Jonas de Souza, chefe do serviço de pesquisa do Centro de Pesquisas do Cacau (Cepec), órgão que integra a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), afirma que a doença surgiu no início de maio de 1989, com a introdução do fungo da vassoura-de-bruxa (crinipellis perniciosa) no cacau baiano.
Naquela época, a Bahia respondia por 85% da produção nacional, que alcançava 420 mil toneladas. A doença, que destrói progressivamente as partes verdes da planta, se espalhou pelos cultivos do Estado e, em 1995, dominava toda a região. Resultado: a produção na safra 1999/2000 caiu para 96 mil toneladas.
Souza explica a doença surgiu na região amazônica. E que é endêmica na América Central, Peru e Colômbia. Mais: a queda na de produção na Bahia pode ser aliada a fatores como condições climáticas ruins e preços baixos no mercado internacional.
Até 1990, o Brasil era o segundo maior produtor mundial, classificação liderada pela Costa do Marfim. Após a crise, foi rebaixado para o quinto lugar, em que se mantém até hoje. Em trabalho publicado pela Ceplac, Ricardo Tafani mostra que a Costa do Marfim mantém a liderança, com 41% da produção mundial e 1,150 milhão de toneladas. O segundo lugar é ocupado pela Indonésia, com 15% da produção e 410 mil toneladas. Segue-se Gana, com 14% da produção e 405 mil toneladas. Nigéria, com 6% da produção e 170 mil toneladas. E Brasil, com 4% da produção e 130 mil toneladas.
Desde a safra 2000/2001, a situação começou a se modificar. Naquela safra, a produção somou 170 mil toneladas, das quais 130 mil toneladas produzidas pela Bahia. Além do Estado, produzem cacau o Amazonas, Pará, Rondônia e Espírito Santo.
Na Bahia, a produção se estende entre Valença, no norte do Estado, e Mucuri, no sul. Na safra 2000/2001, a produção baiana respondeu por 76% da produção nacional.
Souza assegura que a produtividade do cacau antes da crise girava em torno de 750 kg/ha. Com a crise, a margem foi reduzida para 300 kg/ha. As estratégias adotadas pela Ceplac, até 1997, resumiram-se a tratos culturais, como poda e rebaixamento de copas, entre outros, mais aplicação de fungicidas cúpricos.
Desde 1998, pesquisas e experiências resultaram num pacote tecnológico cuja base era a enxertia de plantas infectadas com variedades de cacaueiros tolerantes à vassoura-de-bruxa.
Atualmente, o Estado possui 450 mil ha de cacau, dos quais entre 50/60 mil ha com cacau clonado. Souza explica que a clonagem em agricultura é uma técnica usada com resultado muito bem-sucedidos (Ver boxe). A técnica, a grosso modo, consiste em usar pedaços de plantas resistentes à vassoura-de-bruxa e produzir novas plantas.
Além da resistência à doença, as plantas clonadas apresentam médias de produtividade animadoras, cerca de 1.500 kg/ha. Já nos plantios de material não clonado e suscetíveis à doença, mesmo com manejo bem cuidado as médias giram em torno de 400/500 kg/ha.
O material clonado pode ser obtido na Instituição Biofábrica de Cacau. Trata-se de uma organização social, criada em 2001, com o objetivo de oferecer aos produtores variedades clonais. O material, produzido pela Caplac, atualmente atende somente a produtores baianos. Para a criação da entidade foram investimentos entre R$ 5 milhões e R$ 6 milhões.
Os bons resultados da clonagem podem ser associados ao clima, mais seco desde 99, que se mostra excelente para o cacau; aos preços bons, cerca de R$ 80,00 a arroba; e as estratégias para controle da doença, como controle genético, em busca de resistência; controle biológico, a descoberta do fungo; controle químico, com aplicações de fungicidas cúpricos; e controle cultural, com manejo adequado.
Contribuiu também para os bons resultados, a criação, em 1995, do Plano de Recuperação da Lavoura Cacaueira (PRLC), parceria entre produtores, governo do Estado e órgãos de referência, como o Ceplac, que uniu crédito de R$ 340 milhões, para quatro etapas, e tecnologia.
Souza garante que as lavouras de cacau tendem a recuperar-se, embora de forma lenta. Na opinião dele, a próxima safra, que na Bahia tem sistema de previsão, deve alcançar 130 mil toneladas e 170/180 mil toneladas no Brasil. De acordo com Ebiesel Nascimento, chefe do serviço de extensão e fiscalização do Ceplac, antes da crise, o estado apontava 31 mil produtores. Desde 1999, esse número baixou para 28 mil produtores.
A maior parte dos cacaueiros da Bahia é antiga, o que, conforme Souza, não implica em preocupações, já que a doença surge em plantas mais suscetíveis. Mais: atualmente, há um número grande de variedades clonais. Na verdade, nove materiais clonais produzidos pela Cepec para lavouras clonadas.
O material clonal exige 15 meses para produção, quando é feita enxertia em plantas adultas. Trata-se de uma forma de evitar o custo de formação de novas lavouras. Para isso, basta substituir apenas as copas das plantas. Portanto, além da redução de custo há retorno mais rápido da cultura. A enxertia em planta nova é mais demorada, pois os resultados surgem em três anos.
Em busca de maiores informações sobre cacau, a Ceplac, por meio da Cepec, mais a Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) reúnem-se para decifrar o mapeamento genético do cacau e do fungo da vassoura-de-bruxa. O trabalho começou no ano passado e deve terminar em 2003