O ano de 2004 foi um período de mercado calmo para a agroindústria da citricultura brasileira, sobretudo, no mercado interno, onde os preços da fruta (in-natura) se mantiveram em patamares elevados durante todo o período. Esse movimento proporcionou uma recuperação nos ganhos do produtor que vinha de um fraco período vivido entre 1999 a 2000.
Já para na indústria de suco de laranja, a rentabilidade esteve muito ruim. O suco congelado concentrado (FCOJ), oscilou entre US$ 700 e US$ 800 por tonelada, preço FOB Nova York, o segundo consultores de mercado e representantes das empresas do setor é o pior patamar da história da atividade.
Nelson Batista Martin, engenheiro agrônomo e membro da diretoria do IEA, Instituto de Economia Agrícola diz que, por outro lado, as informações sobre os três furacões que atingiram o estado da Flórida ( EUA), no segundo semestre do ano passado, dão conta de uma quebra na safra americana de laranja da ordem de 33%. Segundo ele, isso deve reverter essa tendência de cotações em baixa para o suco de laranja no mercado internacional. Esse fato aliado a uma redução na intenção de plantio no interior Paulista e parte do Triângulo Mineiro devem forçar a uma elevação nos preços internacionais. No entanto, de acordo com o técnico, os indicadores de mercado, no início do ano, já alertavam para uma possível redução nos preços pagos. Isso de fato aconteceu e os contratos de médio prazo, que têm duração média de três anos, firmados entre indústria e produtores, caíram de US$ 3,00 a US$ 3,50, a caixa para US$ 2,50 a US$ 3,00, fonte bolsa de Nova York, explica ele.
A produção no estado de São Paulo, região onde se concentra mais de 80% da produção de laranja para beneficiamento do país, também sofreu forte variação nos últimos anos. Na safra 2001/02, os produtores colheram cerca de 286 milhões de caixas de 40,8 Kg., número este que pulou para 345 milhões no período 2002/03. Já na safra passada, esse movimento de produção se inverteu e o estado contabilizou uma produção de 280 milhões de caixas de laranja. Dados do CEPEA, Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, mostram que a safra atual, iniciada em junho de 2004 e que deve ser colhida até fevereiro de 2005, deve elevar novamente esses números. As projeções apontam para uma produção superior a 360,7 milhões de caixas, o que segundo especialistas, traz o mercado novamente à normalidade.
Já para o próximo ano, as previsões são de uma diminuição na intenção de plantio de laranja, principalmente na região tradicional do centro para o norte do estado de São Paulo e Triângulo Mineiro. Isso se deve ao aumento da pressão de problemas fitossanitários e também a melhoria da rentabilidade de outros setores como os de cana-de-açúcar, frente a boa remuneração de produtos como o álcool e açúcar no mercado mundial. O cenário de oferta e demanda mostra que as próximas safras deverão estar no patamar de 350 a 390 milhões de caixas, devendo ficar nesse nível sem maiores elevações. A preocupação de toda a cadeia produtiva da laranja com a sanidade dos pomares é muito grande. Como se não bastasse os problemas já existentes, como a CVC, Cancro Cítrico, a pinta preta e a morte súbita, MSC, o setor se viu surpreendido com a chegada do “greening”, doença causada por uma bactéria e que esta causando sérios problemas aos laranjais do interior paulista, explica o especialista.
Nos EUA, segundo maior produtor de laranjas do mundo, ficando atrás apenas da produção brasileira, as safras de cítricos vinham crescendo ano a ano, fechando o período 2003/04 com uma produção de 242 milhões de caixas de laranja colhidas. Este ano, os números mostram para uma retração de 27% na safra americana, o que deve frear o ímpeto desse país na disputa por novos mercados com o Brasil.