A dificuldade de se estudar o comportamento e a biologia dos insetos que vivem no solo continua sendo o principal empecilho no avanço de conhecimentos sobre as pragas de solo. No entanto, já se observa uma importante evolução na diversificação de pragas estudadas e no número de cientistas que se dedicam ao tema.
A análise foi feita por Lenita Jacob Oliveira, presidente da comissão organizadora da 8º Reunião sul Brasileira de Pragas do solo, promovida pela embrapa e Universidade Estadual de Londrina. Durante o encontro, foram relatadas a ocorrência de pragas em são Paulo, Mato Grosso do sul, Paraná, Santa Catarina e rio Grande do sul. A ocorrência de diferentes espécies do complexo corós (que atacam as principais culturas do Brasil como soja, milho e trigo) foi uma das demandas levantadas pela assistência técnica desses estados. “Em geral, são pragas consideradas secundárias nessas culturas, mas que onde ocorrem causam danos importantes na planta, já que as alternativas de controle usadas atualmente são pouco eficientes”, avalia Lenita.
Outra praga que se expandiu e preocupa produtores, técnicos e pesquisadores, é a vaquinha (Dibrotica speciosa) que se alimenta das raízes do milho, de hortaliças, de batata, das folhas do feijão e árvore frutíferas. No milho, pode ocasionar redução de produtividade entre 200 e 400 Kg por hectare e, em batata, há relatos de dano em até 70% da área plantada. Entre as opções de manejo apresentadas durante a Reunião, uma nova substância utilizada como isca para atrair a vaquinha, desponta como alternativa de controle. A nova tecnologia deve chegar ao produtor rural dentro de um ano, segundo o pesquisador Maurício Ventura, da Universidade Estadual de Londrina.
As pragas de solo que afetam a cana-de-açúcar também foram amplamente debatidas, com destaque para a expansão da cigarrinha. “A mudança no sistema de colheita da cana, trouxe de volta uma praga que já não acusava mais danos. A expectativa é que em alguns anos sejam aperfeiçoados os métodos de controle biológico, químico e desenvolvidas variedades resistentes”, afirma Adalton Braga, do Instituto Ecológico. A cigarrinha reduz em até 40% a produtividade da cana-de-açúcar.
Também foram abordadas as pragas de solo de fruteiras, com ênfase em videiras e macieiras. Segundo dados do IBGE, atualmente a produção brasileira de ocupa uma área de 60 mil hectares no Brasil, predominando o cultivo no Rio Grande do Sul. A principal praga da cultura é a pérola-da-terra, que se alimenta da raiz da videira. Segundo o pesquisador da embrapa Uva e Vinho, Marcos Bottom, a pesquisa conseguiu avançar bastante nesta área. “Há dois anos, em áreas onde ocorria infestação de pérola-negra, o agricultor tinha que abandonar o cultivo da videira. Hoje, já se desenvolveu tecnologia para controle químico da praga, o que viabilizou novamente a cultura em áreas infestadas”, destaca.
Durante a 8º Reunião Sul Brasileira de Pragas do Solo, também foram apontados novos campos de pesquisa como uso de feromônios (técnica que utiliza substâncias extraídas de insetos da própria espécie para atrair semelhantes) e demandas dos agricultores para os diferentes sistemas de produção, como o plantio direto e agricultura orgânica.