Revista Rural – Durante o Congresso Brasileiro de Agronegócio, o senhor apresentou um grupo de projeções montado em um cenário chamado Meta Brasil. O que estas projeções demonstram?
Ivan Wedekin – Demonstram que o Valor da Produção Agropecuária (VPA) será de US$ 53,9 bilhões em 2010, sendo US$ 23,2 bilhões vindos da pecuária e US$ 30,7 bilhões da agricultura, se somados o desempenho das 15 principais cadeias produtivas (carne bovina e suína, soja, cana, frango, milho, leite, café, arroz, fumo, laranja, algodão, trigo, cacau e frutas secas) que foram os responsáveis por 92% do valor da produção agropecuária em 2001.
Revista Rural – Quem elaborou este estudo?
Wedekin – Um grupo de consultores, coordenados pelo economista Paulo Rabello de Castro.
Revista Rural – E do que ele se compõe?
Wedekin – De um conjunto extenso de projeções e estatísticas com base em estimativas do Produto Interno Bruto (PIB) do agribusiness em 2000, do qual foram projetados o valor e o volume de produção necessários para atender o consumo interno dos brasileiros e a demanda externa em 2010.
Revista Rural – E como foram feitas estas projeções?
Wedekin – Elas foram feitas dentro do cenário de Manutenção, que representa a continuidade das condições macroeconômicas e políticas já existentes no país. E dentro do cenário Meta Brasil, que é a proposta do Plano Estratégico, com uma visão mais desafiadora, porém tecnicamente realista e possível. Tudo dependerá de um ambiente macroeconômico de crescimento competitivo, juros reais cadentes, câmbio real desvalorizado e crescimento populacional dentro da média mundial.
Revista Rural – E como seria este cenário de Manutenção?
Wedekin – No cenário de Manutenção, o Valor de Produção Agropecuária seria de US$ 50 bilhões em 2010, sendo US$ 22 bilhões na pecuária e US$ 28 bilhões na agricultura. Em 2001, o VPA foi de US$ 38,6 bilhões. Baseado nos prognósticos do cenário Meta Brasil, o VPA cresceria 3,9% a.a., valor esse próximo ao desempenho esperado para o PIB, de 4,0% a.a.
Revista Rural – E como é este visão Meta Brasil?
Wedekin – Dentro da visão Meta Brasil, as exportações do agribusiness devem crescer 4,3%. Em 2001, somaram US$ 24,1 bilhões e, em 2010 devem chegar a US$ 34,8 bilhões. Por outro lado, as importações deverão crescer 1,5% a.a., de US$ 4,9 bilhões em 2001, para US$ 5,5 bilhões em 2010. Projeta-se que o agribusiness garantirá um saldo positivo na balança comercial de mais de US$ 29 bilhões.
O agribusiness nacional exportou em 2001, US$ 24 bilhões, respondendo por 40% das exportações e 25% do valor da produção total brasileira. Além disso, gerou um superávit na balança comercial de cerca de US$ 19 bilhões, sendo o único negócio a apresentar resultados positivos e contribuir para os US$ 2,6 bilhões de superávit em 2001.
Revista Rural – Quais os produtos com melhor desempenho em 2010?
Wedekin – Só é possível ser competitivo quando o desempenho está acima da média. Com essa visão, eu cito o óleo de soja, farelo de soja, soja em grão, frango e banana, que foram produtos com evolução acima do PIB mundial, que cresceu 3,6% na década de 90. No Brasil, o frango, a soja em grão e o farelo crescem quatro vezes o PIB total brasileiro.
Revista Rural – Qual o cenário que este estudo projeta para grãos?
Wedekin – O cenário Meta Brasil projeta uma produção de grãos de 142 milhões de toneladas em 2010, um crescimento de 4,1% ao ano. Em 2001, a produção foi de 98,4 milhões. No cenário de Manutenção, a produção atinge 133 milhões de toneladas, com crescimento anual de 3,4%. O consumo interno, segundo a Meta Brasil, aponta 118 milhões de toneladas em 2010, enquanto as exportações crescerão mais que o consumo interno: cerca de 30,4 milhões de toneladas e as importações de 11,8 milhões, sendo o saldo em 18,6 milhões de toneladas, o que representa crescimento de 5,1% ao ano.
Revista Rural – Quais os produtos que você daria destaque nesta projeção?
Wedekin – Para a soja que será o produto de maior crescimento, com 5% ao ano, chegando a 59 milhões de toneladas em 2010. Espera-se que o milho atinja esses mesmos números. O arroz ficará em terceiro lugar, com 12 milhões, o trigo em quarto, com 4 milhões e o feijão em quinto lugar, com 3 milhões.
Revista Rural – Quais as estimativas para a carne e o leite?
Wedekin – Nós projetamos uma produção total de 22,4 milhões toneladas de carnes em 2010, diante dos 15,7 milhões em 2001, crescimento de 4,0% a.a. Haverá uma queda no consumo mundial de carne bovina, porém a produção brasileira crescerá 3,6% ao ano. O frango é o “garoto prodígio”, manterá o crescimento em ritmo acelerado, podendo alcançar a carne bovina nos dois cenários, cerca de 9,5 milhões de toneladas em 2010, dentro do Meta Brasil. A carne suína vai chegar a 3,3 milhões de toneladas, com os custos da cadeia produtiva. As exportações totais da carne devem atingir 1,3 milhão de toneladas, com taxa anual de crescimento de 4,8%, segundo o Meta Brasil. A demanda interna por leite crescerá 3,0% a.a., mas a produção será ainda maior, por conta da redução das importações.
Revista Rural – E para o açúcar?
Wedekin – Com uma produção em 2001 de 290 milhões de t., a perspectiva no Meta Brasil será de 413 milhões de t. em 2010. Isso dependerá da expansão do mercado de álcool. Nesse cenário, espera-se a retomada e revitalização das vendas de carros a álcool, atingindo a cifra de 200 mil veículos por ano. Em 2010, a produção de álcool seria de 14 bilhões de litros, sendo que 2 bilhões deles seriam exportados. Espera-se que o uso de álcool como combustível cresça em todo o mundo.
Revista Rural – Como fica a laranja neste estudo?
Wedekin – Não há como projetar um crescimento importante para a laranja em 2010. Em 2001, a produção foi de 267 milhões de caixas e no Meta Brasil espera-se que cheguem a 500 milhões de caixas, consumo in natura de 180 milhões e a moagem industrial de 320 milhões, limitando a exportação de suco para 1,26 milhão de t. nos dois cenários. Isso se deve à crise de preços que os produtores passaram recentemente, além do abandono de laranjas, problemas sanitários e o ciclo da lavoura que não favorece a expansão. O aspecto positivo, no caso da laranja, seria o ajuste entre oferta e demanda e o aumento da renda na cadeia produtiva. O crescimento do mercado mundial depende da abertura de novos compradores.
Revista Rural – Qual a projeção para o café?
Wedekin – Espera-se que a sua produção atinja 49 milhões de sacas e uma exportação em torno de 32 milhões de sacas. Em 2010, o Brasil alcançará 30% do mercado mundial de café. Minas Gerais é o principal estado produtor, especialmente a região Sul. Há novos empreendimentos de sucesso na região de Barreiras, na Bahia.
Revista Rural – E o algodão?
Wedekin – O crescimento da produção ficará abaixo da média, cerca de 3,8% ao ano tanto no algodão de caroço, como em pluma. O consumo interno apresentará crescimento de 3,4% ao ano, dentro da visão Meta Brasil. A exportação deverá absorver cerca de 16% a 18 % da produção. O grande exportador continuará a ser os EUA, hoje responsáveis por 30% do mercado mundial. Destaque para os estados do Mato Grosso, com produção de 1 milhão de toneladas em 2001, Goiás, com 254 mil t., e São Paulo, com 148 mil t.