Agricultura

Soja – uso racional de insumos determina lucro

Diante desse cenário, os pesquisadores da Empresa têm orientado os produtores a dar atenção especial ao uso racional de insumos em todas as operações – do plantio à colheita – para obter lucro e evitar prejuízos no cultivo da soja.

O pesquisador Antonio Garcia, da Embrapa Soja, recomenda aos produtores a regular as plantadeiras para iniciar a semeadura logo na primeira chuva, já que as variedades de ciclo mais curto devem ser menos suscetíveis à ferrugem. A presença do fungo Phakopsora pachyrhizi, causador da ferrugem, será menor no início da safra, prevê. “Ao semear a soja mais cedo, os produtores também podem controlar melhor os percevejos, que têm sua população aumentada entre a formação e o enchimento do grão”, diz. A principal recomendação dos pesquisadores é o monitoramento constante das lavouras.

Com a expectativa de preços abaixo de R$ 30 por saca, o cuidado com pulverizações contra a ferrugem deve ser redobrado. Cada aplicação de fungicida para combater a ferrugem deve aumentar os custos de produção entre US$ 0,80 a US$ 1 por saca, de acordo com a região, o produto utilizado, o equipamento, a topografia e outras variáveis. “Monitorar a lavoura fará a diferença entre o sucesso e o fracasso”, diz Roessing.

Os custos de produção aumentaram, em média, 20% em relação à safra passada. Em Sorriso (MT), por exemplo, a quantidade de fertilizantes para produzir 56 sacas por hectare deveria ser de 336 kg/ha da fórmula mais utilizada na região. No entanto, a quantidade média de fertilizantes por hectare utilizada na região de Sorriso é de 530 kg/ha. “Isso significa 194 kg/ha a mais do que seria necessário, o que representa um acréscimo de R$ 127,45 por hectare no custo de produção, ou US$ 0,33 a mais por saca”, calcula Roessing.

A Embrapa Soja tem orientado o uso racional máximo dos recursos produtivos para reduzir os custos de produção. “Não se deve deixar de usar insumos, mas aplicá-los com planejamento. Isso colabora para manter o controle dos custos variáveis e, com base neles, é possível determinar a produção mínima para não haver prejuízos”, diz o pesquisador Gedi Sfredo. Para auxiliar na adubação racional, a Embrapa Soja lançou um CD-ROM para facilitar a utilização das tabelas de adubação, o Nutrifert. As planilhas indicam uma recomendação mais precisa, quando se pensa em doses balanceadas.

Na safra 2003/2004, a oferta mundial de soja foi de 190 milhões de toneladas para uma demanda de 208 milhões de toneladas. Esse fato contribuiu para que os preços atingissem valores superiores à média histórica. Para 2005, entretanto, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos estima uma produção de 229 milhões de toneladas de soja. “Caso se confirme esse volume, deve-se esperar preços dentro da média histórica. Ou seja, entre US$ 10 e US$ 12 por saca”, diz Roessing. “O retorno econômico será garantido com aumento de produtividade e/ou racionalização no uso de insumos”, avalia Roessing.

Planejamento é principal aliado

Planejar o plantio da soja é essencial para obter bons resultados na hora da colheita. O pesquisador da Embrapa Cerrados Plínio Itamar de Mello de Souza conta que estudos feitos no centro de pesquisa indicam que, se o plantio for feito fora da época ideal, as perdas podem chegar a 50%.

Ele explica que existem três tipos de variedades. No Cerrado, as precoces devem ser plantadas preferencialmente no final de outubro e início de novembro, e as de ciclo médio e tardias, logo depois, em meados de novembro. A segunda quinzena de outubro e a primeira quinzena de dezembro são períodos marginais de plantio, em que as perdas são mais acentuadas. No caso do plantio tardio, Souza explica que há encurtamento do ciclo, com florescimento precoce e falta de chuva durante a maturação. No plantio antecipado, pode faltar umidade suficiente para a germinação.

Mas conhecer o calendário de plantio não é o único segredo para o sucesso na sojicultura. “O planejamento da cultura deve ser feito com antecedência, observando-se a ocorrência de doenças e de acordo com a maquinaria e a área disponíveis e as variedades escolhidas”, avalia o pesquisador. Ele exemplifica: “Um produtor que escolhe somente uma variedade precoce e dispõe de apenas uma plantadeira para uma área muito grande corre o risco de terminar o plantio fora da época adequada e de sobrecarregar a colheita”.

Escalonamento x variedades

A escolha das variedades também é fundamental. Em grandes áreas, cabe avaliar o plantio de variedades precoces, de ciclo médio e tardias. No período de enchimento dos grãos, a soja é muito sensível a veranico. Caso o produtor tenha uma área inteira plantada com a mesma variedade e ela estiver nesse período, em caso de veranico, a lavoura pode sofrer grandes perdas. No período vegetativo a soja ainda é bastante tolerante. Esta é uma das vantagens de se fazer o escalonamento de plantio.

“Outro aspecto importante do escalonamento é o custo. Uma colhedeira custa cerca de R$ 400 mil. Se o produtor plantar toda a soja ao mesmo tempo, ou uma só variedade, tem que colher ao mesmo tempo”, explica também o pesquisador. “Ao planejar o escalonamento, o produtor está planejando também o uso da maquinaria”, conclui.

Há ainda uma questão preocupante: a ferrugem da soja, que surge, com mais freqüência, no período reprodutivo da planta. Souza explica que, no plantio escalonado, é mais fácil evitar a propagação da doença, controlando o surgimento nas variedades mais precoces. Para isso é necessário um acompanhamento quase diário da plantação. “O produtor deve observar a soja que foi plantada no início para que não haja contaminação de toda a lavoura”, explica.

A Embrapa Cerrados é uma unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, vinculada ao Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

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