Nas últimas três temporadas, animais de sua propriedade brilharam nas pistas de todo o Brasil, mostrando-se, inclusive, reprodutores de excelência, uma vez que, em 2002, seus filhos trilharam o mesmo caminho.
O titular da fazenda Água Marinha, situada no município de Águas de Santa Bárbara/SP, já era selecionador de Canchim pela Agropecuária Kifil, lotada no Mato Grosso do Sul, que também realiza cruzamento industrial para produção de carne em escala.
Mas em 1996, visualizou um novo caminho para agregar mais valor aos seus produtos Canchim, abrindo uma vitrine de comercialização em São Paulo, a principal praça de negócios envolvendo gado de seleção do País. Foram dois anos de busca por uma propriedade bem localizada, mas cujas características favorecessem uma implantação menos onerosa do projeto. Foi então que, em 1998, Deniz encontrou a Água Marinha.
Mas, na contramão dos objetivos empresariais do pecuarista, no início de 1999, o Governo Federal fechou as fronteiras sanitárias entre os dois Estados, inviabilizando o propósito original do pecuarista. Sendo assim, a qualidade do Canchim da Kifil teve que se manter confinada. Logo, a solução encontrada foi a de formar um novo criatório, independente e com características próprias. Mas as condições do negócio não permitiam uma espera muito prolongada, necessária à formação de um plantel a partir dos sucessivos cruzamentos entre o zebu e o charolês, como fora empreendedo na Kifil. Restou a Deniz, enfim, buscar matrizes puras de outras seleções, missão que o absorveu praticamente durante todo o ano de 1999, chegando a investir em diversos leilões da raça.
Na aquisição destes animais que compõem a atual base genética da Água Marinha, a experiência de formação de um Canchim produtivo e muito rústico adquirido na Fazenda Braço Quebrado (integrante da Kifil), desde 1992, foi decisiva. Escolheu criteriosamente entre 80 e 90 fêmeas PO, além de Nixon, um dos melhores touros de seu tempo, para repasse, pois em nenhum momento abriu mão da inseminação artificial dos melhores sêmens disponíveis. “Houve casos em que tive que comprar uma fêmea criada a campo, pela qualidade da bezerra ou do bezerro que ela trazia ao pé”, lembra Dennis, que abre seus critérios de escolha e relata um pouco sobre seus olhos de selecionador.
“Sempre tive boa memória e o cuidado de acompanhar a evolução dos principais animais. Sendo assim, ao botar os olhos num bom bezerro, de saída imagino alguns caminhos que ele possa seguir na sua evolução (nunca esquecendo de ponderar sua origem genética), caso o trato disponibilizado seja o indicado para a plena manifestação do seu potencial. De cada três que eu destaco, acabo acertando pelo menos um”, explica Deniz. Detalhes como “um bezerro muito agitado” são importantes para o selecionador. Segundo ele, um animal com esta característica vai gastar boa parte da sua energia em movimentações desnecessárias, logo não haverá suficiente para formar boa cobertura muscular e bom acabamento de gordura.
Outros critérios fundamentais na avaliação dos animais trazidos à Água Marinha foram os desenvolvimentos ponderais de touros e vacas (pais e mães dos animais em escolha), precocidade sexual e estrutura óssea condizente à capacidade de receber a ideal cobertura muscular, sempre guardando o equilíbrio necessário para o esperado em carcaças masculinas e femininas (conformação de touros e vacas). Além disso, valorizou também a boa deposição de gordura em cada um deles, desde as idades mais jovens, já que a característica revela a conversão alimentar que se deseja.
Deniz, porém, ainda ratifica sua preferência por animais de mucosas escuras, mesmo que todo o conjunto do animal sinalize boa produtividade. “A pigmentação mais firme é condição essencial para animais que trabalham na pecuária Brasileira, devido às altas insolações”, explica, atentando ainda para a necessidade das reses apresentarem pelagem mais curta, de modo a não exigirem em demasia do metabolismo dos animais para a manutenção da temperatura corporal. “Também a pelagem comprida acaba retirando a energia que o animal poderia utilizar na formação de uma boa cobertura de carne e no seu acabamento de gordura”, afirma.
Para o selecionador, machos precisam possuir cabeças e peitos bastante masculinos, porém garupa ampla, onde está a carne de primeira. Do contrário, não respiram com a facilidade necessária para grandes caminhadas atrás da fêmea zebu, não apresentam boa capacidade digestiva e não repassam às filhas garupas que facilitem os partos e que também possam carregar boa quantidade de carne. Da mesma forma, a fêmea tem que ser delicada e dócil para manter a boa habilidade materna característica da raça. Quanto a aprumos, Deniz entende que precisam estar muito próximos de perfeitos, embora tolere pequenos problemas, passíveis de correção pelo acasalamento, quando não poderão ser ignorados.
Nas pistas de julgamento, os critérios do criador mostram sua eficiência. Já em 2001, Baruch sagrou-se Campeão Nacional Frigorífico aos 11 meses de idade. Ainda no mesmo ano, mas já de afizo Água Marinha, Bélgica foi a Campeã Nacional Bezerra. Em 2002, Bagatelle, Reservada Grande Campeã Nacional; Bavária, Grande Campeã em Londrina/PR e Goiânia/GO. Além disso, ainda pode-se destacar Clinton, que por várias vezes foi Grande Campeão (exposições regionais) e Reservado Campeã Nacional Frigorífico. E também filhas do raçador Júri, como Camomila, Campeã Novilha Menor nas últimas três exposições que disputou; e Cambraia, Reservada Grande Campeã em Araçatuba/SP.
A criação
Conhecimento e boa genética, além de investimentos, somam-se a um bom trabalho de fazenda para se alcançar os objetivos. A Água Marinha possui 165 alqueires, em topografia quase plana, divididos em piquetes menores de tifton e maiores de Tanzânia. Boa parte da área teve a terra recuperada, de modo que as gramíneas pudessem alcançar um teor protéico satisfatório. Além de pastejo, a dieta básica consiste de silagem de milho, concentrado adequado às várias categorias animais e feno. No inverno, os animais ainda contam com o reforço proveniente dos piquetes de aveia.
Na fazenda Braço Quebrado, a criação de Canchim não conta com o feno, que tem sua produção praticamente inviável, e com a aveia, que no Mato Grosso do Sul está completamente desambientada. Em contrapartida, os animais dispõem de uma maior volume de silagem de milho, cana-de-açúcar picada e de concentrados balanceados rigorosamente sob as avaliações nutricionais. Ambas propriedades criam animais dirigidos a exposições, pois desde o início do trabalho com a raça, esta tem sido a principal ferramenta de marketing dos criatórios.
Como resposta zootécnica, o gado de Deniz consegue alguns índices importantes no que diz respeito à performance produtiva. Os bezerros de pista conseguem registrar ganho de peso diário na faixa de 1,3 mil g/dia, contra 1,2 mil g/dia das bezerras. Comparativamente, os mesmos animais a campo ganham 850g/dia e 770g/dia, em média, respectivamente. A primeira inseminação acontece quando as novilhas alcançam 330kg, normalmente entre os 15 e 16 meses de idade, porém com algumas exceções para animais que aos 12 meses já atingiram evolução e maturidade suficientes.
É exigência do criador fêmeas que derrubem um bezerro por ano, sob pena de deixarem o plantel, por melhor conformadas que sejam. Os andrológicos são obtidos já aos 12 meses para os machos mais precoces, mas na média também entre 15 e 16 meses de idade. Deniz faz questão de manter no plantel somente os animais mais precoces. Em seu processo de seleção, o criador destaca a necessidade de se ter consciência técnica apurada, porém com enorme disponibilidade de estar aprendendo a cada acasalamento. Ouvir é muito importante, tanto que seu veterinário e técnico da ABCCAN, Marcelo Franceschi, seu administrador Luiz Sergio de Oliveira, e o capataz do gado, Serginho (filho de Sergio), participam das discussões com bastante espaço e força para opinar sobre os acasalamentos.
Outro ponto que Deniz faz questão de destacar é o respeito pelas raça Canchim, que “não pode ter seu papel dentro da pecuária brasileira renegado a segundo, diante dos propósitos de um único criador”. O presidente crê na humildade como maior garantia de sucesso no trabalho, ou seja, maior número de acertos frente aos erros: “o Canchim é uma raça que gratifica o trabalho realizado com dedicação e consciência técnica. Porém, chamo ao fato de precisarmos ser persistentes, buscando a segurança técnica onde ela estiver. Errar em pontos que poderiam ser evitados traz prejuízos importantes, muitas vezes fundamentais para o desestímulo de quem empreende”, conclui.