O último trimestre de 2004 foi um período bastante positivo para a cafeicultura brasileira. A elevação contínua nos preços da commoditie observada ao longo do ano, nas principais bolsas de mercadorias do mundo, ajudaram a aumentar a euforia da cadeia produtiva no Brasil. De acordo com especialistas em mercado agrícola, isso ocorreu sobretudo em função do já esperado aumento na demanda do hemisfério norte, para o inicio do inverno e da menor oferta do café oriundo da América Central. Além disso, o atraso na colheita colombiana e a menor disponibilidade de arábica de qualidade da última safra brasileira, foram fatores que determinaram essa tendência de oferta aquecida e cotações em alta.
Segundo projeções extraídos pela Revista Rural de fontes como o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), as projeções para o próximo triênio 2005/08, são de que os estoques mundiais continuem em queda. Parte dessa volatilidade deve-se a disparidade na balança de comércio do café em praticamente todos países que tem a commoditie em sua pauta de comércio. Em outros termos a maior parte do países que têm o café como produto tipo exportação paga aos cafeicultores valores inferiores a US$ 100/sc., custo médio mundial para se produzir uma saca de 60 Kg. de café, com qualidade que atenda a demanda de mercados com a União Européia, por exemplo. Sendo assim, a produção só voltará a crescer quando o preço ultrapassar essa barreira.
Dados do IEA, Instituto de Economia Agrícola, vinculado a Secretária da Agricultura do Estado de São Paulo, mostram que as cotações do arábica (Contrato C, segunda posição), na Bolsa de Nova Iorque, apresentaram alta de 10,84% na média do mês, em relação à média de outubro, enquanto no mercado de robusta o aumento foi de 5,77% na Bolsa de Londres. Já na BM&F, o café arábica teve alta de 11,38%, influenciada também pela valorização de 4,49% do real no mês. Ao considerar o indicador OIC – Composto diário, observou-se acréscimo de 10,63% em relação à média de outubro impulsionada pela elevação do arábica.
Entre as taxas apresentadas, percebe-se que a exibida pelo índice BM&F esteve mais pressionada do que a da Bolsa de Nova Iorque, explica Nelson Batista Martin, engenheiro agrônomo e membro da diretoria do IEA. Segundo ele, a valorização cambial explica parcialmente esse fato. Entretanto, a menor disponibilidade de café para a exportação fez com que os produtores reduzissem o fluxo do produto, com o objetivo de alcançar melhor remuneração mais adiante. “Em outubro, o diferencial entre o preço do arábica na BM&F e o Contrato C de Nova Iorque foi de US$ 15,13 por saca, cerca de 7,4% a mais do que o observado no mês de outubro. Especialistas em mercado agrícola entrevistados pela Revista Rural e que pediram para não serem citados, disseram que começam a se confirmar as previsões feitas no início de 2003 de que a partir dessa safra os preços do café sofreriam um aumento expressivos. Após um período de três anos com preços inferiores a US$ 70/sc de 60 Kg., considerando a relação de troca entre produtor e mercado essa barreira começou a ser quebrada.
A evolução dos preços do café nos diferentes mercados até novembro, cotados em dólar por saca, indica que a variação do arábica segunda posição, em 2004 na BM&F, foi de 43,32% e a variação acumulada, nos últimos 12 meses, foi de 47,85%. No mercado de Nova Iorque, os preços do arábica, contrato C segunda posição, cresceram 36,41% em 2004 e 41,27% no acumulado de 12 meses, enquanto os preços do robusta, no mercado de Londres segunda posição, apresentaram variação acumulada negativa, tanto no ano 9,66% quanto nos últimos 12 meses 4,64%. O crescimento acumulado da estimativa do OIC – Composto foi de 28,81% em 2004 e de 35,85% em doze meses, fortemente influenciado pela elevação dos preços do arábica. As cotações dos cafés arábicas, contrato C, para março, na Bolsa de Nova Iorque, exibiram forte alta ao longo do mês, cerca de 10,75% maior do que a cotação média de outubro.
O cafeicultor paulista também foi favorecido pelas altas observadas no mercado internacional. O preço médio de novembro aumentou 4,76% em relação ao preço médio observado em outubro. A trajetória dos preços de café recebidos pelos produtores, em reais, nos últimos 12 meses, aponta para alta acumulada em novembro de 36,39%, em relação ao mesmo mês de 2003, e de 44,68% no ano de 2004. De acordo com os números do indicador CEPEA/ESALQ, na variação dos últimos doze meses, a média de R$ 216,4/sc de 60 Kg. do Arábica, pagos em São Paulo, teve um valor superior em 11% ao valor pago em janeiro do mesmo ano, por exemplo, quando o produtor paulista recebia pelo mesmo produto R$ 193,24/sc de 60Kg. Já os preços do Conillon no estado do Espirito Santo, baixaram dos R$ 139,24/sc de 60Kg. pagos em janeiro para R$ 135,7/sc de 60Kg.
Trajetória das exportações
Ao analisar as exportações de café verde no período 1999 a 2004 (até outubro), os especialistas evidenciam duas tendências distintas. A partir de 2003 e 2004, começa a se esboçar um discreto crescimento das receitas cambiais, com redução da quantidade exportada, enquanto entre 1999 e 2002, o fenômeno prevalecente era de queda no valor recebido, inclusive com ampliação dos volumes embarcados, mais notadamente no ano de 2002. Informações do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (CECAFE) indicam que as exportações de café verde devem encerrar 2004 com volume de cerca de 22 milhões de sacas, representando faturamento em torno de US$ 2 bilhões, valor esse próximo daquele apurado em 1999.
No caso do café solúvel, desde 2001, constata-se aumento dos embarques do produto, embora as receitas somente tenham passado a crescer a partir do ano seguinte. Possivelmente, sejam vendidos para o exterior cerca de 75 mil toneladas de solúvel, com receitas cambiais atingindo os US$ 300 milhões.
Por fim, as exportações de café torrado e moído, que vinham numa trajetória ascendente, sofrem em 2004 forte queda, sobretudo no saldo cambial das operações. Com esses resultados, o empenho da indústria de torrefação em ampliar os negócios com o exterior terá de ser revisado, com o objetivo de construir uma base de transações sustentável a longo prazo para o sucesso da estratégia.
Produção estável dita oferta
As primeiras estimativas da safra brasileira para o ano agrícola 2004/05 indicam quebra de 20% na produção futura de café no país, que, associada à menor safra na América Central e ao atraso na safra colombiana, pressionarão ainda mais as cotações do arábica na bolsa de Nova York. Ao mesmo tempo, as perspectivas de menor safra futura de robusta no Brasil e no Vietnã fizeram com que se iniciasse a recuperação nas cotações do produto no mercado de Londres. A expectativa é de que a tendência de alta se mantenha no primeiro trimestre de 2005, até o início da colheita da safra brasileira.
Dados extraídos do agro-informativo FNP sobre a produção das últimos três safras de café, mostram um cenário brasileiro de retração, na área de cultivo que caiu de 2.765 milhões ha. em 2002/03 para 2.556 milhões ha, em 2003/04, tendência que se repete na safra atual, caindo para 2.231 milhões ha. A produtividade por área plantada, que na safra passada caiu abruptamente de 17,63 saca/ha para 12,03 saca/ha na safra 2003/04 deve se recuperar na próxima colheita para 17,49 saca/ha. No que se refere a produção por sacas de 60 Kg.a montanha russa continua e apresenta queda vertiginosa de 2002/03 para 2003/04. Nos números, a redução de uma safra para a outra foi de menos 18.013 milhões de sacas de 60 Kg.. Já para a safra que deve ser colhida a partir de maio de 2005, a recuperação também sensível, pois, os produtores dos principais estados produtores, devem colher algo em torno das 39.029 milhões de sacas de 60 Kg. de diferentes classificações.