Agricultura

Soja responde pela maior demanda

Ainda não se sabe os números finais da indústria de defensivos em 2004. Contudo, espera-se ter fechado o ano com um faturamento de 20 a 25% superior ao de 2003, que foi de US$ 3,1 bi.

Estima-se que em 2004, o faturamento do setor tenha sido de, aproximadamente, US$ 3,8 bi , segundo o presidente executivo da Andef, Associação Nacional de Defesa Vegetal, Cristiano Walter Simon. Para José Roberto Da Ros, presidente do Sindag, Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola, esta é uma boa expectativa, “porém espera-se que ela seja superada. Aguardamos agora a finalização de um relatório detalhado que é feito anualmente com os números de empresas do setor para confirmar este bom desempenho” confirma ele.

Já para Túlio Teixeira de Oliveira, diretor executivo da Aenda, Associação Brasileira dos Defensivos Genéricos, este crescimento pode ser ainda maior, podendo atingir a casa dos US$ 4 bilhões. “Este crescimento é fruto da expansão da agricultura brasileira como um todo, da tecnificação das lavouras e do combate a ferrugem asiática. A agricultura brasileira vem crescendo na última década e a indústria de defensivos está acompanhando este crescimento. O uso de defensivos garante a produtividade.”, declara Túlio. Em relação a preços, houve apenas um aumento que acompanhou a inflação do real.

A duplicação do uso de fungicidas foi a responsável pelo impacto registrado no faturamento. “Este crescimento se deve principalmente aos fungicidas empregados em grande escala no final da safra 2003/2004 e no início da safra 2004/2005 no combate a ferrugem asiática da soja”, destacou Simon. O ranking dos cultivos que mais consumiram defensivos em 2004 não foi muito diferente dos anos anteriores. A soja é a líder isolada, seguida pelo algodão, cana-de-açúcar, citrus, café e milho.

A maior parte das vendas de defensivos vendidos no Brasil continuam sendo de produtos genéricos. Segundo Túlio Teixeira, calcula-se que cerca de 80% do total das vendas pertencentes a esta categoria. “Isso ocorre porque o agricultor precisa pensar no seu bolso e os genéricos, assim como os medicamentos, além de mais baratos, já provaram que são eficientes”, diz ele. Os defensivos genéricos nada mais são do que produtos que foram desenvolvidos com patentes que já caducaram e que hoje várias empresas ofertam. Segundo Túlio, as fórmulas se diferenciam muito pouco. Há pequenas alterações de um produto para o outro, o que, porém, não compromete a eficácia.

As dificuldades enfrentadas pelas empresas de defensivos no ano passado continuaram sendo as mesmas. “Além do problema crônico da escassez de crédito rural para os agricultores, continuamos com problemas como o contrabando, o roubo e a falsificação”, ressalta Cristiano Walter Simon, da Andef. Segundo estimativas, calcula-se um prejuízo para as empresas do setor de aproximadamente US$ 100 milhões por conta destes problemas. Além disso, existe também o risco dos produtos sem registros que arriscam as exportações e causam grandes prejuízos não só ao bolso do agricultor, como também à sua saúde e à saúde da lavoura.

Mesmo com uma possível retração do agronegócio em 2005, o setor de defensivos não se sente ameaçado, pois para manter os níveis de produção, os agricultores terão que investir em tecnologias e, consequentemente, em defensivos para garantir a produtividade. Ainda não há expectativas de vendas para este ano, porém, espera-se repetir as vendas de 2004. Cristiano Simon espera que, em 2005, os entraves em Brasília sejam superados e que a lei de biosegurança seja aprovada para a produção de transgênicos. “Temos novas tecnologias, novos princípios ativos e pesquisas que estão quase paradas por conta de alguns Ministérios do Governo Federal. Esperamos que as demoras excessivamente longas que temos enfrentado para o registro novos produtos sejam reduzidas”, declarou Simon.

A questão do financiamento

Por outro lado, existe uma preocupação por conta do financiamento dos defensivos. Existem casos onde a indústria vendeu o produto no ano passado com o pagamento para este ano e, ao que tudo indica, estima-se problemas para o recebimento destas vendas. “Estamos preocupados por conta de uma possível queda dos preços das commodities agrícolas o que implica na queda da rentabilidade dos agricultores. Eles estão recebendo cada vez menos, mas os custos para manter a produção estão aumentando e cerca de 90% das nossas vendas são financiadas”, destacou Da Ros.

O financiamento é um gargalo ruim para as empresas nacionais. O que o Governo disponibiliza hoje para o agricultor não cobre as despesas dele e o financiamento para a compra de produtos essenciais para a sua lavoura, como é o caso dos defensivos, é uma saída para o produtor. Contudo, o mercado de defensivos no Brasil é dominado por multinacionais que podem administrar muito bem a produção mesmo com o financiamento de suas vendas, pois elas captam recursos lá fora a juros baixos e com isso garantem mercado.

Já para uma empresa genuinamente brasileira é difícil segurar. “Ainda mais se a empresa só vender defensivos genéricos pois a margem de lucro é muito baixa. E por que isso acontece? As empresas nacionais não têm capital de giro e enfrentam juros altos”, garante Túlio da Aenda. Em decorrência disso, apenas 5 empresas detêm 63% do mercado nacional e 10 empresas são responsáveis por 90% de total de ofertas. Para ele, em 2005, as empresas vão continuar enfrentando os mesmos problemas, “só quando os juros da economia se igualarem com o resto do mundo a situação das empresas nacionais vai melhorar”, arremata Túlio.

O problema do registro

Uma luta que o setor vem enfrentando há muitos anos e que ainda não foi resolvida diz respeito a simplificação do sistema de registro para defensivos agrícolas. “Se faz exigências quase tão grandes como para uma nova molécula, o que comprime o leque de novos produtos por conta dos altos custos”, diz Túlio Teixeira. Em jan./2002, a indústria de defensivos conseguiu a aprovação do Decreto 4074/02, um regime de registro por equivalência química, também conhecido como registro por similaridade. Com isso, os fabricantes apenas mostrariam que o seu produto é equivalente a outro já existente na praça, reduzindo os testes exigidos para a comercialização e também os custos. A implantação deste regime seria um marco importantíssimo para o setor e não tiraria das empresas a responsabilidade sobre a qualidade de seus produtos. “Isso é o que se faz nos principais países do mundo e ainda não foi implantada no Brasil inexplicavelmente”, conclui Túlio.

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