Agricultura

Banana – “roupa de gala”, para ganhar mercado

Ainda falta muito a banana conquistar o nível de qualidade na produção, transporte e comercialização de frutas como uva, o mamão e a manga. No entanto, surgem no País pequenos focos que deixaram o extrativismo de lado e partiram para a profissionalização nos negócios. Uma situação que colocará em xeque o uso da expressão “Preço de banana”, em referência a produtos quase sem valor comercial. De início, basta se comprovar a injustiça cometida por tal provérbio.

A bananicultura é uma atividade presente em todos as regiões, com plantações que vão da faixa litorânea até os planaltos do interior do País. Uma situação que coloca o Brasil como o segundo maior produtor mundial da fruta, perdendo apenas para a Índia. Somente no Estado de São Paulo, um levantamento realizado pela Cati – Coordenadoria de Assistência Técnica – indicou que o cultivo da fruta ocupa uma extensão de mais de 61 mil hectares, com produção em 10.109 propriedades, a grande maioria com plantios de Nanicão, Nanica e Prata. Destaque para o Vale do Ribeira, que apresenta uma cobertura de 41.625 há de banana, o que representa 67,91% do total, com uma área média de 10,61 há/propriedade.

Apesar disso, segundo o engenheiro agrônomo da Divisão de Extensão Rural (Dextru) da Cati, Ricardo Moncorvo Tonet, a produção nacional não tem competitividade internacional, principalmente por problemas ocasionados nas etapas de colheita e pós-colheita. “De maneira geral, temos bananas com sabor comparável a qualquer outra produzida no mundo. No entanto, pecamos com a falta de carregamentos adequados, embalagens propícias e tratamentos corretos antes de chegar ao consumidor”, diz ele, lembrando das conhecidas pintas pretas encontradas na fruta nacional – “um defeito que incorporou ao imaginário brasileiro sobre a banana, presente até nos ingênuos desenhos de crianças”.

Nesse sentido, a corrida pela busca da melhoria dos frutos está passando por diversas etapas e, agora, vem tomado fôlego maior para vencer os obstáculos de uma produção de qualidade. Não era para menos, pois a barreira fitossanitária que protegia o Brasil contra importações de bananas parece estar com os dias contados. É que, desde de 18 de junho de 1994, com a Portaria nº 128, o País é considerado área livre de uma doença chamada mal de Sigatoka negra, presente na maior parte das nações produtoras de banana. No entanto, há poucos meses, foram descobertos focos na região Norte, provavelmente oriundos da Venezuela, o que poderá ser motivo para liberação para a comercialização do produto estrangeiro. Numa importação ilegal de bananas equatorianas para Curitiba (PR), denunciada em 1995 ao Ministério da Agricultura, os bananicultores brasileiros comprovaram, na prateleira dos supermercados, o quanto é preciso melhorar. “Colocadas lado a lado, o produto importado apresentou um apelo comercial mais aprimorado, com vendas muito mais rápidas do que o fruto nacional, mesmo apresentando preço mais caro”, conta Tonet.

Como prova, o proprietário da Fazenda Amaya, de Pariquera-Açú (SP), Milton Amaya, anuncia a falta de padronização nos processos produtivos da banana nacional. De acordo com ele, isso dificulta comercialização da fruta ‘in natura’, aumentando a possibilidade dos negócios dos produtos da fruta industrializada, que não são poucos, começando na polpa, passando pelas farinhas, flocos, bananada, caramelo, balas, bombons, geléia, banana passa etc. “Não há padrões para nada, da fruta às caixas de transporte”.

Sendo assim, o mercado esterno pode ser a grande meta da produção de bananas brasileiras, mas só depois de garantir posição confortável nos negócios internos. Um espaço que há muito para se explorar. O consumo médio de bananas no Brasil é bastante expressivo, atingindo algo em torno de 20 Kg/habitante/ano. Numa família paulistana de renda média, isso corresponde a 15% do total de gastos com frutas. No entanto, diferenças regionais constroem um cenário de extremos, no qual a Bahia chega a apresentar um consumo de 42 Kg/habitante/ano e o Paraná com áreas, como sua capital, de 0,5 kg/habitante/ano. Uma realidade com enormes potenciais de crescimento, a qual a produção nacional terá de se debater com gigantes como o Equador, Costa Rica e Colônia, caso sejam liberadas as importações.

Bananas para o exterior

Com 105 mil pés, em 70 há, a Fazenda Carapiranga, de Registro, SP, adotou o cabo aéreo para levar as bananas até a packing house (casa de embalagem). De grande extensão, os cabos eliminaram o transporte por carretas ou tratores na plantação. A decisão do proprietário Sérgio José Haiek por tal sistema ocorreu depois de uma enchente, em janeiro de 1997, que destruiu todo seu cultivo. Agora, a produção de 100 mil caixas de aproximadamente 25 Kg por ano é colhida dentro de um dick feito pelo governo estadual, num local mais seguro contra águas de chuvas abundantes.

A situação da Carapiranga é uma exceção dentro da bananicultura nacional. Nada do que produz fica no Brasil, tudo vai para Argentina e Uruguai. Países que, na época do avô de Haiek, já mantinham negócios com a fazenda. “Trata-se de um mercado de compras em volumes maiores, com maior segurança nos pagamentos”, pontua sua opinião pela continuidade da exportação.

Mesmo com o privilégio de colocar sua colheita no Exterior, Haiek ressalta a necessidade de se criar condições para o produtor brasileiro. Aí, a carência de novas técnicas, mais variedades de plantas e falta de financiamentos compatíveis com a atividade aparecerem como fatores que barram o desenvolvimento do setor. Ele concorda com agrônomo da Cati, lembrando que o problema maior encontra-se na colheita e pós-colheita, que não utilizam transporte e embalagens adequados. “No final, a banana é outra que fica sem preço de mercado. Para se ter uma idéia, os frutos comercializados pelo Equador suportam distâncias que demoram até um mês de viagem. Os do Brasil, não passam de cinco ou seis dias”.

Para alcançar melhorias, Haiek credita na pressão da cadeia comercial da banana. Por sua experiência, diz que o mercado interno é forte, mas só agora as exigências de distribuidores, supermercados e consumidores passaram a existir. Uma pressão que promete tirar a banana de um status de produto de valor secundário, agregando valores mais nobres à sua condição comercial. “Antes, a gente sofria com a concorrência de outras frutas, condicionados a alguns períodos do ano. Hoje não é mais assim, temos o Norte, Nordeste, Santa Catarina e interior paulista que estão se aperfeiçoando na produção de bananas de qualidade”, analisa, afirmando que o potencial natural do competitividade – “é preciso profissionalismo”.

Justamente o que estão tentando o Sebrae – SP e a Secretaria de Agricultura e abastecimento do Estado de São Paulo, com a criação do Sistema Agroindustrial Integrado (SAI). Uma iniciativa que abrange todo o Estado, destinada a Estimular o desenvolvimento das atividades da área rural, por meio da integração dos elos da cadeia comercial. Um estímulo voltado principalmente para união dos pequenos produtores com o objetivo de que passem a encarar a atividade como negócio. Para a médica Veterinária e agente de Desenvolvimento do SAI/Registro, Andréia Maria Pinto, não se trata de competir com o vizinho, mas com outras regiões, o que fortalece a produção local. Assim, segundo ela, automaticamente a corrida pela concorrência gerará qualidade. “No caso da banana, apresentamos outras maneiras de comercialização do fruto, que não a venda direta. Mostramos outras alternativas para que se entenda o funcionamento do mercado e se tire melhor proveito dele”.

“Yes, nós temos banana!”

No mercado de bananas climatizadas, há 30 anos, a Fava Comércio de Cereais e Frutas Ltda, de Jundiaí, SP, vem se aprimorando na melhoria de métodos e técnicas para que o produto se mantenha com qualidade até a venda final. Com a distribuição de 500 a 600 toneladas de bananas ‘in natura’ por mês.A empresa desenvolveu em 1997, um display para o ponto- de- venda, no qual a banana passou a ficar pendurada em ganchos descartáveis, não mais expostas em bancas. “Nossa idéia foi criar condições para que os consumidores escolhessem com os olhos, não com as mãos, reduzindo os problemas ocasionados por manuseio”, diz o proprietário Carlos Fava, lembrando que as perdas caíram de 20% a 25% para algo em torno de 5% a 6%.

Segundo ele, o novo sistema tornou a banana mais atrativa, o que provocou acréscimo no volume total das comercializações. As compras por impulso passaram a fazer parte do mundo dos negócios da banana. O negócio dos expositores deu tão certo que, hoje a Fava tem o produto patenteado e o negocia em todo o território nacional. Já são aproximadamente 1.500 displays espalhados por todo o país. Não bastasse tal sucesso, amais recente novidade são as caixas plásticas, criadas especificamente para o acondicionamento das bananas para o transporte. Com todos os detalhes devidamente ajustados para esse trabalho – medindo 0,50×0,30×0,70cm, pesando 1,6 kg e comportado 12kg líquidos de frutos -, ganhou –se em durabilidade, armazenamento, manutenção etc. “Entramos numa nova Era, além de verificarmos que as perdas reduziram ainda mais, passando para o próximo de 2% a 3%”, finaliza.

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