Segundo dados da Embrapa Gado de Corte de Campo Grande, MS, atualmente mais de 225 milhões ha, estão ocupados com algum tipo de pastagem, sendo que destes 105 milhões ha com pastagens cultivadas. Essas “lavouras” quando bem manejadas, servem de alimento para o gado nos meses de estiagem e/ou geadas.
Para Luis Roberto Lopes S. Thiago, engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Gado de Corte de Campo Grande, MS, este é um problema sério e que precisa ser mais discutidos entre os pecuaristas. “Os déficits anuais de produtividade gerados pela má administração das áreas de pastagens são de causar arrepio em qualquer analista, mesmo os mais experientes”, observa o pesquisador.
O problema é que nessa fase o clima deixa de ser um aliado e passa a exigir do pecuarista um controle mais próximo sobre o processo produtivo. E é justamente nesse ponto que o problema se agrava. Uma grande parcela dos pecuaristas brasileiros utiliza suas terras de forma extrativista de modo que coloca o sistema em risco de estagnação. O técnico observa que a estocagem de alimento e a suplementação protéica são duas técnicas que, quando trabalhadas corretamente, funcionam como forte aliados dos pecuaristas para enfrentar os períodos de baixa oferta de alimento.
Por seguir esse conceito, a ensilagem de alimentos é uma prática cada dia mais difundida entre os pecuaristas e que não pára de ganha novos adeptos. Por conta da grande quantidade de informação que chega às fazendas, via publicações especializadas ou pelas mãos dos próprios pesquisadores, um grande número de propriedades vem aderindo ao conceito de pecuária de ciclo curto, onde o controle nutricional ganha um papel fundamental. No entanto essa consciência ainda não é de todos. É difícil de acreditar que exista, ainda hoje, fazendas produzindo o popular boi sanfona, aquele que engorda nas águas e emagreça na seca. “É preciso mudar esse conceito radicalmente se o Brasil pretende se manter a frente como principal produtor de carne e exportador de proteína vermelha para o mundo, conclui o pesquisador.
Produto resultante da fermentação controlada de qualquer planta forrageira, a silagem possui um processo de fabricação que, para obter um resultado satisfatório precisa, necessariamente seguir algumas recomendações técnicas. O volumoso que é formado pela parte seca da ração, que pode ser milho, cana-de-açúcar, sorgo ou alguma espécie forrageira, precisa ser finamente picado e acondicionado em ambiente com ausência total de ar, “ambiente anaeróbico”. Uma boa compactação e vedação do silo, bem como a escolha da espécie forrageira a ser ensilada, podem diminuir o tempo de fermentação anaeróbica, (temperatura, CO2 e água), garantindo assim uma silagem de melhor valor nutricional, observa Thiago.
“No entanto, o que estamos observando durante os testes é que no momento do fechamento do silo, uma quantidade de ar permanece junto à massa ensilada, iniciando a uma fase de fermentação aeróbica que dura em média de 4 a 6 horas. Como esse processo vem acompanhado de uma elevação na temperatura é inevitável a perda de nutrientes via queima de Gás Carbônico”, explica.
Uma vez esgotado o oxigênio no interior do silo começa a fase de fermentação anaeróbica. O sucesso desta fase depende do teor de carboidratos solúveis contidos na massa. O produto final desta fermentação ao contrário do que ocorre na primeira fase são ácidos orgânicos (lacto, acetato, butirato), responsáveis pela queda no valor do pH, para índices próximos de 4 considerado pelo pesquisador ideal para manutenção de qualidade da matéria ensilada.
Durante a fase de compactação da massa seca, MS, o processo de enchimento do silo é muito importante. O acondicionamento da MS em camadas que não permitam a permanência do ar é fundamental para um resultado final satisfatório. Para isso deve-se usar máquinas com facas bem afiadas para padronizar o corte entre 2 e 6 cm. “O tamanho da partícula é fundamental para garantir uma boa compactação, densidade e consequente eliminação do ar”, explica Thiago.
O fechamento do silo é outra etapa chave do processo. O técnico fala que ao final de 4 a 5 dias, o silo precisa ser vedado com plástico preto, pois esse é um prazo limite para não acorrer problemas de apodrecimento da massa por fermentação aeróbica. No momento em que o silo é lacrado, a fermentação começa e dura por volta de 21 dias, porém nos três primeiros dias 90% da massa já atingiu o ponto anaeróbico. No momento da abertura do silo alguns parâmetros são indicativos de uma boa fermentação no interior do silo. É desejável uma silagem com coloração clara, verde- amarela, cheiro ácido agradável e tecidos macios e firmes. Se observado no silo grandes quantidades de líquidos escorrendo pode ser indicativo de que há algo de errado no processo de fermentação ou a forragem foi colida abaixo dos 25% de matéria seca recomendados no momento do corte. Por outro lado uma silagem muito seca, acima dos 35% MS, também constitui um problema, porque dificulta a compactação, resultando na presença de mofo.
No que se refere ao valor nutricional da silagem, plantas como milho e sorgo quando adequadamente ensiladas são boas fontes de energia, podendo atingir em alguns casos 65% contra 08% de proteínas. Já com as forrageiras tropicais este índice atinge 55% e 8%, respectivamente. O baixo teor de proteínas identificado na MS, torna indispensável o uso da suplementação protéica, mesmo que seja feita com uso de uréia, importante fonte de nitrogênio. Para o pesquisador da Embrapa, as vantagens de se produzir silagem é garantir um alimento de valor nutritivo adequado para o consumo animal tornando o processo produtivo mais autônomo por menor dependência de condições climáticas.
Além da silagem existem atualmente no mercado duas outras formas de suplementar o gado, uma para reduzir perdas de peso vivo e/ou garantir a manutenção durante o período de seca, denominada “sal proteinado” e outra para garantir ganho de peso independente da estação do ano, os “concentrados”. Uma regra básica para qualquer um desses concentrados é que haja suficiente disponibilidade de pastagem para o consumo do gado, haja vista, que um bovino para se manter saudável precisa consumir, diariamente de 2 a 2,5% do seu peso vivo em matéria seca.
O sal proteinado de seca tem sido adequado para situações onde o capim encontra-se desidratado, mas com boa disponibilidade de massa e teor de proteína bruta inferior a 6%. A oferta deve ser de 1g/Kg de peso vivo dia, de preferência oferecido pela manhã. Não a necessidade de se oferecer a mistura mineral, pois a mesma já se encontra inclusa na formulação. De acordo com o técnico cerca de 80% dos abates realizados no Brasil são de animais terminados em regime de semi-confinamento, ou seja, pasto + complemento.
O conceito de pecuária de ciclo curto é uma imposição que o mercado está fazendo sobre os pecuaristas e para atingir este volume de produção é necessário se utilizar de ferramentas que possibilitem aumento de produtividade por hectare. Como 50% do boi entra pela boca de acordo com o jargão popular é preciso melhorar a qualidade da dieta dos bovinos em pastejo. Isso pode ser alcançado usando-se o suplemento alimentar. Portanto, o “boi nacional” precoce não seria mais totalmente “verde” e sim verde com uma pequena faixa “amarela” representando o uso de grão em sua dieta. “Está situação do bovino no pasto vai caracterizar a bovinocultura brasileira no mercado internacional como o “boi verde/ amarelo”, sinônimo de um produto saudável e ecologicamente desejável”.
Outra opção disponível no mercado são os concentrados, suplemento que pode ser oferecido tanto na seca como na chuva, pois o objetivo da sua aplicação é ganho de peso dos animais. O técnico explica que nestes casos existem diferentes formulações cada uma para atender uma exigência nutricional, porém todas são balanceadas de acordo com o volumoso. Como exemplo o pesquisador mostra formulações oferecidas para animais em fase de recria na seca, onde são oferecidos em quantidades para uma mistura de 100Kg., 62,40Kg. de grão moído de milho; farelo de soja 24,99Kg; uréia 3,70 Kg.; sulfato de amônio 0,66Kg.; mistura mineral 8,10 Kg; ionóforo 0,15 quilos. A quantidade de energia, NDT, concentrada na formulação foi de 72% contra 28% de Proteína, PB. A ração foi oferecida na base de 500g/animal/dia, pela manhã, em cocho com espaço de 30cm linear/animal.
Já em sistemas de semi-confinamento em período de seca, a formulação trazia, em quantidades par uma mistura de 100Kg., 77,13Kg. de grãos de milho moído; 18,27Kg. de farelo de soja; 1,60 Kg. de uréia; o,29 Kg. de sulfato de amônio; 1,33Kg. de calcário calcítico; 1,33 Kg. mistura mineral e 0,04Kg. de ionóforo. A quantidade de energia do segundo exemplo é de 80%, NDT e 21% PB. A oferta para os animais segue o modelo do primeiro exemplo.
Com animais em fase de terminação no sistema de confinamento os números não diferiram do exemplo anterior. O NDT da fórmula foi de 80% contra 21% de PB. A aplicação no animais é que sofreu algumas variações. A oferta na base de 8Kg. de peso vivo dia metade pela manhã e metade à tarde em cochos de 50cm linear/ animal.
A agropecuária CFM localizada no município de São José do Rio Preto, SP, reúne, hoje, um plantel de aproximadamente 94,8 mil cabeças, distribuídas em 12 fazendas nos estados de São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. O principal projeto em andamento, é a seleção de gado Nelore PO para abastecer o mercado de cruzamento industrial. O rebanho conta com 44 mil matrizes que servem de base genética, a alimentação é realizada 560 a pasto e sal mineral, explica Luís Adriano Teixeira, coordenador de pecuária do grupo.
Segundo Teixeira a preparação do gado para o período de inverno é realizada logo no princípio das águas. Primeiro é feito um levantamento das áreas onde a pastagem a degradação está mais visível para um posterior separação dos lotes. Alguns lotes recebem durante as águas uma lotação superior a comumente observada. Essa manutenção dos pastos degradados ocorre de modo a preparar o solo para o período seco. “Para regiões onde os períodos de estiagem são muito longos, é muito importante conhecer e planificar o uso das pastagens. Assim é possível saber a quantidade de matéria seca produzida e como vai ocorrer a ensilagem deste material”.
Atualmente a CFM segue um modelo nutricional que serve para todas as propriedades envolvidas. São oferecidos silagem de milho, cana-de-açúcar e ração a base de farelo de soja. O ganho de peso dos animais Nelore varia de 600g./dia par animais em fase de cria e recria a pasto para 1200g. após os testes de rendimento, avaliação genética e teste de performance física. No caso dos animais Montana, após a desmama os bezerros recebem o sal proteinado de baixo consumo oferecido no pasto. “Na fase de terminação esses animais conseguem atingir um ganho de peso diário de 1900 g. dia dependendo do manejo utilizado”, explica o coordenador. “Desta forma é possível abater animais de 20 a 24 meses pesando até 20 arrobas no caso do Montana e 20 a 24 meses e 18 arrobas para o Nelore”, conclui.