O uso dos inseticidas/acaricidas de amplo espectro, freqüentemente induz a um aumento no número de aplicações durante a safra, devido a eliminação dos agentes bio-reguladores (predadores e parasitóides). Na ausência destes agentes, que na maioria dos casos não são considerados pelos produtores de algodão, as pragas – chaves podem se desenvolver livres da ação de controle exercida por estes organismos,”explica Soares.
O especialista diz que a destruição dos inimigos naturais, pelas sucessivas pulverizações realizadas para combater o reaparecimento das principais pragas, leva ainda a outros efeitos colaterais indesejáveis, tais como, resistência das pragas a inseticidas e acaricidas, surto de pragas secundárias, resíduos indesejáveis na colheita, contaminação do ambiente e risco de intoxicação.
Ele afirma que o manejo seletivo dos pesticidas é uma propriedade que deve ser levada em consideração no momento de escolha do produto e na maneira de utilização do mesmo, que deve ser realizada de modo a preservar os organismos bio-reguladores presentes no agroecossistema algodoeiro.
“O agrotóxico ideal, sob o ponto de vista da produção agrícola e do manejo integrado de pragas (MIP), seria aquele que apresenta uma seletividade total, isto é, que elimine apenas a praga visada, preservando os demais organismos benéficos, como os artrópodos, evitando com isso o desequilíbrio biológico”, detalha Janduí.
Basicamente todo produto apresenta dois tipos de seletividade: a fisiológica e a ecológica. O pesquisador explica que a seletividade fisiológica é aquela inerente ao produto em si. Manifesta-se devido a diferença de fisiológica entre as pragas e parasitóides, sendo que as pragas são mortas a uma concentração do produto que não afeta seus inimigos naturais.
“Já a seletividade ecológica se baseia nas diferenças ecológicas existentes entre as pragas e os inimigos naturais. Pode-se obter seletividade ecológica dos agrotóxicos em função da estratégia de aplicação a ser adotada no controle das pragas”, acrescenta.
O pesquisador paraibano conta que a seletividade ecológica requer do cotonicultor um conhecimento amplo dos aspectos biológicos, ecológicos, de flutuação populacional, das pragas e dos artrópodos benéficos, etc. “O produtor pode e deve trabalhar a seletividade ecológica dos produtos como uma maneira de compensar a falta de seletividade fisiológica da maioria dos agrotóxicos”, recomenda o pesquisador da Embrapa.
Soares dizem que podem sr explorados vários aspectos da seletividade ecológica. O primeiro deles leva em conta a questão do espaço: o produto deve ser aplicado somente nos locais onde as pragas encontram-se. “Por exemplo, a broca da raiz do algodoeiro (Eutinobothrus brasiliensis) é uma praga que a ataca o tronco da planta de algodão. Portanto, deve ser controlada em pulverizações dirigidas e não por pulverizações que irão atingir toda a copa (parte aérea da planta) e conseqüentemente provocar grande mortalidade aos organismos benéficos”, ilustra Janduí.
Já o ácaro vermelho (Tretanychus ludeni) é uma praga que ocorre num determinado foco da área total do algodoeiro, “Esta praga deve ser controlada somente nas reboloeiras, diminuindo, portanto, os custos de produção e os desiquilíbrios biológicos”, defende.
Outra opção é a seletividade ecológica tendo como base a formação do produto. “Inseticidas de ação sistêmica, aplicados na forma de granulados ou sementes tratadas, são menos prejudiciais aos artrópodos benéficos, atingindo especificamente as pragas que iriam se alimentar das plantas. Esta estratégia de pulverização é usada para o controle de pulgão (Aphis gossypi), mosca branca (Bemisia angentifolii) e tripes (Trips tabaci)”, detalha Soares.
A seletividade comportamental é uma estratégia que faz uso de armadilha com feromônio (hormônio de atração sexual) e de iscas tóxicas para controlar o bicudo do algodoeiro (Anthonomuns grandis) pode auxiliar no controle químico. É possível fazer ainda uma seletividade ecológica no tempo: “o agrotóxico deve ser aplicado quando a praga estiver presente e suscetível ao produto aplicado. Nesse caso, os cotonicultores devem aplicar inseticidas para controlar agindo em função da idade da praga”, detalha o pesquisador.
A dosagem do pesticida é outra modalidade de seletividade indicada para uso racional dos produtos tóxicos. O produtor deve utilizar a dosagem correta dos inseticidas e a acaricidas. “Uma dosagem cima do necessário pode promover um efeito negativo sobre o ambiente”, diz Janduí Soares.
O pesquisador tem feito testes de seletividade nas condições dos campos experimentais da Embrapa Algodão. Janduí diz que a adoção do manejo integrado de pragas e o uso seletivo de pesticidas podem oferecer ao produtor de algodão uma economia de até 50% nos gastos com esse tipo de insumo. “Os produtores da região interessados em adotar essas técnicas podem nos procurar diretamente aqui na Embrapa. Também estamos difundindo essas práticas em treinamentos e dias-de-campos por todo Brasil”.