Pecuária

Economia considerável, com cana na alimentação

Não é novidade que, há um bom tempo, a economia do País impôs uma realidade nada confortável ao mercado leiteiro. Junto ás melhorais do rebanho, os produtores também passaram a se preocupar com a própria sobrevivência na atividade, estreitando as relações entre custo é receita. É o caso do proprietário da Fazenda. São Pedro, em Guaratinguetá (SP), na região do Vale do Paraíba, Salvador Souza Rezende: Depois de enfrentar problemas financeiros que o impediram de completar a silagem de milho para seu rebanho encontrou, na cana-de-açúcar enriquecida com uréia, a alternativa mais condizente á sua atual condição.

Uma fonte mais barata, que não exige terras tão férteis e que, no ano passado, garantiu uma produção média de 18 kg/leite/vaca/dia, contra os 22kg/leite/vaca/dia conseguindo no trato com milho. Alguns animais deram até 20,5 Kg/leite/dia, o que confere um excelente resultado diante dessa situação de crise, comemora o pecuarista. Para a alimentação de seu plantel, que conta com 37 vacas em lactação e 10 no pré-parto, Rezende necessita de 360 toneladas de volumoso para o período de inverno. Enquanto sua lavoura de milho, além de ocupar os seis ha mais férteis da propriedade, renda 240 toneladas, a um custo de R$ 4.800,00, apenas três ha de cana suprem a demanda do rebanho, a um preço total de R$ 1.660,00 e em terras pobres tais cálculos incluem os valores de operação.

Neste ano, arrendei a área onde estava o milho e a mão-de-obra, que utilizava no preparo da silagem, trabalha no corte da cana, acrescenta, ressaltando que, em sua propriedade, a tonelada do milho cocho custa cerca de R$ 20,00 e a de cana entre R$ 8,00 e R$ 10,00.

Produtora de leite B, hoje com 650 litros/dia, não é primeira vez que a Fazenda São Pedro registra mudança na alimentação de suas vacas holandesas. Há cinco anos, o proprietário perdeu para o uso de pastagens intensiva em sistema rotacionado. O esquema persistiu por três anos, mas o ataque de cigarrinhas e o desequilíbrio na adubação prejudicaram os resultados da iniciativa. Em 1992, introduziu-se a silagem de milho na ração das vacas em lactação, trabalho que será adiado nos programas de 1999, também em função de dificuldades econômicas.

Genética em primeiro lugar

Parte da dieta das recrias há 10 anos, a cana vinha atendendo ás exigências dos animais, que aos 28 anos meses apresentavam sua primeira parição. Incorporada á comida de todo o rebanho, promete resultados satisfatórios de produção leiteira a custos baixos. Pelo menos é o que acredita o engenheiro agrônomo João Paulo Varella, que acompanha a propriedade desde 1992, antes como parte da equipe de extensionistas da Cooperativa de Laticínios de Lorena e Piquete e, há um ano e meio, como profissional autônomo. Tudo isso somente será possível, porque o trabalho está calcado no tripé boa genética, manejo adequado e alimentação balanceada.

Não fosse assim, os animais não responderiam a essa mudança na alimentação, alerta o consultor. Atento á necessidade de melhorar as características dos animais, Rezende afirma que, apesar dos percalços econômicos que atingiram sua propriedade, nunca abandonou o avanço genético do rebanho.

Assessorado pela equipe da central de inseminação artificial AG Brasil, que duas vezes por ano faz o acasalamento genético, o pecuarista consegui formar um plantel de alta qualidade. Ajustando as características de três critérios pernas detém, entre outros títulos, o prêmio da Campeã do Torneio de Lorena 98, pela produção de 57 kg/dia da vaca Milena.

De acordo com o agrônomo, outro ponto de destaque da propriedade é a importância dada á todas as fases dos animais. A preocupação começa antes mesmo do nascimento, com manejo diferenciado no pré-parto. Com uma alimentação adequada, acompanhada no primeiro terço do período de lactação, consegue-se picos de produtividade e reprodução perfeita, com período de serviço inferior a 90 dias. Sempre, é claro, com água, alimentação e sombra abundantes.

Na recria, cada bezerra utiliza abrigos individuais, recebendo quatro litros de leite/dia, concentrado á vontade e feno. A desmama acontece em 60 dias, o que, nos próximos quatro meses, ficarão numa dieta diária de dois quilos de concentrado, feno e coast cross. Depois, até os 28 meses, passam a comer volumoso, capim, cana e suplementação a cocho, quando já se preparam para a primeira parição.

Apesar de todos esses ajustes de custos, manejo e alimentação, vale ressaltar que Rezende não consegui frear na prática de venda de animais, que há alguns anos, surgiu como uma atividade paliativa e, agora, responde por grande parte do faturamento da propriedade. Nos cálculos dele, em 1990, 63% do preço do leite no varejo destina-se ao produtor. Na entrada do Plano real, esse percentual baixou para cerca de 40% e, atualmente, não ultrapassa a casa dos 30%. Se até maio o preço do leite B não chegar, no mínimo, a R$ 0,36 líquido e manter durante o ano inteiro, o mercado ficará ainda mais desesperador. Hoje, recebemos R$ 0,20 bruto, R$ 0,26 líquido, o que praticamente empata com nossos custos, para abril, o laticínio prevê um aumento de R$ 0,03 no litro.

A comercialização desses animais emperra as reposições das vacas, atrasando a renovação do plantel e diminuindo a produtividade leiteira. No ano passado, Rezende colocou ás venda praticamente toda sua recria, 35 animais em lactação. Caso o preço de leite tivesse em condições favoráveis ao produtor, eu estaria tirando entre 1.500 e 2.00 litros/dia, lamenta.

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