Nas condições climáticas de Roraima, no período mais seco do ano, especialmente de janeiro a março, a vegetação está seca ou deposita sobre o solo grande massa de folhas e de galhos secos que ao primeiro fósforo iniciam uma grande queimada. Não há vegetação que resista ao fogo neste período, nem mesmo, a mata.
Portanto, a única maneira de não haver queimadas na propriedade, é um produtor consciente e preparado para combater o fogo. Sistemas de produção adequados para a região, áreas isoladas por aceiros, faixas limpas ou ainda queimadas com antecedência, para evitar queimadas generalizadas na propriedade, são soluções viáveis para o produtor.
Partindo-se do sistema broca-derruba-queima, o único fogo ainda necessário é o para abertura de área nova para cultivo. Depois da área aberta nada mais justifica o fogo, a não ser em pequenas manchas, pois daqui para frente, o fogo só traz prejuízos ao produtor que, tem a falsa impressão, que o fogo favorece a limpeza da área da roça e fertiliza o solo, melhorando o desempenho das culturas. Se houver necessidade absoluta do fogo em alguma parte da propriedade, essa queimada não deve ser feita no período mais seco do ano quando seu controle é impossível.
Agricultura sem fogo, portanto, depende do produtor. Mas como produzir sem fogo? Usando sistemas de produção que adicionem matéria orgânica ao solo, promovam sua cobertura e usando fertilizantes minerais orgânicos. Quem faz plantio direto já sabe da desgraça que causa uma queimada indesejada. É essa desgraça que o produtor tem de perceber quando promove uma queimada. Depois de perceber isso, com certeza ele vai batalhar para não haver mais queimadas.
O perigo do fogo é eminente quando se desenvolve o monocultivo em áreas potencialmente de risco, devido a grande formação de material vegetal pela cultura, bem como do seu manejo inicial para implantação desta. O uso do fogo repetido anualmente como prática natural do homem do campo, leva a vários problemas, como destruição da microbiota do solo, aumento da compactação, volatilização de nutrientes essenciais, destruição de inimigos naturais e outros, sendo o seu benefício, mínimo quando se relaciona a fertilidade do solo e desenvolvimento da cultura.
Como viabilizar sistemas de produção de culturas anuais sem fogo. Após a queima da área derrubada plantar arroz, milho, ou até soja. Entre as fileiras de milho plantar feijão caupi, se o período de chuvas permitir pode-se plantar até sorgo. Introduzir espécies de cobertura e de melhoria de solo como: guandu, crotalária, puerária ou calopogônio que protegem o solo do sol e da chuva, fixam e reciclam nutrientes e combatem as invasoras, formando um manto de massa seca sobre o solo. No período chuvoso seguinte plantar sobre esse manto vegetal, milho, mandioca, sorgo, se for possível usando uma adubação mínima. Acompanhar esses plantios com curiosidade e interesse. Verificar os melhores resultados e programar os próximos passos. Após dois ou três anos com esses sistemas o produtor vai dizer: fogo! Nunca mais.
Oscar José Smiderle e Daniel Gianluppi são pesquisadores da Embrapa.