Depois de se expandir entre os criadores, a coturnicultura (criação de codornas) volta-se para o incremento junto á população, ave no cardápio do brasileiro, estimulando o desenvolvimento do setor na área comercial. Até agora, a inclusão dos ovos no cardápio das churrascarias e restaurantes por quilo representou a principal ferramenta de divulgação da produção, que, atualmente, chega a 4,8 milhões de ovos/dia, concentrando-se basicamente nos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Tratou-se de um crescimento silencioso, que precisa ganhar forças junto aos consumidores, com objetivo de estimulá-los a levar o produto para casa, comenta o presidente da Associação Paulista de Coturnicultura (APAC), William Shuhei Fujikura, lembrando que, lado a lado com o ovo de galinha nos supermercados, a dona de casa não se atrai pelo de codorna.
Sendo assim, ele acredita que o grande promotor do consumo no varejo é a indústria. O mesmo trabalho realizado no atacado, com a venda de ovos em conserva, pode ser disponibilizado nas prateleiras ou gôndolas, incentivando a compra pela população em geral. Além disso, a divulgação de receitas variadas seria outra alternativa para incrementar a demanda pelo produto. O preparo mais comum para o ovo de codorna é o seu cozimento, mas também pode ser feito pequenos omeletes, espetinhos à milanesa e servir de base para patês.
Dono da granja Fujikura, de Suzano (SP), o cotornicultor ressalta que a atividade merece mais atenção por parte do restante da cadeia comercial, desde indústrias de vacinas e equipamentos de criação fabricantes de embalagens. Com uma produção voltada para venda de filhotes, Fujikura mantém em seu plantel entre cinco e dez mil aves para produção de ovos comerciais e aproximadamente 50 mil matrizes. Todo começou em 1980, quando seu pai, até então criador de patos e marrecos, viu no mercado de codorna uma atividade promissora dentro do mercado de aves. Uma época em que existiam poucos produtores e o preço situava-se num patamar mais elevado. Quando ocorria excesso de oferta, o produto logo valorizava, que o ciclo de produção da codorna é curto e os preço se recuperavam em, no máximo três meses.
Com a entrada de novos criadores, tal realidade se alterou e a retomada de preços apresenta períodos mais longos, próximo a um ano. Hoje, ao mesmo tempo que a recuperação se tornou mais lenta, o períodos de bons preços também são mais longos. Assim, o mercado perdeu sua freqüência de abruptos altos e baixos, assumindo uma característica mais branda. Não dá para dizer se isso foi bom ou ruim, mas a verdade é que os criadores mais profissionalizados precisam de maior capital de giro para suportar as épocas de preços baixos.
Não aos aventureiros
Em 1997 a Granja Fujikura viveu um ano bom nas vendas de filhotes. Em 1998, houve queda de cerca de 24%, em função do alto alojamento ocorrido no ano anterior, o que causou excesso de oferta. Para 1999, o coturnicultor esperava uma recuperação, mas a crise cambial retardou a retomada do mercado. Neste segundo semestre, estamos sentindo uma melhora no preço dos ovos, que reflete diretamente no trabalho com filhotes. Só não sabemos até quando esse tempo de preços bons vai durar. É uma incógnita.
Dessa forma, Fujikura não incentiva a entrada de aventureiros no negócio de codornas. Diz que os custos são altos e a margem de lucro deve ser administrada com muita cautela. O granjeiro experiente mantém seus gastos em torno de R$ 0,20 a dúzia de ovos, colocando á venda por volta de R$ 0,24 e R$ 0,26, calcula.
Por sua vez, um dos proprietários da Chácara Primavera, de Santa Izabel (SP), Klaus Pereira, comenta que haja maior aproveitamento das possibilidades de retorno na atividade, que pode proporcionar uma lucratividade de 30%, o processo produtivo deve ser administrado respeitando as particularidades de cada uma de suas etapas. O ciclo se inicia na incubação á venda de aves com um ou trinta dias de vida,a comercialização dos ovos in natura ou em conserva, a possibilidade de aproveitamento do esterco em outras atividades rurais e, finalmente, a venda da ave abatida e congelada. A criação de codornas é marcante por ser uma ave com amadurecimento sexual rápido, o que possibilita uma baixa aplicação com retorno a curto prazo. Para o mercado atual, a fase mais explorada, com maior possibilidade de aceitação e bom grau de segurança para o investidor é a venda de filhotes e ovos in natura.
A tradição, no Brasil, pela criação de codornas poedeiras ocorre devida a ligação da ave com a colônia japonesa, cujos descendentes são os principais criadores no País. A produção de carne fica restrita a um pequeno grupo de produtores, que utilizam os machos ou os descartes da codorna de postura, caracterizados por animais de tamanho pequeno e carcaça de qualidade inferior. Poucos são os que trabalham com codorna de origem européia, de origem italiana, que possuem melhores condições para a atividade de corte, explica Pereira.