Tecnologia

Tecnologia muda perfil de terras no Paraná

A prática do plantio direto está transformando a realidade da região de Arenito Caiuá, no Paraná. O cenário de pastagens degradadas está dando lugar a culturas de soja, milho, feijão, sorgo, milheto e aveia.

Um projeto de nome comprido, chamado de Recuperação de Áreas de pastagens Degradadas, na Região do Arenito Caiuá, através, através do Plantio Direto e da Integração Lavoura-Pecuária, está convencendo tradicionais criadores de gado a trabalharem melhor o solo intercalando a produção de grãos e pastagens. O intercâmbio entre a Universidade Federal do Paraná (UFPR) e empresas, como a Monsanto, Semeato, Jacto, Montana, FT Sementes, Agroceres, Manah e Matsuda, tem possibilitado o desenvolvimento de um grande laboratório de estudos práticos que vem modificando o cenário do Noroeste paranaense. Cada uma da sua maneira, atuando com mais ou menos intensidade, a indústrias disponibilizaram recursos, equipamentos, sementes e adubos para que se estruturasse uma equipe multidisciplinar entre pesquisadores da UFPr e de outras entidades, como a Universidade Estadual de Maringá, Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Instituto Agronômico do Paraná (Iapar).

No passado, a região era coberta por uma densa floresta tropical e foi colonizada na década de 50 em lotes agrícolas que acompanham o declive do terreno. Nesse período, houve uma progressiva transformação do uso do solo, por meio da erradicação dos cafeeiros e formação de pastagens, seguidos de um manejo inadequado á área, resumo o professor da UFPR, Anibal de Moraes, que divide a liderança do trabalho com o professor Adelino Pelissari, da mesma instituição.

Para se ter uma idéia, 91 municípios formam Arenito Caiuá, numa extensão de 3.510.800 hectares, que também inclui parte de alguns pontos dos Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul. Hoje, palco de uma pecuária de médio a grande porte, com baixa utilização de tecnologia, extensiva e extrativista, que, ao longo de quase cinco décadas, levando o solo á degradação da riqueza mineral. Diante disso, a recuperação da fertilidade da região está sendo buscada com o plantio de lavouras anuais de verão, em rotação com pastagens anuais de inverno, todas obrigatoriamente implantadas em condições de plantio direto sobre o pasto dessecado. Esse procedimento é fundamental para que não se imponha um risco ainda maior ao solo, causado pela erosão que certamente haveria no caso de um plantio convencional, proibido em tais condições, explica Moraes.

Diante pressupõe-se um sistema de rotação de cultivos, no qual plantações de milho, soja e até mesmo feijão são particulares das fazendas. De acordo com o professor, não se pode estabelecer um pacote tecnológico para a região, uma vez que o contexto social, econômico, cultural e estrutural de cada propriedade é que vai apontar os aspectos a serem levados em consideração no momento de encontrar a solução mais adequada.Nesse sentido este projeto diferencia-se de outros programas exclusivamente de fomento para a região. A complexidade de um sistema integrado lavoura-pecuária exige uma ação prioritária da pesquisa para abastecer os técnicos que estão no campo.

Após três anos do início do projeto, o professor diz que não há dúvidas em relação aos potenciais produtivos agrícola e animal em Arenito Caiuá. Variedade de soja nos municípios de Mandaguaçu e Umuarama, mais precisamente nas fazendas Boa Esperança e Bonanza, respectivamente, a cultura da soja tem apresentado resultados semelhantes aos obtidos nas melhores regiões produtoras desse grão no Estado do Paraná. Na safra 1997/1998, as variedades apresentaram os seguintes índices, respectivamente em Mandaguaçu e Umuarama: Codetec 301, 3.884 kg/ha e 3.171 kg/ha; FT abyara, 4.010 kg/ha e 3.584 kg; FT Jatobá, 4.113 kg/ha e 3.308 kg/ha; FT Aramayra, 4.394 kg/ha e 3.221; FT 2002, 3.576 kg/ha e 2.915 kg/ha; FT 2000, 3.424 kg/ha e 3.687 kg/ha; e, só em Mandaguaçu, BR 37, 4.202 kg/ha, e BR 16, 3.884 kg/ha.

Rotacionadas com pastejo com aveia preta no inverno, essas áreas têm a possibilidade de uma opção de forragem de qualidade no período mais crítico do ano, reduzindo o déficit alimentar dos animais que nesta região chegam a perder até 500 gramas/cabeças/dia. Em pastejo na aveia, o gado pode atingir ganhos próximos a 1 kg/animal/dia. Se computássemos a recuperação de todo arenito no Paraná envolvido na integração lavoura-pecuária conseguiríamos um acréscimo de renda á região na ordem de R$ 1 bilhão por ano, revela Moraes.

Resultados no solo e no Bolso do produtor

Admitindo a remota hipótese disso acontecer, o professor ressalta que, com o trabalho iniciado no final de 1996, já se verifica um importante avanço de áreas agrícolas sobre áreas pastoris. Em fazendas cuja atividade até então era exclusivamente de pecuária tradicional, pode estimar um aumento de cinco ou seis vezes da renda líquida do proprietário, a partir do momento que passar a utilizar um sistema integrado.

Um dos produtores que vem desfrutando de tais vantagens é o João Batista Fiorillo Menarim, dono da Fazenda Novo Recanto, no município de Santa Mônica. Há 15 anos, ele comprou uma área de 138 alqueires (paulista), onde explorou a pecuária de corte para recria e engorda. Logo que adquiriu a propriedade, comecei a fazer correção do solo, seguindo os dados das análises a quantidade necessária de calcária e, em função dos altos custos, apenas, parte da recomendação de fósforo, comenta ele.

Não satisfeito, ainda com a preocupação de recuperar o solo de forma adequada e economicamente viável. Menarim encontrou no plantio direto da soja a solução para atender ás exigências das terras de sua propriedade. Auxiliado pela Monsanto, mantém um sistema de plantio de soja no verão, no mês de novembro, e, após a colheita, entre março e abril, semeia milheto e aveia preta para cobertura da área. Com a soja, estou obtendo uma produtividade média de 3.350 kg/ha e aproveito as culturas de inverno para engorda de bois.

E as metas previstas para a Fazenda Novo Recanto não param por aqui. Após três anos de plantio de soja, a intenção é voltar com o pasto numa lotação de gado por hectare três vezes maior com a que se verificava anteriormente, quando se trabalha com cerca de 1,6 cabeças/ha. Não há dúvidas de que o plantio direto beneficia o solo, evitando a erosão e a exposição, o que normalmente acontece no plantio convencional. Como conseqüência , conseguimos lucratividade com a soja e com a pecuária de engorda e venda de bois na entressafra, aponta Menarim.

Acompanhando de perto o trabalho em Arenito Caiuá, o gerente de Desenvolvimento de Mercado da Monsanto, grandes problemas da região era a maneira como as áreas mais degradadas eram reformadas: plantios de milho ou mandioca, seguida, novamente, de pecuária. Com tecnologia convencional, o processo acelerava o ciclo de degradação. A terra era tombada e nivelada com equipamentos pesados, que totalizavam entre cinco e sete operações numa mesma área. Uma atitude cruel ás qualidades de um solo constituído por baixos teores de argila, menos de 1% de matéria orgânica e mais de 80% de areia.

Com o plantio direto, as fazendas passaram a ser valorizadas. De acordo com Souza, enquanto o alqueire, antes de projeto, valia entre R$ 1.500,00 a R$ 2.000,00, hoje não é difícil encontrar ofertas de R$ 4.000,00 a R$ 4.500,00. Isso prova que a utilização da tecnologia adequada aqueceram os preços de um local que estava praticamente esquecido no Paraná, finaliza, informando que, desde o início do trabalho, a Monsanto firmou um convênio com a UFPR assumindo, por cinco anos, as despesas com a pesquisa.

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