A afirmação de que o homem do campo é tradicionalista e desconfiado pode ser considerado o melhor exemplo para o desempenho do girassol em terras brasileiras. Fruto de experiências malsucedidas há alguns anos, a planta foi relegada ao esquecimento, até que iniciativas com sucesso alavancaram a explosão de plantio nas safras 1997 e 1998, com expectativas de ampliação na safra 1999/2000. O fracasso anterior justifica-se pela falta de mercado consumidor, de tecnologia e de genótipos produtivos, garante Marcelo Fernandes de Oliveira, pesquisador da Embrapa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa Soja, em Londrina, Paraná.
Ele afirma que a área atual de girassol no país soma 82 mil ha, resultantes da safra 1998/1999. A expectativa para 1999/2000 é de 150 mil ha. O total mostra-se animador, se comparado á safra 1997/1998, que alcançou 22 mil ha e revelou-se muito acima dos resultados anteriores. A safra 1990/1991, por exemplo, apontava apenas mil ha cultivados, total que subiu para 5.000, entre 1995/1996, e assim manteve-se em 1996/1997.
Oliveira conta que a explosão ocorreu com o plantio nos Cerrados, em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais. E a explicação é simples, já que a região não consegue sobreviver com apenas a safra anual. Contribuem também fatores como os preços alcançados pela soja e pelo milho, que forçaram a busca por novas opções. Mais ainda: a planta revela tolerância á seca; silagem com alto teor de proteína, entre 10,8% e 11,3%, enquanto a silagem de milho garante teores entre 7,8% e 8,2%; tecnologia, com genótipos produtivos; preço competidor e garantia de mercado.
Goiás revela-se o maior produtor em girassol, com 28 mil ha cultivados em 1998/1999. São Paulo ocupa o segundo lugar, 15,2 mil ha; seguindo pelo Paraná, com 11 mil ha; Mato Grosso, com 8 mil ha, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul, com 7 mil cada; Minas Gerais, com 3 mil ha. O restante está diluído por outras regiões do país. A liderança de Goiás teve início na safra anterior, quando o Estado registrou 12.600 ha, também a maior área. Naquele período, o Paraná plantou 3.500 ha; Mato Grosso do Sul, 3.000 ha; Rio Grande do Sul e Mato Grosso, 1.000 a cada; e São Paulo, 800 ha.
O maior produtor mundial de girassol é Argentina, com 6,600 milhões toneladas de grãos e produtividade de 1.760 kg/ha; seguida pela Rússia, com 2,831 milhões de toneladas e 730 kg/ha de produtividade; e Ásia, com 2,350 milhões de toneladas de grãos e 730 kg/ha de produtividade. Oliveira afirma que o Brasil obteve médias de produtividade de 1.280 kg/ha , na safra 1997/1998. Para 1999/2000, o Sul do país deve alcançar 2.000 kg/ha de produtividade e o Centro-Oeste, 1.500 kg/ha. O Nordeste ocupa situação peculiar, com plantio espalhado em algumas das regiões da Bahia, alagoas, Pernambuco, Maranhão e Piauí, todas sem grande expressão.
O pesquisador afirma que o girassol não veio para substituir a soja e o milho, mas para rotação de culturas. Exatamente por isso, é a planta indicada para plantio na safrinha. E a busca do sucesso pode ser resumido na escolha da área, genótipos e regulagem da plantadeira. Esse . Esse três elementos garantem 70% de plantio bem sucedido, assegura. Como o mercado brasileiro é atendido por matérias-prima originária da Argentina, ele enfatiza a expectativa do potencial interno para consumo, em torno de 750 mil ha. Na opinião do pesquisador, o mercado deve crescer de forma lenta e com o trabalho conjunto da pesquisa.
Essa expectativa começa a tornar-se realidade, desde o final do ano passado, quando a Empresa firmou parceria com o Grupo Caramuru Alimentos de Milho e Caramuru Óleos Vegetais, com sede em Itumbiara, Goiás. Osvaldo Vasconcellos Vieira, pesquisador da Embrapa responsável por transferência tecnológica, conta que a experiência baseia-se no treino visita, modelo usado pela Food Agriculture Organization of the United Nations (FAO) órgão da Organização das Nações Unidas (ONU), voltado para a agricultura.
O modelo consiste na transferência de tecnologia para o cultivo do girassol. Vieira explica que a Embrapa ofereceu o modelo ao Grupo Caramuru, que aceitou imediatamente. Inicialmente, os pesquisadores da Embrapa reuniram-se com três técnicos da Caramuru, que passaram a ser denominados técnicos especialistas. Os técnicos especialistas tornaram-se responsável em repassar o mesmo treinamento a grupos formados por mais cinco ou seis anos técnicos. Esse técnicos encarregaram-se de orientar os produtores de girassol, que plantaram com venda garantida para a empresa e preços pré-fixados.
O processo de orientação aconteceu em diversas etapas, sempre no campo. No final de novembro, por exemplo, os pesquisadores da Embrapa, mais os técnicos especialista e os demais técnicos reuniram-se para nivelamento das informações. Numa etapa posterior, os pesquisadores mais os técnicos especialistas estudaram a semeadura. Em outra reunião, o mesmo grupo analisou a adubação de cobertura. E, finalmente, o mesmo grupo mais os 25 técnicos treinaram a colheita. Dessa forma, técnicos e produtores mantinham-se em contato permanente. A Embrapa manteve linha direta com o Grupo manteve linha direta com o Grupo Caramuru e o campo durante toda a experiência, lembra Vieira.
Neste mês, os técnicos especialistas analisarão os resultados da experiência e os pontos de estrangulamento, que serão estudados em reunião com os pesquisadores da Embrapa, em outubro próximo. Na opinião de Vieira, a empresa e cooperativas, como a Cotrimaio, em três de Maio, e a Cooperativa de Ibirubá, ambas no Rio Grande do Sul, devem repetir a experiência de unir tecnologia e produtores.
Entusiasmado com a experiência tecnologia e empresa, Antônio Ismael Ballan, gerente-geral comercial do Grupo Caramuru, afirma que a capacidade do mercado interno em consumo de óleo de girassol gira em torno de 65 mil toneladas. Já Davi Eduardo Depiné, gerente-geral de Suprimento Matéria-prima, explica que a previsão de consumo para os próximos anos é de 85 mil toneladas/ano e plantio de 100 mil ha, em 2001.
O Grupo Caramuru atua no mercado desde 1997, com óleo de girassol importado da Argentina. E, no ao seguinte, adquiriu o primeiro lote de girassol produzido no Centro-Oeste. Neste ano, a produção será de 6.500 toneladas, volume superior ao de 1998, que somou 2.500 toneladas. Portanto, registrou-se crescimento de 160% no volume de óleo processado.
Depiné assegura que o aumento na produção de girassol pode ser atribuído ao fornecimento de tecnologia aos produtores, com a inclusão de sementes, fertilizantes e, especialmente, a garantia de comercialização. O grupo firmou contratos de compra da produção com preço pré-fixados. A iniciativa permitiu negociações com 156 produtores na safra 1999. Desse total, 45% plantam em Goiás e os demais em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo e Paraná. Ballan afirma que o grupo espera crescimento anual de 20% a 25% no volume de óleo processado e na área de plantio.
A certeza dos bons resultados de união campo e tecnologia é enfatizada por César Borges de Sousa, presidente da Associação Brasileira das indústrias de Óleo Vegetais (Abiove), vice-presidente do Conselho do Grupo Caramuru. Ele defende a necessidade de equacionar o aspecto agronômico com a consolidação do produto. Ou seja, é preciso saber plantar, para atender ás necessidades do mercado, cuja produção nacional de óleo de girassol é irrelevante.
Sousa garante que, desde o Plano Real, cuidados com saúde e, conseqüentemente, com a alimentação. O caminho foi longo, desde a frituras com banha, óleo de soja. Ainda hoje, o consumo do óleo de soja lidera os óleos vegetais. Segundo a Abiove, baseada na fonte Oil World, o consumo doméstico, em 1998, foi de 2,838 milhões de toneladas, seguindo por 111 mil toneladas de óleo de milho, 106 mil toneladas de óleo de palma, e apenas 79 mil toneladas de óleo de girassol.
Já o balanço específico do óleo de girassol mostra crescimento de 10 mil toneladas para 12 mil toneladas, entre 1997 e 1998. A importação saltou de 63 mil toneladas, em 1997, para 68 mil toneladas, em 1998. Sousa assegura que o crescimento do plantio ainda é bastante recente, o que não permite ao setor realizar avaliações e traçar expectativas.
Paralelamente á venda para processamento de óleo, os produtores podem direcionar o plantio para o mercado de alimento para pássaros. Mauro Kitano Matsunaga, encarregado de compras de matéria-prima da Yoki Alimentos, afirma que a empresa comercializa atualmente entre 80 toneladas e 90 toneladas por mês de sementes de girassol. O crescimento em relação ao ano passado foi de 32%, embora ele desconheça a causa. Ainda assim, expectativa é de aumento nos próximos anos.
A empresa, que compra sementes de produtores do Mato Grosso e deve incluir plantadores paranaenses na próxima safra, possui entre 20 mil e 30 mil pontos de venda espalhados no país. A meta para o futuro próximo é ingressar no mercado de pet shops, lojas que comercializam ração para animais domésticos, com a perspectiva de aumentar consideravelmente, as vendas.
O mercado confeiteiro, formado pelo consumo de grãos em bolos, doces in natura e salada, como acontece na Argentina, é analisado com cautela por Matsunaga. No entanto, ele aposta no crescimento do cultivo do girassol, especialmente com a ajuda da tecnologia.
A expectativa é compartilhada por Júlio César Gomes, agrônomo e diretor da Sinuelo – Genética e Tecnologia Agropecuária, empresa responsável pela introdução do girassol forrageira no país. Gomes afirma que o produto, o híbrido para forragem Rumbosol 91, foi lançado comercialmente, na safrinha do Paraná, 1997/1998, com plantio de aproximadamente 250 ha. Na safra seguinte, saltou para 1.500 ha. A estimativa para a safra 1999/2000 é de 3 mil ha cultivados, acredita ele.
O girassol forrageiro Rumbosol 91 caracteriza-se pelo porte alto, acima de 2,5m de altura, e produtividade de massa verde, em torno de 50 toneladas/ha a 70 toneladas/ha. Em pesquisa realizada pela Sinuelo entre girassol forrageira e milho, para produção de silagem, comprovou-se que os custos de sementes oscilam entre R$ 60,00 a R$ 70,00, para o milho, e R$ 65,00, para o girassol. A silagem de milho registra entre 6% e 8% de proteína bruta e o girassol, de 10% a 12%. A energia digestível é de 2.700 Kcal/kg, para o milho, e de 3.100 Kcal/kg, para o girassol. Ambas têm ótima palatabilidade.
Gomes enfatiza a importância do momento correto para o corte e ensilagem do girassol. O plantio deve apresentar teor de matéria seca em torno de 30%. Para o corte e picado podem ser usadas máquinas empregadas para milho sorgo. Entusiasmado, ele conta que a empresa recebeu, ao longo de três anos, três mil consultas de produtores e que aproximadamente 20 cooperativas estão engajadas para a produção do girassol forrageiro.
A expectativa para a safra 1999/2000 é de que o Rio Grande do Sul registre entre 25% e 30% da produção; Paraná, São Paulo e Minas Gerais, de 12% a 15%; e o restante distribuídos por Santa Catarina, Pernambuco, Bahia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Rio de Janeiro e Espírito Santo.
A opinião dos produtores
Na safra passada, dois produtores introduziram o cultivo do girassol em suas propriedades. Um deles, com o propósito de comercializar a produção para a fabricação de óleo. E o outro, para a formação de silagem. Ambos, embora em áreas com características opostas, mantiveram em comum a cautela na nova experiência.
João Van Ass, proprietário da Fazenda 2/1, em Montividiu, GO, onde mantém 2 mil ha com milho, feijão e trigo, optou pelo plantio do girassol na safrinha, quando ocupou 300 ha. A produtividade registrou 1.200 kg/ha. Entusiasmado, Ass conta que repetirá o cultivo.
O produtor conta que o segredo para o sucesso consiste na orientação técnica. Ele consultou a Embrapa, quando, então, optou pela semente Cargill C-11 e também aprendeu a importância da rotação. A área que usei, só voltará a receber girassol daqui a quatro anos, explica.
Ass enfrentou apenas um problema, a necessidade de adaptar as plantadeiras para garantir a uniformidade na plantio. A produção foi comercializada com o Grupo Caramuru, fabricante de óleo, com preços pré-fixados.
O plantio do girassol é uma grande para a safrinha. Especialmente, se mantiver a característica de plantio com destino certo, assegura ele. Recomenda, porém, aos produtores interessados em implantar o cultivo, que procurem orientação técnica, caso contrário não se colhe nada.
A experiência de José Cardoso Neto, proprietário da Fazenda Santa Isabel, em Cafeara, Paraná, também é animadora. Cardoso Neto possui 2.105 ha, dos quais 484 ha divididos entre o plantio de milho e soja. Criador de Limousin, mantém 3,6 mil cabeças, das quais 150 PO, além de gado Nelore. Interessado em silagem com alto nível de proteína, o produtor optou pelo plantio do girassol forrageira em apenas 10 ha, como experiência.
O plantio foi realizado em meados de agosto e a colheita, 100 dias mais tarde. Cardoso Neto seguiu recomendações técnicas de plantio e manejo fornecidas pela Sinuelo, empresa que comercializa as sementes do girassol forrageira Rumbosol 9. Isso significa adubação de solo e de cobertura, espaçamento de 80 cm entre linhas, com quatro sementes por metro linear e uso de peneira para girassol na plantadeira, entre outros cuidados. Ele conta que os resultados foram animadores, pois obteve 30 toneladas/ha de massa verde, com excelente palatabilidade. Ele planeja o próximo plantio para fevereiro, quando ampliará a área para 10 ha.
Os segredos do plantio
Originário da América do Norte, o girassol (Helianthus annuus L.) é uma planta com inúmeras propriedades. As sementes permitem a fabricação de óleo vegetal de excelente qualidade e a produção de farelo para alimentação humana, de aves e animais domésticos. O caule garante silagem, com altos níveis de proteína. E a flor ocupa lugar no mercado de plantas ornamentais.
Para os que agricultores que pretendem cultivar a planta, Marcelo Fernandes de Oliveira, pesquisador da Embrapa – Soja, explica que a planta adapta-se as mais diversas condições climáticas, com tolerância a geadas, especialmente nos primeiros e últimos trinta dias de cultivo. O plantio, para evitar doenças, deve ser feito entre julho e final de agosto e meados de outubro. E, em São Paulo e Centro-Oeste, de 20 de janeiro a final de fevereiro.
A planta prefere solo arenosos e argilosos. O plantio deve obedecer a espaçamentos de 70 cm a 90 cm entre linhas, com as sementes em profundidade de 4 cm a 5 cm e total de 40 mil a 45 mil plantas por ha. A rotação é fundamental. O pesquisador aconselha a divisão da área destinada ao plantio em quatro, plantio de uma delas a cada ano. Portanto, cada uma das áreas terá replantio em quatro anos. O ciclo do girassol oscila entre 100 e 120 dias, conforme a variedade.
Oliveira recomenda cuidado, como escolher a área de plantio, pois o girassol é sensível ao pH do solo e exige acima de 5,2 em cloreto de cálcio; optar por terrenos que não apresentem camada compactada, já que a raiz do girassol é profunda, em torno de 1,5 m; e procurar genótipos certos, especialmente se a finalidade for plantio para a produção de óleo.
Ele conta que a Embrapa realiza testes em 72 pontos do país e oferece informações aos produtores interessados. As recomendações incluem ainda cuidados com as plantadeiras. Oliveira afirma que 99% dos produtores têm plantadeira a disco. O correto é comprar disco para girassol.
Como adubação básica do girassol, ele sugere de 40 kg a 60 kg de Nitrogênio por ha. No plantio que se segue ao da soja, 40 kg. E 60 kg, no que se segue ao milho e do trigo, ou seja, cultivos com muita palhada. Completar a adubação, com aplicações entre 40 kg a 80 kg de fosfato e de 40 kg a 80 kg de potássio. Ainda assim, o correto é que cada produtor mande analisar o solo de sua propriedade.
O pesquisador explica que o girassol é exigente em micronutrientes, como Boro, que deve ser aplicado na base 1,2 kg/ha, via foliar, 30 dias após a emergência. O Boro é responsável pelo enchimento dos grãos, aumentando de tolerância á seca de produtividade. Em relação ás pragas, o pesquisador sugere observar os vinte primeiros dias após a emergência, quando pode surgir a vaquinha (Diabrótica speciosa), que necessita controle químico. Após 21 dias, dispensar o tratamento. O monitoramento da lavoura é o melhor controle, garante.
Quando ás doenças, afirma que a planta é suscetível á mancha de alternaria (Alternaria sspp), que não possui resistência genética e controle químico. O combate é feito com o plantio na época correta. O girassol pode ser atacado ao=inda pela podridão do caule e capítulo (Sclerotinia sclerotiorum). A colheita é feita com máquina que pode receber adaptações na plataforma de milho.
O mercado oferece sementes de diversos fabricantes como a Cargill, com sementes C11, para óleo, e S 430, para alimentos de pássaros; Morgan, com m734 e m742, para óleo e pássaros; Embrapa, 122 para óleo; Agromania; Catissol 01, para óleo; e Sinuóleo, com Rumbosol – 91, forrageira. A Embrapa prepara o lançamento de nova variedade, ainda sem nome para outubro deste ano.