Uma coisa é consenso entre técnicos, pecuaristas e pesquisadores. Nas condições brasileiras de criação o melhor ainda não se inventou um alimento para oferecer ao rebanho com melhor relação de custo x benefício do que o pasto. Na opinião de muitos especialistas para que a bovinocultura tropical seja competitiva precisa, necessariamente, explorar melhor seus sistemas de pastagem naturais e cultivadas.
Além disso, é preciso corrigir eventuais deficiências nutricionais das mesmas, com o uso de silagem e suplementação mineral adequadas, o que deve ser feito com muito critério e dentro de metas de produção bem estabelecidas. Isto tudo porque nos trópicos ao contrário do que ocorre em países de clima temperado, é possível manter os bovinos em pastejo o ano inteiro.
Entretanto, apesar da maioria das regiões brasileiras reunirem condições favoráveis durante boa parte do ano para o desenvolvimento das pastagens, a desnutrição do rebanho ainda é um problema que contribui bastante para a redução dos índices de produção dentro das fazendas, sobretudo no período de inverno. Tanto na pecuária de corte quanto de leite, a redução da produtividade dos animais por conseqüência da baixa ingestão de matéria seca é notada com relativa facilidade. Alimentar o gado durante os longos períodos de estiagem que acorrem em algumas regiões do país, garantindo pelo menos os níveis de ganho de peso do período das águas é uma tarefa que requer planejamento estratégico e muito empenho, explica Luiz Roberto Lopes S. Thiago, pesquisador do CNPGC, Embrapa Gado de Corte de Campo Grande, MS.
O desenvolvimento de ferramentas tecnológicas no campo da nutrição animal está funcionando como um aliado importante dos pecuaristas, permitindo que se ampliem as margens de lucro dentro de uma mesma área de exploração. Hoje, uma parte considerável das propriedades de pecuária utiliza pessoal capacitado para gerenciar a produção, armazenamento e aplicação da silagem no rebanho. Graças às experiências amargas do passado, os criadores não querem mais correr o risco de amargar o ônus da falta de planejamento. Com isso, os investindo em maquinário e processos de fabricação de alimentos alternativos para o inverno é uma prática cada dia mais comum dentro das propriedades.
Luciano de Almeida Correia, pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste, de São Carlos, SP, fala que o uso de forrageiras tropicais como volumoso é uma prática recomendada para ser usada em sistemas de pecuária, onde a exploração da terra é mais intensiva. Segundo ele, isso ocorre, principalmente, por uma questão de aproveitamento das áreas em lugares onde o custo do hectare é alto, tornando viável o processo de produção. Nas fazendas de corte e leite da região Sudeste esse conceito já é trabalhado há algum tempo devido essa ser a região do país , onde um hectare de terra custa mais caro.
A aplicação do sistema consiste em separar glebas dentro da fazenda de forma a tornar fácil o mapeamento de todas as áreas da propriedade. O pecuarista deve ainda priorizar áreas dentro da propriedade onde, historicamente, o solo ofereça maior fertilidade para daí efetuar um processo de exploração intensiva das pastagens. A correção das eventuais irregularidades do terreno com calagem, correção de Ph ( acidez) e adubação para aumentar a concentração de nutrientes no solo se faz necessária, explica. Para o pesquisador, a escolha da espécie forrageira também é um ponto importante, optando de preferência por variedades que ofereçam altos níveis de matéria seca. Correia chama atenção para a necessidade de se observar o momento certo de realizar a poda na forrageira. Isso faz toda a diferença na qualidade da silagem, explica.
Na prática isso significa efetuar um corte a cada 50-70 dias durante o período chuvoso. Outro ponto importante é o ajuste da máquina de corte que deve ser ajustada para efetuar um corte na proporção entre 3cm e 5cm. Se a gramínea for cortada muito pequena a quantidade de líquido liberada pela planta pode prejudicar a qualidade da silagem. O oposto também não é recomendado porque diminui a palatabilidade do silo. É sempre interessante aplicar um aditivo na forma de subproduto ( Polpa cítrica, Polpa de Milho, Farelo de Trigo, entre outros). Esses compostos servem para retenção do excedente de água da forrageira decorrente do processo de fermentação. ” Uma fermentação não adequada pode inutilizar uma grande quantidade de silagem, causando prejuízos ao pecuarista e escassez de alimento aos animais no período de estiagem”,declara.
Uma silagem bem conservada pode permanecer armazenada por mais de um ano desde que a condicionada de acordo com as especificações técnicas. Isso diminui a necessidade de se repetir o processo de plantio e colheita todos os anos, abrindo espaço na fazenda para outras atividades. Nesse sentido a integração agricultura X pecuária aparece como um conceito promissor e pode dentro de pouco tempo dominar o contexto agrícola no Brasil. Segundo o técnico não existe muito milagre na alimentação animal. O uso da silagem de capim em condições de cocho garante um ganho de peso médio aos animais de 100 a 150 gramas/dia e isso em qualquer região do país.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Gado de Corte, para regiões caracterizadas por um período de inverno seco, caso dos estados de MT, MS, GO, TO, e grande parte das cidades do sudoeste paulista. O manejo adequado das pastagens permite que se tenha disponibilidade de massa o ano todo. Entretanto, podem ocorrer, esporadicamente, imprevistos como geadas ou fogo. Nesses casos, a solução para o problema seria o uso de uma fonte alternativa de volumoso que são o feno, a silagem ou capineiras (cana, capim-elefante e outras). É importante lembrar que essas alternativas têm um custo e alteram a rotina de uma fazenda, mas podem ser necessárias, diante da probabilidade dos imprevistos citados acima, lembra S. Thiago.
Para ele, a pecuária é por si uma atividade que envolve riscos. Portanto a decisão de se preocupar com alimentos volumosos alternativos é individual, valendo aí o bom senso. Já a decisão de manejar pasto pensando na época de seca, deveria ser comum para todos os pecuaristas e vista como uma atividade normal dentro da fazenda. “Vale lembrar que de todos os investimentos possíveis para enfrentar o problema de seca, o manejo da pastagem é o de melhor retorno econômico”.
O uso do proteinado
O uso dos composto protéico – também conhecido como sal proteinado ou mistura múltipla – está associado com baixo custo por causa da baixa oferta por animal (1 g/kg de peso vivo). Isto porque o mesmo não visa a atender diretamente as demandas protéicas do bovino em pastejo, mas sim a deficiência de nitrogênio para as bactérias ruminais. A presença de nitrogênio no rúmen é fundamental para que essas bactérias realizem o processo de síntese protéica de forma eficiente, resultando em aumentos na digestibilidade da matéria seca e melhor desempenho animal.
Os bovinos possuem a capacidade de usar no processo de síntese protéica não apenas o nitrogênio oriundo das fontes naturais de proteína, como os farelos, as forragens e outras, mas também o nitrogênio proveniente de fontes não protéicas, como a uréia. A grande vantagem dessa possibilidade é a redução de custo do suplemento. Segundo ele, por exemplo, hoje o custo de 1 kg de proteína proveniente do farelo de soja, é comercializado em média a R$ 1,70, já a proteína proveniente da uréia é comprada a R$ 0,32. “Infelizmente, a exigência protéica do animal não pode ser atendida exclusivamente com a uréia. É preciso também fontes de proteína natural”, lamenta.
Na situação de pastagens secas, recomendável que pelo menos 25% da exigência de nitrogênio no rúmen deva ser fornecida via proteína natural. Além desse cuidado, é necessário que exista também na dieta uma quantidade adequada de carboidratos solúveis (energia), principalmente quando se deseja sair de uma situação de manutenção para ganho de peso vivo. Quanto mais equilibrado for o balanço entre a amônia (via uréia + proteína natural) e o carbono (digestão dos carboidratos da dieta) no rúmen maior será a eficiência da síntese microbiana e, conseqüentemente melhor o desempenho animal. Em situações com excesso de uréia consumida, ou baixa disponibilidade de carboidratos na dieta, parte da amônia liberada no rúmen não será incorporada à massa microbiana, sendo então absorvida no rúmen e posteriormente eliminada via urina ou reciclada via saliva. explica S.Thiago.
O sal proteinado específico para uso na estação seca apresenta na sua composição o sal branco, para limitar o consumo para cerca de 1 g/kg de peso vivo. Isto quer dizer que um bovino de 400 kg de peso vivo deve consumir cerca de 400 g de sal proteinado/dia. Seu uso é adequado em situações de pasto seco (teor de proteína bruta inferior a 6%), mas com boa disponibilidade de massa. O objetivo seria manter o peso vivo dos animais ou mesmo alcançar leve ganho de peso, mas podem ocorrer situações piores dependendo da situação da pastagem, onde uma redução na perda do peso vivo já seria um bom resultado.
Antes de iniciar a oferta do sal proteinado, verificar se os animais vinham recebendo regularmente a mistura mineral. Se este não for o caso, oferecer primeiro a mistura mineral (por uma semana), seguindo, então, com a oferta do sal proteinado. Observar o consumo diário nos primeiros dias. O cocho deve estar limpo no momento de cada abastecimento matinal. Lembrar que a partir do momento que começar a oferecer o proteinado, não é mais preciso fornecer a mistura mineral, pois ela já está inclusa no sal proteinado.
Outras opções para alimentar o gado
O pesquisador mostra uma tabela onde se encontra algumas formulações de dietas para situações específicas de criação. No caso do criador que realiza a recria na seca, a ração indicada concentra para uma mistura de 100 kg, o equivalente de 53,8 kg de grãos moído de milho; farelo de soja na proporção de 32,0 kg; uréia: 5,1 kg; sulfato de amônio: 0,9 kg; mistura mineral: 8 kg; ionóforo1: 0,2 kg. ( Composição: NDT = 71%; PB = 37%). A oferta deve ser de 500 g/animal/dia, no meio do dia, em cochos com espaço de 40 cm lineares/animal. O ganho de peso médio estimado para essa mistura é de 0,270 kg/animal/dia, que pode variar em função das condições do pasto.
No caso de engorda em semi-confinamento (na seca) a quantidades para uma mistura de 100 kg deve conter 74,86 kg de grão de milho moído; 21 kg de farelo de soja; uréia 1,27 kg; sulfato de amônio 0,23 kg; calcário calcítico 1,40 kg; mistura mineral 1,20 kg; ionóforo1: 0,04 kg. Composição: NDT = 80%; PB = 21%. A disponibilidade aos animais deve ocorrer entre 8 e 12 g/kg de peso vivo, metade pela manhã e metade à tarde, em cochos com espaço de 50 cm lineares/animal. Ofertas menores do concentrado no terço inicial da fase de engorda, quando os pastos apresentam melhor qualidade, com aumentos gradativos nas quantidades nos dois terços finais para compensar queda no valor nutricional da pastagem. Ganho de peso médio esperado é de 0,800 kg/animal/dia, em função das condições do pasto.
A rações para engorda em situação de confinamento com silagem de milho precisam conter quantidades para uma mistura de 100 kg de grão de milho moído: 78,35 kg; soja em farelo: 16 kg; uréia: 2,04 kg; sulfato de amônio: 0,36 kg; calcário calcítico: 2 kg; mistura mineral: 1,20 kg; ionóforo1: 0,05 kg. Composição: NDT = 79%; PB = 22%. A oferta deve ser de 3,5 kg/animal/dia, metade pela manhã e metade à tarde, em cochos com espaço de 50 cm lineares/animal. Para melhor eficiência alimentar, misturar bem o concentrado ao volumoso, manualmente no cocho ou em vagão. Assim se possível ganhos de peso médios de 1,200 kg/animal/dia, em função das condições da silagem. Já a engorda em confinamento feita usando cana-de-açúcar como volumoso deve conter para uma mistura de 100 Kg, milho moído na quantidade de 75,46 kg; O farelo de soja na proporção de 20 kg; uréia 1,87 kg; sulfato de amônio 0,33 kg; calcário calcítico 1,30 kg; mistura mineral (4% de P): 1 kg; ionóforo1: 0,04 kg. Composição: NDT = 80%; PB = 23%. A mistura deve ser oferecida na base de 5 kg/animal/dia, metade pela manhã e metade à tarde, em cochos com espaço de 50 cm lineares/animal. Para melhor eficiência alimentar, misturar bem o concentrado ao volumoso, manualmente no cocho ou em vagão forrageiro. Antes da refeição matinal, retirar as sobras do dia anterior. O ganho de peso médio esperado de 1,100 kg/animal/dia, que pode variar em função da variedade e da época de corte da cana.