plantado na época mais propícia ( mês de maio) a uma profundidade entre 03 a 05 centímetros, pois, se o plantio for muito raso, a tendência é de acamamento ou tombamento das plantas. Plantios muito profundos também prejudicam a germinação e o perfilhamento das plantas causando redução do número de espigas e consequentemente da produtividade.

Guerra também destaca que a maioria dos casos de acamamento é decorrência da superpopulação de plantas, ou seja, muitas sementes por metro quadrado. Isso ocorre porque é comum o produtor regular a plantadeira por quilo de sementes sem fazer a devida correção para o tamanho e poder germinativo das mesmas. O maior prejuízo do acamamento é a redução de produtividade e perda do peso hectolitrico, diminuindo o rendimento de farinha no moinho.

O nitrogênio é o nutriente mais importante para o trigo irrigado. Ele deve estar disponível quando as plantas iniciam a fase de perfilhamento, pois nesse estágio estão sendo definidos o número de espiguetas e número de grãos por espiga. Por isso, os pesquisadores recomendam a aplicação de todo o nitrogênio entre 15 e 20 dias, após o plantio.

Manejo de irrigação

Para fazer o manejo de irrigação do trigo o produtor pode usar medidas diretas de tensão de água no solo ou da umidade com tensiômetros ou sondas de umidade. Como exemplo orienta-se que, para atingir níveis de produtividade superiores a 6.000 quilos por hectare, a tensão adotada deve ser em torno de 40 kPa, medida a 10 cm de profundidade. Estes instrumentos devem ser instalados na linha de plantio pois é onde se concentra o sistema radicular da cultura.

A maneira mais fácil de manejar as irrigações é utilizar o programa de manejo de água denominado “monitoramento de irrigação” disponível na página da Embrapa Cerrados (Endereço eletrônico: www.cpac.embrapa.br).

Nesse sistema o produtor deve informar a variedade de trigo, o tipo de solo e a data de emergência das plantas. Com essas informações e com dados diários de evapotranspiração de referência regional o programa calcula e indica a lâmina líquida a ser aplicada e o turno de rega para cada cultivar de trigo, a ser seguido pelo produtor. O produtor deve medir a chuva próximo a cada área irrigada para subtrair da lâmina de água indicada no programa.

A irrigação deve ser suspensa por volta dos 100 dias, quando o trigo atinge seu estágio de desenvolvimento de grãos denominado de “massa dura” (é quando os grãos pressionados pela unha cedem a pressão da mesma sem, contudo, romper-se).

No Cerrado é comum o uso do sistema de irrigação do tipo pivô central para o plantio de trigo. Embora seja um sistema de irrigação que permite obter alta eficiência de aplicação de água e de automação é comum observar no campo sistemas operando precariamente devido a falta de manutenção. O problema mais comum é a falta de pressão causada por envelhecimento dos tubos, da motobomba, dos reguladores de pressão e até mesmo por vazamentos.

Mesmo com equipamentos ajustados adequadamente é importante que o operador do sistema de irrigação fique atento para possíveis entupimentos dos bocais por detritos oriundos da água bombeada, pois causará desuniformidade da lavoura e, consequentemente, redução da produtividade.

Os gastos com irrigação representam em média 30% dos custos das lavouras de trigo. Por isso, é imprescindível que o produtor se mantenha atento, durante todo o ciclo da cultura, para qualquer problema que ocorra com o sistema de irrigação e dessa forma possa tomar as medidas necessárias para correção dos mesmos. Essa é a postura correta para obter sucesso com a cultura do trigo.

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