Pecuária

Vacinação e manejo combatem o botulismo

Entre meados da décadas de 80 e início dos anos 90, o Brasil vivenciou surtos de botulismo, que causaram a morte de aproximadamente um milhão de bovinos. Embora saem o amparo de estatísticas, sabe-se que o país tem controlado a doença, em razão de os criadores adotarem melhor manejo dos animais, e também com surgimento de novas vacinas. Enrico L. Ortolani, professor associado da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da Universidade de São Paulo (USP), Explica que trata de uma doença endêmica, importante no Brasil e também nos Estados Unidos, Austrália e África do Sul.

O botulismo é causado pela Clostridium botulinum. A bactéria costuma ser encontrada no meio ambiente, o que significa solo e plantas, além de ossos, fazes e, até mesmo, no tubo gastrointestinal de animais mortos. A doença caracteriza-se pela paralisia muscular do animal. Isso acontece porque, quando a bactéria se multiplica em grande quantidade produz a toxina que, se ingerida pelo animal e absorvida pelo intestino, direciona-se na placa, ponto em que o nervo entra em contato com o músculo.

Sabe-se que o estímulo é enviado pelo cérebro, percorre o nervo e quando encontra a placa enfrenta a ação da toxina, que freia o estímulo do nervo. Portanto, o nervo não tem capacidade de responder ao estímulo cerebral.

Ortolani assegura que a manifestação da doença ocorre no modo comportamental do animal, que, contaminado, anda menos, com marcha mais lenta e evita áreas de terreno em elevação. O quadro agrava-se continuamente. Os membros posteriores mostram-se bambos. E o animal sofre aumento na dificuldade de locomoção, até a fase em que cai e se deita em decúbito external, com a cabeça apoiada no peito.

No final do quadro, a paralisia leva ao decúbito lateral. O animal deixa de comer, em razão da dificuldade de engolir,e morre por incapacidade de respirar. O diagnóstico pode ser clínico, como acontece na prática, ou por meio de exames de laboratório. Nesse caso são coletadas amostras de conteúdo ruminal ou intestinal, fígado ou sangue, analisadas em laboratório.

As possibilidade de recuperação são muito raras. Nos casos de ingestão de ossos contaminados, a morte é certa. Mas na ingestão de cama de frango, há 10% de chances de animal salvar-se. Não há tratamento para o botulismo. A forma absolutamente correta de evitar a doença é a vacinação. Inicialmente, todos os animais devem ser vacinados, após a desmama. E, a partir daí, uma vez por ano.

Ortolani explica que o quadro do botulismo pode apresentar-se de forma aguda ou gradual, conforme a quantidade de toxinas ingeridas pelo animal. Os casos agudos causam morte em 24 horas, enquanto os graduais, até 17 dias depois da ingestão, com poucos segmentos musculares atingidos.

A contribuição mais comum para os animais contraírem a doença consiste no manejo incompleto, com falta de suplementação mineral de qualidade e oferecida sem regularidade. Sabe-se que muitos rebanhos são mantidos a pasto, em regiões em que o solo carência de fósforo, como nos Cerrados e na Amazônia. Como conseqüência, as forragens não têm nutrientes suficientes para necessidades do organismo do animal. É preciso, então, recorrer á suplementação alimentar, com o oferecimento de sal mineral ou concentrado.

Colabora também para o contágio o manejo da propriedade. Em muitas delas, os animais mortos não são retirados do pasto. Ali apodrecem. Ortolani assegura que o intestino, por exemplo, forma um ambiente ideal para a formação do Clostridium botulinum, que cresce e se multiplica para a formação de toxina, em ambiente pouco oxigenado.

Exatamente a carência pronunciada de fósforo determina aberrações de apetite. Por exemplo, os animais roem e ingerem os ossos dos cadáveres deixados no pasto, além de comer também restos de tendões e músculos. E as toxinas sobrevivem nos ossos. O manejo correto determina a retirada dos cadáveres dos animais da propriedade, que devem ser queimados em áreas isoladas e enterrados em grande profundidade.

A ingestão de cama de frango, sem a retirada de aves mortas, pode consistir também em forma de contágio. Muitas vezes a cama de frango contém aves mortas por botulismo, afirma Ortolani. Ele conta que ocorreram surtos em propriedades de São Paulo, Minas Gerais e Goiás, determinada por cana de frango contaminada e ingerida pelos animais.

Existe ainda um forma hídrica da doença, causada pela queda e morte de um animal no logo ou em outros locais nos quais os animais se abasteçam de água. A causa pode ser também o excesso de matéria orgânica, como excrementos. O animal morto libera toxinas, que elimina o oxigênio do lago. E o lodo garante a multiplicação do Clostridium botulinum. Daí, a necessidade de constantes inspeções para checar a qualidade da água.

Ortolani aconselha cuidados ao comprar a cama de frango e, ainda assim, submete-la a um tratamento, quando chega na propriedade. Para isso, basta empilha-la e deixar fermentar, durante 10 dias, no mínimo, quando atingir temperaturas entre 60 graus e 65 graus, capaz de eliminar a toxina. Mas: convém desprezar o 10 cm iniciais da cama, ou seja, a primeira camada.

Outros cuidados de prevenção auxiliam os criadores. O oferecimento de sal mineral com teor adequado de fósforo para todas as categorias animal impede a ingestão de ossos. Nos animais mantidos a campo, isso ocorre com mais freqüência nas vacas em final de gestação, que necessitam de fósforo para a formação do feto; nas vacas em lactação, que também precisam de grande quantidade de fósforo para a produção de leite; e nos bezerros em crescimento.

Ortolano sugere um programa para suplementação de fósforo. Para as vacas de corte em lactação e novilhas em crescimento, oferecer entre 80g e 100g por Kg de sal mineral; para vacas em lactação, de 60g a 80g por kg de sal mineral; e para boi de corte, entre 30g e 40g por kg de sal mineral.

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