Seguindo o exemplo das grandes indústrias de laticínios, as cooperativas de produtores de leite também estão no caminho de diversificar e agregar mais valor aos seus produtos. A Comevap – Cooperativa do Médio Vale do Paraíba é um exemplo nesta empreitada, mostrando até, que mesmo uma adoção tímida desta estratégia, pode trazer benefícios concretos á cadeia produtiva como um todo, em médio prazo.
Para se ter uma idéia dos dividendos possíveis que, em uma indústria seria apenas lucro em caixa, ao final de 2000, a Cooperativa conseguiu devolver aos seus 900 filiados mais R$ 0,04 por litro de leite entregue ao longo do ano.
O volume de leite recebido pela Comevap diariamente é de 145 mil litros, mas apenas 60 mil são beneficiados. Os outros 85 mil litros são desviados para a Cooperativa Central de Laticínios do Estado de São Paulo. Com o volume que industrializa, a Comevap produz leite tipo “B”, seu carro chefe; leite “light” (pasteurizado magro com gordura 2%), de volume ainda muito modesto; manteiga; requeijão; doce de leite e bebidas lácteas. Para 2002, a Cooperativa promete o lançamento de queijo frescal, iogurte em garrafas e bandejas, além de creme de leite pasteurizado.
Toda a linha atual, apesar de diversificação básica, é de renome na região pelos diferenciais de qualidade, obtidos a partir de instalações que colocam a usina entre as mais modernas do País e um forte trabalho de treinamento e reciclagem para os funcionários. Além disso, a busca pela qualidade é totalmente extensiva aos produtores cooperados do médio Vale, que intensificam o melhoramento genético dos seus rebanhos e a mecanização das várias etapas de manipulação do leite dentro da fazenda até a usina.
Os procedimentos industriais da Comevap, por duas vezes este ano, foram conceituados pela Auditoria do Serviço de Inspeção Federal do Ministério da Agricultura e do Abastecimento com a nota máxima (conceito “A”), ou seja, com o mínimo de erros permitidos em todos os processos de beneficiamento. Tal auditoria é um procedimento obrigatório ao qual todas as indústrias do setor estão submetidas. A vantagem na obtenção deste conceito máximo está no fato de que, quanto maior a nota, menos freqüentes se tornam essas auditorias.
Segundo Nicola Di Angelis, presidente da Cooperativa, “apesar dos bons números e conceitos junto aos consumidores e órgãos públicos, a empresa ainda é muito jovem (operando há pouco mais de 10 anos) e, portanto, tem muito o que fazer”. O presidente explica que as diretorias que se sucederam até aqui fizeram clara opção por instalar equipamentos de ponta na usina, garantir liquidez aos negócios e assistir seus cooperados com o máximo de eficiência. Sendo assim, o leite “light”, por exemplo, que está no mercado desde o final de 1999, somente agora vem aumentando sua participação no mercado, graças á utilização de algumas ferramentas de marketing (distribuição de impressos, degustação nos pontos de vendas e publicidade em mídias impressa e eletrônica), implementadas mais sistematicamente nos últimos seis meses. Como resultado, o consumo do produto saltou de 200 litros dia para 1,3 mil. Mas é engano pensar somente na correção de atender as necessidades de um consumidor que pede por um produto mais “saudável” (com um teor mais baixo de gordura). O rebaixamento da quantidade de gordura do leite “light” implica para outros produtos, explica José Celso Pupio, gerente da Comevap. O teor médio de gordura do leite recebido na Cooperativa é de 3,8%. Sendo assim, cerca de 1,8% é excedente, quantidade de gordura que é desviada para a produção de manteiga. Logo, o mesmo litro de leite agrega mais valor e, conseqüentemente, resulta em maiores lucros. Cada 1.000 litros de leite “light” permite a produção de 20 kg de manteiga, hoje cotada entre R$ 4,50 e R$ 5,00 o quilo.
Nicola Di Angelis contudo, conta que ainda há um longo caminho a percorrer, pois embora o leite “light” chegue com um preço menor no ponto de venda, os revendedores acabam por comercializá-los pelo mesmo preço do leite “B” ao consumidor final. Para o presidente, a estratégia dos revendedores inibem a mudança de hábito de consumo da população. “O repasse da diferença inferior de preço ajudaria as pessoas a provarem o produto”, afirma.