De acordo com dados da USDA, Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, publicados pelo Anuário Milkbizz, a estimativa para a produção de leite no Brasil, em 1999, deve atingir 22,495 milhões de toneladas, com 16,750 milhões de cabeças ordenhadas e produtividade animal/ano de 1.343 kg. No mesmo período, os Estados Unidos apontam produção de 72,650 milhões de toneladas, com 9,135 milhões de vacas ordenhadas e produtividade animal/ano de 7.953 kg. A diferença de produtividade animal verificada no rebanho dos dois países é bastante alta. O produtor brasileiro está consciente desse fato. Mais ainda: a fase atual mostra-se bastante complexo, já que as mudanças no setor exigem a profissionalização da atividade, exatamente na procura por maior produtividade e, conseqüentemente, ganho. A busca exige investimentos no tripé formado por nutrição, sanidade e manejo, responsável pelo sucesso da iniciativa.
Wilson Mattos, professor de nutrição de gado de leite do Departamento de Produção Animal da Escola Superior de Agricultura Luiz Queiroz ( ESALQ), da Universidade de São Paulo (USP), enfatiza o quadro ao afirmar que a tendência mundial aponta para o desaparecimento do pequeno produtor. E aos que permanecerem na atividade, convém lembrar que a escala de produção é fundamental, em razão do pagamento da atividade. Ele recomenda aos produtores suplementar com alimento volumosos e de qualidade. Afinal, a produção de leite começa pela alimentação do animal.
Na opinião do professor, os programas de suplementação alimentar para o gado de leite, prática comum nas grandes propriedade, começam a ser adotadas também nas pequenas. Assegura, por exemplo, que, há 20 anos, as diferenças entre a produção de leite no verão e no inverno alcançava diferença de 50%. Hoje, isso não se verifica mais. Cita como exemplo o Estado do Goiás, onde as duas estações têm praticamente o mesmo volume.
Adepto do uso de volumosos, Mattos explica que o produtor pode suplementar a alimentação do gado de leite com uma série de produtos, ideais para certas situações. Por exemplo, no inverno, oferecer forragens conservadas e cana-de-açúcar. Se a necessidade for protéica, usar farelos, oleaginosas e uréia. E, para energia, milho.
A necessidade de implantação de um programa de suplementação deve ser analisada em primeiro lugar, a relação custo benefício, ou seja, o produtor deve considerar o que tem na propriedade e quanto deve gastar para transformá-lo em alimento. Em segundo lugar, analisar o valor nutritivo do volumoso obtido e a necessidade de suplementação. Em terceiro, o potencial genético dos animais. E, em quarto, o preço obtido pelo leite.
Mattos afirma que a suplementação, com a utilização de milho, farelo de soja e farelo de algodão, “parece cara, mas não é”. Ele afirma que “o Kg de concentrado custa, em média, R$ 0,22 e R$ 0,30, enquanto o Kg de matéria seca de volumoso não deve ser superior a R$ 0,01 e R$ 0,07”. Naturalmente, as propriedades devem ser analisadas individualmente, antes de implementar um programa.
Ainda sim, a tendência de grande parte dos produtores é optar pelo oferecimento de concentrado aos animais. “A maioria acha mais fácil comprar o produto pronto do que fazer um volumoso com qualidade”, assegura. Mattos conta que o rebanho de leite da Nova Zelândia, Poe exemplo, é mantido apenas com volumoso, formado por azevém e trevo branco.
Ele garante que qualquer gramínea pode ter alta qualidade, desde que bem manejada. Isso significa análise de solo, correção e adubação. Obedecidas essas necessidades, o professor garante que o pasto suporta entre 10/12 animais por há, no período do verão. Ele espera que o conceito da importância do volumoso ganhe espaço nas propriedades brasileiras.
Marcelo Marteleto, agrônomo e assessor de Fomento e Captação da Itambé Cooperativa Central, que reúne 31 cooperativas filiadas e processa 2,4 milhões de litros de leite por dia, sugere programas de suplementação com a mescla de volumosos e concentrados. Reforça a opção por volumosos, enfatizada a garantia de produção em quantidade suficiente para o rebanho e, principalmente, com qualidade.
Há oito anos, a Itambé incrementa a assistência técnica aos cooperados com palestras, dias de campo, estudos de casos e auxílio de consultores a visitas a propriedades, quando as orientações técnicas são apresentadas. Baseado nessa experiência, Marteleto sugere um programa de suplementação para o verão e outro para o inverno. Para ambos, salienta a necessidade de baixos custos para a produção de volumoso.
No programa de verão, indicado para animais de produção entre 25 a 40 litros/dia, recomenda silagem de milho aliada ao concentrado. O custo da silagem deve oscilar entre R$ 16,00 e R$ 25,00 a tonelada, com produção na fazenda. Ele afirma que é preciso apresenta produção profissional de milho, o que significa alta produtividade, para obter-se esse resultado. Para animais com produtividade mais baixa, até 20 litros/leite/dia, sugere a produção de volumo de cana-de-açúcar, cuja o custo deve ser de R$ 10,00 a tonelada. O volumoso também deve ser oferecido com concentrado.
Recomenda, ainda para o programa de inverno e vacas com produção de até 25 litros de leite/dia, todas em lactação, a divisão por lote, como forma de aperfeiçoar o manejo de alimentação. Por exemplo, o lote 1 pode englobar as vacas recém-paridas, que recebem silagem de milho mais concentrado. O lote 2, as novilhas recém-paridas e silagem de milho. Lote 3, as vacas em lactação e silagem de milho. Lote 4, as vacas em final de lactação e cana-de-açúcar mais concentrado. Lote 5, as vacas secas e cana-de-açúcar e concentrado. Lote 6, as novilhas e cana-de-açúcar mais concentrado.
Já como programa de verão recomenda pastos, com boa qualidade e quantidade. Marteleto explica que pastos formados por qualquer forrageira para consumo animal, seja brachiaria, panicum, capim elefante e outras, oferece boas respostas, desde que manejados de forma correta. Outra sugestão dele consiste em preparar um pasto de capim elefante, por exemplo, e dividir a área em 46 piquetes. Cada piquete é usado por um dia e permanece em descanso por 45 dias. “A fertilização garante crescimento do pasto e o descanso, a qualidade”, assegura ele. Mais: esse manejo permite que cada há suporte entre 10 e 12 vacas.
Ainda como programam de verão, afirma que as vacas necessitam de conforto. Lembra que os animais pastejam até as 10 horas da manhã e necessitam de locais com sombra e água sem barro até as 16 horas. Esses locais devem estar próximos dos centros de manejo, para evitar o desgaste animal. Portanto, manejo animal inclui manejo de pastagem.
A diferença sazonal na qualidade do pasto e a perda da qualidade e quantidade na seca são lembradas por Ricardo Leandro Cazes, gerente de Desenvolvimento de Produtos da Tortuga, empresa que oferece suplementação para animais em crescimento, reprodução e acabamento. Ele não hesita em afirmar que o leite entra pela boca do animal. E reforça a teoria ao defender a equação sobre produção animal. Para ele, a produção animal defende da ingestão de matéria seca x valor nutricional desse alimento. Disso depende a reposta animal, garante.
Cazes classifica como alta produção médias acima de 30 litros; média, em torno de 20 litros; e baixa, entre 10 e 11 litros. Lembra que a média brasileira não alcança 3 litros/dia/animal. E garante que, para grande produtividade, o animal necessita de suplementação de proteína, energia, minerais e vitaminas. Isto é, concentrado e volumoso.
Ele acredita que o programa de suplementação alimentar deve obedecer a três critério. primeiro, o tipo de leite produzido e o preço recebido pelo produtor. Segundo a quantidade de leite a ser produzida. É terceira, as características da propriedade. O ponto de equilíbrio pode ser a produção de mil litros/dia, explica. Dessa forma, se a propriedade tiver 50 há, é preciso adotar regime de confinamento para os animais. Se a propriedade tiver mil há, o pastoreio resolve.
O programa de suplementação recomendado por ele baseia-se nas várias fases da vida do animal, que exigem alimentação diferenciada. Para vacas secas, por exemplo, aconselha oferecer pasto. Se as condições desse pasto não forem ideais, a suplementação é necessária, para que o animal recuperar-se da lactação anterior e ganhar peso. Isso significa alimentação rica em energia e proteínas, com a adição de suplementação mineral.
Para as vacas em pré-parto, a dieta exige mais energia, mais proteína e mais minerais. A vaca não deve se alimentar de pasto verde e da rebrota, em razão de potássio e cálcio. Trata-se da dieta de transição, quando o animal vive entre a fase de estar seca e o próximo parto, explica.
Já no início da lactação, a vaca reduz o consumo de matéria seca, pois perde o baixo, em que o animal perde peso para produzir leite. A dieta, que precisa ser rica em energia, proteína e nutrientes, pode consistir em um pasto bom. Os cuidados nessa fase são fundamentais, para não retardar a prenhez futura.
Para as vacas em alta lactação, quando atingem o pico genético da capacidade de produção, Cazes explica que a alimentação exige energia, proteína, fibras, minerais e carboidratos não estruturais ou solúveis, como amido, por exemplo.
A fase seguinte, o fim da lactação, requer que o produtor considere o necessário para repor o que perdeu, mas não pode engordar. A alimentação consiste em menos proteína, energia e minerais. Nessa fase, o produtor pode oferecer feno, palhas, pasto passado, casca de soja, capineiras e cana-de-açúcar.
Na opinião dele, os produtores de leite, setor que se aperfeiçoou nos últimos cinco anos, ainda necessita de profissionalização. Ele recomenda aos produtores que incrementam os cuidados ao tripé básico da produção de leite, formando por nutrição, manejo e sanidade. Garante que quanto maior a produção de volumosos, menor o custo de produção do leite. Lembra também a necessidade adotar parâmetros nutricionais completamente ajustados, ou seja, adotar a água. O produtor precisa acertar no que oferece á vaca, finaliza.
Alguns dos produtores brasileiros incluem probióticos na alimentação dos animais. O probiótico é um produto natural, cuja função consiste em melhor o funcionamento do rúmen e, conseqüentemente, provocar melhor eficiência no aproveitamento dos alimentos. O probiótico pode estar incluído na formulação de rações ou ser oferecido como alimento direto, para animais recém-nascidos, jovens e vacas em lactação.
Carlos Vilhena Vieira, agrônomo, consultor especializado em corte e leite e responsável pela comercialização do produto no Brasil, há um ano e meio explica que a receptividade ao probiótico é crescente, especialmente entre os criadores de elite, proprietários de animais vencedores em concursos de produtividade leiteira. Já Mattos, mostra-se cautelosos em analisar o produto e acredita que os estudos devem ser incrementados, para, então, ser adotado por produtos e acredita que os estudos devem ser incrementados, para, então, ser adotado por produtores. Vidal Farias, ex-professor da ESALQ e atualmente consultor em gado de leite, afirma que o probiótico é usado nos rebanhos ao longo do mundo. E garante que as pesquisas mundiais mostram resultados benéficos.