Agricultura

Cultivo sadio é sinônimo de lucro

Sensível pragas e doenças, a soja exige manejo criterioso capaz de conter os prejuízos econômicos. Segundo técnicos da Embrapa Soja e da Fundação MT, as perdas anuais por doenças são estimadas entre 15% e 20%. Individualmente, porém, podem causar perdas de aproximadamente 560 do cultivo.

O Brasil é o segundo maior produtor de grãos de soja no mundo. E a posição não é recente. Na verdade, surgiu em 1974, quando o país alcançou a marca de 7,8 milhões de toneladas, e vem vendo mantida desde então. Assim, como a liderança da produção pelos Estados Unidos. Ao longo desses anos, a cultura, os técnicos e os produtores brasileiros evoluíram. Hoje, o cultivo da soja encontra-se espalhado pelo país. Lineu Dome, pesquisador de transferência de tecnologia da Embrapa Soja, centro de pesquisa em Londrina, no Paraná, explica que os pólos de produção situam-se no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, e, em menores proporções, na Bahia e Maranhão.

Antônio Garcia, também pesquisador da Embrapa Soja, especializado em manejo da cultura, afirma que o período correto para plantio ocorre entre meados de outubro e meados de dezembro, embora novembro seja a época ideal. Aconselha os produtores a decidirem com antecedência folgada a compra de sementes e herbicidas e a adoção por técnicas de manejo. Lembra que, a exemplo das demais culturas, a soja é atacada por um universo de doenças e pragas, com conseqüências econômicas de extrema importância. Exatamente por isso, Domit recomenda aos produtores regras básicas, em busca do sucesso: procurar assistência técnica, para saber como prevenir e controlar pragas, doenças e plantas daninhas; seguir recomendações da Embrapa Soja, se dedica á pesquisa da cultura e publicou o livreto Recomendações Técnicas para a Cultura da Soja na Região Central do Brasil 2000/01, em parceria com Fundação MT; e sempre que possível, frequentar dias de campo, palestras técnicas, e cursos que garantam maior possibilidade de gerenciar a propriedade com menor custo e maior produtividade. “O sojicultor que quer permanecer no mercado precisa ser competitivo e deve tomar decisões baseada em conhecimentos”, garante.

Ele aconselha o produtor, após o preparo do solo e plantio, a preparar-se para o passo seguinte: Cuidar da fitossanidade do cultivo. A cultura da Soja, independente do sistema de semeadura e da região em que é cultivada, deve recebe cuidados em relação á disseminação de plantas daninhas. O controle é fundamental pois as invasoras competem por água, luz e nutrientes, o que pode dificultar colheita e prejudicar a qualidade final da soja. O combate pode ser mecânico, com uso de implementos; químico, com a aplicação de herbicidas; e cultural, com a criação de práticas que permitam á cultura maior capacidade de competição com plantas daninhas.

O livreto preparado pela Embrapa Soja e Fundação MT explica que nas áreas do Cerrado, observa-se aumento da infestação de fedegoso (Senna obtusifolia), carrapicho beiço-de-boi (Desmodium totuosum), cheirosa (Hyptis suaveleons), capim custódio (Pennisetum) e balãozinho (Cardiospermum halicacabum), entre outros.

As práticas sugeridas para evitar a disseminação podem ser resumidas em:
– usar sementes de boa qualidade e livres de sementes de plantas daninhas;
– assegurar a limpeza rigorosa de máquinas e equipamentos antes de serem levados de um local infestado para um local livre de plantas daninhas. Impedir também que animais se tornem veículos de disseminação;
– controlar o desenvolvimento das invasoras, impedindo a produção de sementes e estruturas de reprodução em margens de cercas, estradas, canais de irrigação e pátios;
– promover o controle dos focos de infestações com quaisquer métodos de controle, desde catação manual até a controle, desde catação manual até a aplicação localizada de herbicidas;
– adotar rotação de culturas como diversificar o controle e produtos químicos.

Paralelamente às invasoras, Domit afirma que a soja está sujeita ao ataque de pragas (insetos) praticamente durante todo o ciclo. Conforme dados do livreto, logo após a emergência, por exemplo, há ataques de insetos como a lagarta rosca (Agrotis ipsilon), o percevejo castanho (Scaptocoris castanea e Atarsocoris brachiariae, os córos e a broca-do-colo (Elasmopalpus lignosellus) podem atacar as plântulas. Posteriormente, a cultura pode ser atacada pela lagarta-da-soja (anticarsia gemmatalis, a lagarta falsa-medideira (Chysodeixis (Pseudoplusia) includens) e pela brocadas-axilias (Epinotia aporema), que atacam durante a fase vegetativa e, em alguns casos, até a floração.

Domit explica que como o início da fase reprodutiva, surgem os percevejos (Nezara viridula, Piezodorus guildinii e Euschistus heros), que causam danos desde a formação das vagens, até o final do desenvolvimento das sementes. A soja é também suscetível ao ataque de outras espécies de insetos, em geral menos importantes, como vaquinha (Diabrotica speciosa, Geratoma sp), burrinho (Epicauta atomaria), pequenos besouros (Colaspis spNaupactus sp), mosca branca (Bemisia tabaci), lagarta cabeça-de-fósforo (Urbanus proteus). Essas pragas quando atingem populações elevadas são capazes de causar perdas significativas no rendimento da cultura, o que exige controle.

Embora os danos causados por insetos na cultura possam ser alarmantes em alguns casos, não se recomenda a aplicação preventiva de produtos químicos. Em primeiro lugar, pela possibilidade de causar grave problema de poluição ambiental. E, em segundo, porque a aplicação desnecessária pode elevar sensivelmente o custo da lavoura.

A Embrapa Soja recomenda para o controle das principais pragas da soja, a utilização do manejo de pragas. Trata-se de uma tecnologia que consiste, basicamente, de inspeções regulares á lavoura, para verificar o nível de ataques das pragas, com base na desfolha e no número e tamanho dos insetos. Nos casos específicos de lagartas desfolhadoras e percevejos, as amostragens devem ser realizadas com pano-de-batida, preferencialmente de cor branca, preso em duas varas, com um metro de comprimento.

Esse passo deve ser estendido entre duas fileiras de soja. As plantas da área compreendida pelo pano devem ser sacudidas vigorosamente sobre ele, havendo, assim, a queda das pragas que deverão ser contadas. Este procedimento deve ser repetido em vários pontos da lavoura, considerando-se como resultado, a média de todos os pontos amostrados. Já no caso de lavouras com espaçamento reduzido entre as linhas, convém usar o pano batendo apenas as plantas de uma fileira.

Principalmente com relação a percevejos, estas amostragens devem ser realizadas semanalmente, nas primeiras horas da manhã (10 horas), quando os insetos se localizam nas partes superiores das plantas sendo mais facilmente visualizados. Recomenda-se, também, realizar as amostragens com maior intensidade nas bordaduras da lavoura, onde, em geral, os percevejos iniciam seu ataque á soja. As vistorias para a ocorrência dos percevejos devem ser executadas desde o início de formação de vagens, até maturação fisiológica. A simples observação visual não expressa a população real presente na lavoura. O controle deve ser executado somente quando forem atingidos os níveis críticos.

Domit afirma que as lagartas desfolhadas devem ser controladas quando forem encontradas, em média, 40 lagartas grandes por pano-de-batida ou se a desfolha atingir 30% antes do florescimento e 15% tão logo apareçam as primeiras flores. Em ataques da lagarta-da-soja deve-se dar preferência ao uso do inseticida biológico Baculovirus anticarsia. Se a opção for pelo uso de vírus da lagarta-da-soja devem ser consideradas até no máximo, 40 lagartas pequenas ou 30 lagartas pequenas e 10 lagartas grandes por pano-de-batida. Já nas situações que em que a população das lagartas grandes tenha ultrapassado o limite para a aplicação de Buculovirus puro, ou seja, mais do que 10 lagartas grandes/pano, e for inferior ao nível para controle químico, isto é, 40 lagartas grandes/pano, o Baculovirus pode ser utilizado em mistura com o inseticida recomendando por técnicos. O produtor deve sempre recorrer á orientação técnica.

Já o controle de percevejos deve ser iniciado quando forem encontrados quatro percevejos adultos ou ninfas com mais de 0,5 cm por pano-de-batida e, para o caso de campos de produção de sementes, estes este nível deve ser reduzido para dois percevejos/pano-de-batida. Para a broca-das-axilas, o nível crítico gira em torno de 25% a 30% de plantas com ponteiras atacados. Os produtos usados devem ter recomendação técnica, assim como o preparo do material e cuidados na aplicação. O livreto da Embrapa Soja e Fundação MT informa que o controle químico das lavras mostra-se inviável, em razão do hábito subterrâneo do inseto. Quanto as percevejo castanho, praga de hábito subterrâneo do inseto. Quanto ao percevejo castanho, praga de hábito subterrâneo, não existe produto capaz de exercer controle.

Domit que as doenças que atacam a soja são, quase sempre, de difícil controle e responsáveis por queda de rendimento da cultura. No Brasil, foram identificadas cerca de 40 doenças causadas por fungos, bactérias, vírus e namatóides. Esse número aumenta constantemente, em razão da expansão do cultivo para novas áreas e como conseqüência econômica de cada doença varia de ano para ano e de região para região, conforme as condições climáticas de cada safra. As perdas anuais por doenças são estimadas entre 15% e 20%. Algumas doenças podem causar perdas de aproximadamente 560 individualmente.

A maioria do patógenos, ou seja, agentes que conduzem as doenças, costuma ser transmitida por sementes. Daí, a importância do uso de sementes sadis ou tratadas. Doenças como antracnose (Colletotrichum dematium var. truncata), o concro de haste (Diaporthe phaseolorum f.sp. meridionalis) são exemplos de disseminação por semente. O livreto aponta inúmeras doenças fúngicas – macha foliar de Altenaria (Alternaria sp.), mancha parda (Septoria glycines), oídio (Microsphaera diffusa), antracnose); doenças bacterianas, como crestamento bacteriano (Pseudomonas syringae pv. Glycinea); doenças viróticas, como misaico comum das sojas); e doenças causadas por nematóides, como nematóides de galhas (Meloidogyne incognita, Meloidogyne javaica e leque de nome, descrições e combate a cada uma delas.

O oídio, por exemplo, era considerada de pouca expressão até a safra 95/96, em áreas da regiões Sul e Cerrado. Na safra 96/97, houve incremento da incidência em toda essa área. A doença é causada por um parasita que se desenvolve nas folhas, hastes, pecíolos e vagens da planta. O sintoma é a presença de fungo nas partes atacadas e caracterizado por uma cobertura de pequenos pontos brancos na parte aérea da planta. Nas folhas, a coloração branca do fungo muda para castanho-acizentado. Na haste e nos pecíolos, a planta adquire coloração entre arroxeada e negra.

A infecção pode ocorrer em qualquer estágio de desenvolvimento da planta. Quanto mais cedo atacada, menos planta produz. O controle consiste em uso de cultivares suscetíveis em época mais favorável á ocorrência da doença e controle químico, conforma orientação técnica.

Já a antracnose, sob condições de alta umidade, provoca apodrecimento e queda das vagens, abertura de vagens imaturas e germinação de grãos em formação. A doença infectada também a haste e outras partes da planta, causando manchas castanho-escuros. A alta incidência da antracnose no Cerrado é atribuída á maior precipitação e ás temperaturas, além do cultivo contínuo da planta, estreitamento das estrelinhas, uso de sementes infectadas, infestação por percevejo e deficiências nutricionais. A rotação de culturas, maior espaçamento das entrelinhas, população adequada de plantas e tratamento químico das sementes são apontadas como fatores capazes de reduzir a incidência da doença.

Domit afirma que o cancro da haste, descoberto na safra 88/89, no sul do Paraná e em áreas de Mato Grosso, espalhou-se todas as regiões produtoras na safra seguinte. A introdução nos cultivos ocorre por sementes e resíduos contaminados em máquinas implementos agrícolas. O fungo multiplica-se na primeira plantas infectadas e, durante a entressafra, nos restos da cultura. Na safra seguinte, pode se causar perda total. O cancro é uma doença de desenvolvimento lento, entre 50 e 80 dias para matar a planta. Portanto, quanto mais cedo ocorrer a infestação e mais longo o ciclo do cultivar, maior serão os danos. O controle da doença exige utilização de cultivares resistentes, tratamentos da semente, rotação/sucessão de culturas, manejo do solo com a incorporação de restos culturais, escalonamento da época de semeadura e adubação equilibrada.

Comum nas folhas, o crestamento bacteriano da soja, doença de importância, pode ser encontrado em outros órgãos da planta, como hastes, pecíolos e vagens. Os sintomas nas folhas surgem como pequenas manchas, de aparência translúcida, circundada por um halo de coloração verde-amarelada. Mais tarde, essa manchas necrosam e formam extensas áreas de tecido morto, entre as nervuras secundárias. Nas face inferior das folhas, as manchas são coloração quase negra e apresentam, nas horas úmidas da manhã, uma película brilhante. A bactéria existe em todas as áreas cultivadas com soja ao longo do país. E a contaminação acontece via sementes infectadas e restos de cultura anterior. O controle deve se feito com o uso de cultivares resistentes, sementes com origem comprovada e/ou aração profunda para cobrir os restos da cultura anterior.

O livreto informa que, no Brasil, entre os nematóides formadores de galhas, merecem destaque as espécies Meloidogyne javanica e M. incognita. As espécies costumam ser encontradas no Norte do Rio Grande do Norte, Sudeste e Norte do Paraná, Sul e Norte de São Paulo e Sul do Triângulo Mineiro. Recentemente, também no Mato Grosso do Sul e em Goiás. O sintomas são manchas em reboleiras nas lavouras, onde as plantas de soja ficam pequenas e amareladas. As folhas da plantas afetadas normalmente apresentam manchas cloróticas ou necroses entre as nervuras, o que caracteriza a folha carijó. As medidas de controle devem ser efetuadas antes do plantio. Após o cultivo atacado, nada pode ser feito naquela safra.

Assim, a sugestão é identificar a espécie de Meloidogyne predominante na área. A recomendação de Domit é para que o produtor recolha amostras de solo e raízes de soja com galhas coletadas em pontos diferentes da reboleira, até formar uma amostra composta por 500g de solo e, pelo menos, cinco sistemas radiculadores de soja. O solo e as raízes devem ser acondicionados em saco plástico resistente, amarrado com barbante e identificado com nome, endereço e local de coleta. A amostra, com o histórico da área, deve ser enviada rapidamente a um laboratório de nematologia. Conhecida a espécie de Meloidogyne poderá ser feito o programa de manejo.

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