Se comparados com animais normais, os bovinos com musculatura dupla têm menos osso, menos gordura, mais músculos e uma alta proporção de “cortes de carne com alto valor de mercado”. O principal resultado disso, é a “introdução” progressiva do gene para musculatura dupla em algumas raças de corte.
A síndrome da musculatura dupla foi descrita pela primeira vez em 1807, sendo hoje observada em diversas raças bovinas. Através da análise dos padrões de segregação, tem-se, atualmente, a informação de que o modo de herança é autossômico e o gene mh (hipertrofia muscular), localizado no cromossomo 2, é “parcialmente recessivo”, pois quando apenas uma cópia do gene está presente há algum efeito na expressão da característica. No entanto, para a expressão completa do fenótipo musculatura dupla, o animal deve ser homozigoto, ou seja, possuir dois genes mh.
O conhecimento na área da Biologia Molecular vem se popularizando, e a cada dia crescem as possibilidades de se melhorar os rebanhos no Brasil, de maneira rápida e eficiente utilizando-se de técnicas moleculares. Dessa forma, os programas de seleção que vêm sendo utilizados por algumas Associações de Criadores, pretendem incorporar aos pedigrees, a genotipagem de características de interesse e/ou indesejáveis. O crescente interesse de criadores de bovinos vem contribuindo de forma decisiva para este processo, à medida que, ao comunicarem problemas específicos de uma raça, estão ao mesmo tempo fornecendo informações e muitas vezes até mesmo amostras de material a serem investigadas, fomentando, assim, novas pesquisas. A Musculatura Dupla é uma das características de interesse que tem sido estudada em várias partes do mundo.
O diagnóstico desta característica é de grande importância para a bovinocultura nacional, uma vez que representa possibilidade concreta de aplicação em programas de seleção assistida por marcadores genéticos, permitindo a identificação, nos rebanhos, dos indivíduos portadores e homozigotos para a mutação, determinando as vantagens e desvantagens seletivas de animais que possuam tal característica. Além disso, pouca informação existe sobre musculatura dupla em Bos indicus, ou sobre a performance de cruzados Bos indicus x Bos taurus MD (Musculatura Dupla), principalmente quanto à qualidade de carne. Esta é uma área que merece atenção, uma vez que apresenta grande potencial de aplicação em programas para melhorar a qualidade da carne da espécie Bos indicus, através do uso cuidadoso e bem planejado de touros com musculatura dupla.
Tendo em vista esta demanda, o Laboratório de Genética da Escola de Veterinária da UFMG tem realizado pesquisas para detecção do gene mutante causador da musculatura dupla. Estão sendo testados touros de Centrais de Inseminação e animais de vários rebanhos da raça Marchigiana e seus mestiços, para determinar a freqüência da característica na população nacional. Após o estudo, caso haja interesse da comunidade, o teste poderá ser disponibilizado aos criadores interessados, que poderão utilizá-lo para identificação dos genótipos dos reprodutores, no melhoramento genético, principalmente daqueles utilizados em cruzamentos para produção de compostos ou híbridos, cuja finalidade seja a produção de carne de melhor qualidade.
É importante destacar que a pesquisa vem sendo feita em cooperação com a Universitá della Tuscia, uma vez que a sequência marcadora para essa característica foi identificada pelo grupo do prof. Alessio Valentini. Assim sendo, se houver demanda para testes futuros, estes serão realizados mediante licença para uso comercial.
Claudia Salviano Teixeira ; Denise A. Andrade de Oliveira
Escola de Veterinária da UFMG – Laboratório de Genética
claust@dedalus.lcc.ufmg.br