De acordo com Alberto Reis, presidente do Associação Paranaense de Criadores de Charolês, todo e qualquer esforço para o aprimoramento do animal tem sua recompensa: “Essa raça está entre as melhores no que se refere à conversão alimentar, garantindo maiores lucros em menos tempo de trabalho”, avalia.Na prática, a cabanha concentra a força na administração de sucessivos e controlados cruzamentos entre diferentes variedades da raça, na tentativa de unir num mesmo animal os melhores genes de cada uma.
Assim como Reis, outros 500 criadores ativos da raça charolesa buscam os animais mais bem adaptados ao clima brasileiro. Isso porque os charoleses de origem, encontrados no século XVIII na França, apresentam características européias que refletem negativamente no seu desenvolvimento quando submetidos ao calor tropical – principalmente com a adaptação ao sistema rústico de criação brasileira. Além do ganho de peso, o objetivo do desenvolvimento genético da raça tem sido conseguir animais precoces, no que se refere ao acabamento da carcaça e entoureamento, além de bezerros menores para um parto mais fácil e maior vida sexual ao touro.
“Várias dessas características ainda precisam ser inseridas nos nossos charoleses. Por isso, os trabalhos genéticos estão voltados para cruzamentos com as variedades produzidas nos EUA, já adaptadas ao calor e criações extensivas”, explica Alberto. Vale lembrar, porém, que a genética brasileira já se encontra em estágio bastante avançado – o que leva alguns especialistas a preverem apenas mais oito ou dez anos para se chegar ao perfeito charolês brasileiro. Na Cabanha Riacho Fundo, por exemplo, os animais são evoluções de animais vindos principalmente da França, Inglaterra e Estados Unidos. Os “top de linha”, que representam de 7% a 8% do rebanho, podem alcançar um peso de até 550 kg em 12 meses. Já os animais adaptados e criados no pasto, o ganho médio diário fica em torno de 1 kg. “A rusticidade é uma das características mais importantes para os criadores brasileiros, pois nenhum outro país do mundo tem um pasto tão abundante e de qualidade quanto o nosso”, enfatiza, lembrando que isso influi diretamente na qualidade – e no preço – da carne: gado de corte originado de cruza com charolês pode valer até 20% a mais.
Porém, com o conhecimento de quem viaja o mundo todo, estudando e importando novas técnicas de melhoramentos genéticos, Reis critica a posição comercial do Brasil em relação ao mercado de corte: “A pecuária brasileira ainda tem muito o que evoluir, não apenas no que se refere aos animais, mas principalmente na área comercial. Enquanto a nossa carne não passa por barreiras sanitárias no exterior por causa da vacina contra a febre aftosa, o Brasil compra qualquer porcaria do exterior”.
Outras características já encontradas nas variações brasileiras da raça são o pêlo curto (que evita doenças como o carrapato), possibilidade de confinamento super-precoce com abate do boi aos 14 meses e o charolês mocho, gado sem chifre, desenvolvido para maior adaptação em confinamentos. “Criação brasileira exportada para o mundo todo!”, orgulha-se Alberto Reis. Todas essas características fazem do charolês um animal muito procurado em leilões, o que ajuda a explicar o fato de os animais de elite, melhorados geneticamente, só serem abatidos ao fim da vida reprodutiva – isso quando o criador não vai ao extremo: “Admito que alguns campeões ganham a minha amizade e recebem aposentadoria de luxo até que morram por causas naturais”, brinca Alberto.
As mais de mil cabeças da Cabanha Riacho Fundo são tratadas à base de pastagens como brizantha e hermátria, no verão, e aveia e silagem de milho no inverno. Graças ao casamento agricultura-pecuária, Alberto Reis garante que é durante o inverno que seu gado tem o banquete mais completo e abundante. “A safrinha de milho e o rápido desenvolvimento da aveia nessa região permitem ao nosso charolês rústico um ganho de peso, na pior das hipóteses, de 800 gramas/dia nessa época do ano”, conta o criador. Nos 1.300 hectares de terra divididos em 30 piquetes, os animais são estrategicamente remanejados com freqüência diária ou semanal para maior preservação do solo. “O sistema de rotação de pastagem nos permite uma criação de até oito cabeças por hectare, mantendo a alta qualidade que caracteriza os animais da cabanha”, explica.
Além de apostar na criação de gado, Alberto Reis mantém uma agricultura paralela e igualmente lucrativa de soja, milho e trigo. Em 98, ele adquiriu uma outra propriedade de cerca de dois mil hectares na mesma região, que está sendo preparada aos poucos para a agricultura. Para tocar o negócio e fazer do casamento das atividades um sucesso, ele aposta na tecnologia. “O investimento em máquinas vale cada centavo”, conta. Só em 2002, por exemplo, ele estará investindo cerca de R$ 700 mil em tecnologia – a maior parte em novas máquinas, que irão completar a já extensa frota de oito tratores, quatro colheitadeiras, cinco plantadeiras e dois pulverizadores, fora os implementos. Além disso, as áreas que produzem grãos são “fiscalizadas” periodicamente para se avaliar que tipo de corretivo o solo está precisando. “Nada aqui é feito por acaso”.