Conforme já ocorreu em outras épocas a cultura da cana-de-açúcar caminha, a passos largos, para se tornar uma atividade de importância chave na economia agrícola do Brasil. O segmento de produção de açúcar e álcool passa por um momento de transformações políticas, estruturais e de comércio importantes e que estão sendo motivadas pelo aumento no consumo desses produtos nos mais diferentes mercados.
O despertar mundial para a importância do álcool combustível, por exemplo, num período como o atual que marca o fim da hegemonia do petróleo, deixa o Brasil mais atento em relação à nossa própria condição de líder do mercado no setor sucroalcooleiro, chama a atenção Eduardo Pereira de Carvalho, presidente da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo. A produção de cana-de-açúcar mantida pelas usinas na última safra superou as 340 milhões e toneladas isso sem falar da capacidade de processamento industrial de 320 milhões/ano. Isso garante uma produção de álcool de 13,54 bilhões de litros. Os EUA, segundo colocado no ranking da produção de álcool, fechou a última safra com um volume de 12,9 bilhões de litros, valor 27,7% acima dos 10,6 bilhões de litros registrados no período 2003. Carvalho fala que se a disposição dos usineiros norte-americanos em ocupar espaço é benéfica, pois tende a tranqüilizar países que não têm matéria-prima disponível para produzir álcool, mexe com os brios dos pioneiros no consumo de álcool como meio alternativo á gasolina ou adicionado a ela” conclui.
No mercado interno, a principal questão que deverá envolver o setor é o equilíbrio fiscal entre os estados na cobrança do ICMS sobre o álcool consumido nas bombas de combustível. Esse assunto deve nortear as políticas públicas para o setor no período 2005/06, observa Antônio de Padua Rodrigues, diretor técnico da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo. Segundo Padua, a paridade na tributação do álcool pelos estados deverá ter sua definição com a conclusão da reforma tributária. O estado de São Paulo tomou a dianteira nessa questão, reduzindo, por conta própria, sua alíquota de 25% para 12% decisão que deve ser acompanhada por outros estados, analisa o técnico.
De acordo com o presidente da UNICA, o compromisso do governo federal vai além das metas de produção estipuladas para o setor neste ano. Segundo ele, os usineiros fizeram a sua parte redobrando esforços para garantir as metas estipuladas no ano passado. “O compromisso do governo federal, no entanto, está na promessa de investir recursos para financiar a estocagem e acabar com a montanha russa nos preços do álcool”, conclui. Pesquisas do setor mostram, que se cada usineiro paulista investir 0,5% de sua receita percentual- valor pequeno se comparado aos 15% da indústria farmacêutica- a área de desenvolvimento seria beneficiada com verbas em torno de US$ 50 milhões.
Carvalho fala que um mercado equilibrado permite que a iniciativa privada e o governo definam estratégias de crescimento sustentado para o setor, gerando empregos, divisas, e ainda trazendo ganhos ambientais para o país. As perspectivas que se abrem para o Brasil são muitas o que torna fundamental uma ação mais agressiva em relação ao Mercosul, Alca e União Européia no que diz respeito ao fim do protecionismo no mercado do açúcar e a abertura para o álcool, faz um alerta Carvalho. “O apoio do governo federal por meio de seus ministérios e do próprio Itamaraty , buscando colocação para produto brasileiro nos mercados da Ásia além da permanência do álcool no comércio externo vão ajudar a diminuir a volatilidade dos preços do álcool, atenta Padua.
Quanto a safra atual o diretor técnico da Unica observa que os estoques deixados na safra passada de 4 bilhões de litros, ajudaram a manter os preço em patamares controlados de R$ 0,90 álcool anidro e R$ 0,80 o álcool hidratado, valor sem ICMS, pago nas principais praças do país. Para o período 2005/06, o setor não espera grandes mudanças na produção, mas as expectativas ficam para a liberação dos entraves que ainda atrapalham o andamento das coisas. Na opinião do diretor técnico da entidade que representa o setor super-safra é safra que não encontra demanda. Ele lembra que no ano passado as usinas processaram 390 milhões de toneladas e tinha mercado para mais. ” A presente safra deve transcorrer se maiores alterações”, finaliza.