O Centro Oeste, grande produtor de grãos, revela-se a região preferida por novos e antigos produtores de suínos.
O Brasil vive performance positiva na suinocultura. O volume de exportação nos primeiros meses deste ano cresceu, quando comparado aos números do ano passado, e o movimento estende-se ao mercado interno. a região Sul do país, especialmente Santa Catarina, mantém-se como o pólo mais produtivo, seguida pela expansão que se verifica no Centro Oeste. Este é o cenário delineado por Cláudio Martins, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs).
Entre janeiro e maio deste ano, o país exportou 94,4 mil toneladas de carne suína, o que representa crescimento de 141,2% em relação ao mesmo período do ano passado, que alcançou 39,1 mil toneladas. Nesse mesmo período, a receita cambial saltou de US$ 50,643 milhões para US$ 131,642 milhões, o que representa aumento de 160%.
O crescimento deve-se à comercialização com a Rússia, o maior comprador do Brasil. Inicialmente, o país importava a carne na forma de maia carcaça, para industrialização local. Atualmente, o Brasil já exporta cortes para consumo direto naquele país. O mesmo formato é usado para comércio com a Argentina, Hong Kong e Uruguai. As perspectivas para este ano são animadoras e indicam exportações de 220 mil toneladas, com receita de US$350 milhões e confirmação do Brasil como quarto maior exportador mundial de carne suína.
Segundo dados da FNP Consultoria, o rebanho brasileiro de suínos somava 31,487 milhões de cabeças, em 2000. Ainda nesse período, o consumo per capita foi de 12,3 kg/habitante/ano e 94% da produção foi consumida no mercado interno. As exportações alcançaram 6%. Martins vai além. Ele acredita que o mercado interno responda por 96% do consumo e as exportações por 4%. A expectativa dos integrantes da Abipecs é de que, ao longo dos próximos cinco anos, o Brasil exporte 15% da produção.
Na opinião dele, o Centro Oeste deve torna-se importante pólo produtor. Para isso contribuem o fato de a produção de suínos estar mais próxima à produção de grãos – milho e soja e o clima da região. Afasta, porém, qualquer possibilidade de rivalidade entre os dois pólos. “Trata-sr da continuidade do processo da suinocultura”, garante. A opinião é partilhada por Dirceu Talamini, economista e chefe-geral da Embrapa Suínos e Aves, em Concórdia, Santa Catarina. ele não hesita em apontar o crescimento da atividade no Centro Oeste, mais lembra que 70% dos abates inspecionados de suínos ainda são realizados no Sul. “A região tem a seu favor 50 anos de aprendizado em produção, processamento e estrutura industrial”, explica.
Ainda assim, os sulistas trabalham com estruturas familiares, baixo custo de mão de obra, grande conhecimento de tecnologia de produção e estrutura de apoio á cadeia muito desenvolvido, especialmente em relação a insumos, tecnologia geral e estrutura industrial bem consolidada. Já as características das criações do Centro Oeste estão baseadas em estruturas de grande porte, proprietários com atuação empresarial, custos de produção mais elevados e questões administrativas e gerenciais e bastante diferenciadas. Talamini enfatiza, porém que, “não há nada de drástico para o Sul com a expansão do pólo suinícola para o Centro Oeste”.
Bastante objetivo, Nelson Vaz Hacklauer, diretor de Desenvolvimento de Negócios da Perdigão, aponta as vantagens que levaram a empresa a investir no Projeto Buriti, em Rio Verde, Goiás. A empresa transforma milho e soja, portanto, proteína vegetal em proteína animal – suínos. E o Rio Grande do Sul e o Paraná não possuem produção de milho suficiente para atender às necessidades do pólo. Convém lembrar que milho ou ração representam entre 40% e 50% do custo animal.
A isso podem ser somados outros fatores de atração na nova região, como as grandes áreas que permitem a expansão das culturas e a conseqüente redução no preço de fretes. Mais ainda: a Perdigão destina a comercialização da unidade do Centro Oeste á Própria região, Norte e Nordeste. Santa Catarina é que abastece são Paulo, por exemplo.
Outras vantagens são enumeradas. Hacklauer garante que a redução do volume de produção nas fábticas do sul aumenta o potencial de produção para exportação. E o Centro Oeste oferece benefícios fiscais, como o financiamento de pagamento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS).
O Projeto Buriti deve estar com produção total em 2003. Os investimentos da empresa somaram R$ 400 milhões. As instalações industriais receberam R$ 180 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). E as instalações agropecuárias, apoio financeiro de R$ 110 milhões do Banco do Brasil (BB).
A empresa prevê faturamento projetado de R4 720 milhões por ano. E geração de 3,5 mil empregos diretos e 7 mil indiretos. A área construída do complexo industrial reúne 106,4 mil metros quadrados. O complexo agroindustriário possui um quarentenário com capacidade para 40 suínos machos e centro de difusão genética com capacidade para 166 machos.
Compõem o sistema produtor de leitões 64 módulos de 520 cabeças cada e o sistema terminador de leitões, 272 módulos de 1.006 cabeças cada. O abatedouro tem capacidade para 3.520 suínos/dia e produção de 73,5 mil toneladas/ano. O abatedouro foi projetado com tecnologia alemã, Falkenstein Architekten + Igenieure, obedece aos padrões da União Européia.
Hacklauer explica que “hoje, quase tudo está funcionando. O abate gira em torno de 1,8/1,9 mil cabeças/dia. E deve chegar a 3,5 mil/dia, antes de 2003”. O mesmo acontece com industrializados, com produção ativa de lingüiças, empanados e hambúrguer. Salame, por exemplo, ainda não é processado. Ele explica que o trabalho de integração, adotado pela empresa no Sul e também no Centro Oeste, ali com 175 suinocultores, não pretende ser a renda principal do produtor, mas renda complementar e a constante que garanta fluxo de caixa. As duas regiões mostram perfis bastante diferenciados.
No Sul, as propriedades costumam possuir aproximadamente 20 ha, granja de suínos com média de 500 animais, custos baixos e mão de obra composta pelo produtor e família. Já no Centro Oeste, as áreas giram em torno de dois mil ha, com vários empregados, custos mais altos e cujo proprietário mora na cidade.
“A Perdigão procura respeitar o produtor local”, afirma. Ali, as granjas de terminação de suínos costumam ter quatro mil animais e diversos produtores mantêm até 20 mil animais. Quase sempre plantam soja e milho e utilizam a sobra da matéria orgânica da terminação dos animais como adubo orgânico. As propriedades têm certificação ambiental. Isso permite redução de custo e a possibilidade de aplicar adubação química e orgânica.
Mas a região também apresenta dificuldades. Hacklauer afirma que o Centro Oeste carece de infra estrutura. Para a construção e funcionamento das fábricas é preciso poços artesianos, energia elétrica trifásica e estradas em melhores condições. Para construção de poços artesianos, os produtores possuem um programa com financiamento de 12 anos. Os investimentos em energia trifásica foram solucionados com despesas de um terço feitas pelo próprio produtor, mais um terço pelo Estado e mais um terço pela empresa de energia de goiás. E o Estado também se compromete a melhorar as estradas.
Os resultados mostram-se animadores. A tecnologia empregada permite que apenas um funcionário possa manejar a alimentação de quatro mil animais. Em cada galpão há uma pequena cozinha com um forno de microondas. Os animais recebam ração em pó pronta misturada no local, para ser oferecida como ração úmida.
O quadro revela novos contornos, marcado por novas regiões geográficas, novo conceito de criação, novo conceito de alimentação, novas arquiteturas de frigoríficos, e programa ambiental sob controle. A Perdigão informou convênio com a Embrapa, com a companhia de saneamento do Estado e com a Faculdade do rio Verde para monitoramento e certificação ambiental.
O abate de três mil suínos por dia é uma das metas da Seara para este ano. A empresa instalada em Dourados, no Mato Grosso do Sul, desde 1994, integra a Bunge S/A. A Seara era uma divisão da Ceval. Após a compra pela pela Bunge, transformou-se em empresa para a produção de carne. E a Ceval dedica-se à produção de soja e derivados. A Seara tem sede em Itajaí, Santa Catarina.
Eurídes Vaccaro, superintendente da Seara, em Dourados, explica que a expansão para o Centro Oeste deve-se ao menor custo da soja e do milho, ás possibilidades de produção cada vez maior de grãos e os incentivos fiscais oferecidos pelo Estado, como a liberação de parte do ICMS.
Atualmente, a Seara possui plantel próprio de terminação de 140 mil suínos em sistema de parceria com 150 produtores, mais um plantel de 15,5 mil fêmeas que produzem leitão em áreas de 75 produtores e o trabalho em parceria com 20 produtores independentes, que preparam cinco mil fêmeas desde a fase do leitão a terminação. Os abates giram em torno de 50 mil animais por mês e devem alcançar 63 mil, em outubro deste ano.
A unidade, com 25 mil metros quadrados de área, investimentos entre US$ 35 milhões e US$ 40 milhões, parte em recursos próprios e parte em financiamentos, gera 1,5 mil empregos. Ali são produzidos hambúrguer, salsicha, linguiça frescal, mortadela, empanados e salame. Parte da produção, no formato de corte de suínos, e comercializada com Hong Kong e totalidade dos embutidos, com o mercado interno. Vaccaro lembra o perfil do suinocultor sulista, com áreas entre 10/15 ha e cerca de 500 animais em terminação, enquanto no Centro Oeste as áreas saltam para 100/150 ha, tecnologia diferenciada, grandes galpões com controle de ambiente, menos mão-de-obra e menor conhecimento do que no Sul. “Mesmo com custos de implantação altos, o Centro Oeste tende a revelar grande crescimento”, observa.