Alguns produtos se destacam, como o café que, ” com estoques que são de incógnita nas mãos de produtores”, deve ter uma alta de 20%. O mesmo acontece com cacau, que tem boa referência em dólar e a soja, que apesar de queda na cotação em moeda na cotação em moeda norte – americana registrada aumento no Real. Em suma, a maxi-valorização do dólar ” viabilizou a capitalização do setor que foi fortemente penalizado em 1995. Sem a desvalorização acentuada do Real este seria um ano de crise para a agropecuária, principalmente porque as commodities mostram queda de 25% nas cotações nos últimos 12 meses”. A opinião é do engenheiro agrônomo e pesquisador do IEA – Instituto de Economia Agrícola, da Secretaria de Agricultura de São Paulo, Nelson Baptista Martin, ao assinalar que ” a soja mostra o preço mais baixo dos últimos 23 anos e, por isso mesmo, deve acarretar quebradeira geral entre produtores bolivianos e paraguaios”.
Para ele, a colheita em andamento beneficia os agricultores de maneira geral, mas em especial aqueles que usaram crédito oficial e recursos próprios. Quem adquirir insumos dolarizados ganha menos, pois fez uma aposta e errou. Mas, mesmo assim não pode.” Em linhas gerais, acrescenta, os produtos exportáveis se beneficiam da medida. A exceção, talvez, fique com o açúcar que mostra queda no preço externo, devido a um excesso de oferta, acarretando uma ” internacionalização menor dos ganhos obtidos com a vendas no mercado externo. Mas obtém alta no Real”.
Para o frango, a previsão é de um aumento de até 25% nas exportações, pois a indústria está preparada para atender as exigências e os padrões internacionais. As culturas direta ou indiretamente atreladas à moeda americana têm perspectivas favoráveis. É o caso do trigo, que teve o preço mínimo elevado de R$ 157,00 para R$ 175,00/t. Os indicadores sinalizam que as vendas externas da agricultura podem atingir, neste ano, “até US$ 21 bilhões”, apesar das baixas cotações, “pois pode ampliar o leque de oferta e a preços competitivos”, observa.
O algodão, segundo Martin, também foi “viabilizado” pela `maxi´ a ponto de consagrar Mato Grosso, que desbancou o Paraná e se transformou no primeiro produtor do País. A área de plantio dessa lavoura, se manteve no agregado, mas em Rondonópolis (MT), a pecuária está cedendo terra para a cotonicultura, ” com a produtividade batendo em 250 arrobas por hectares.” Essa produção, acrescenta é obtida a um custo relativamente barato, pois a cultura é mecanizada e a colheita ” mostra uma despesa de R$ 0,70 por arroba, três vezes menos que a manual, que sai a R$ 2,20″.
Com relação aos produtos do mercado doméstico, a tendência é de que os preços também mostrem uma recuperação, embora contida. O País apresenta um quadro de recessão, com juros elevados, desemprego em alta, que podem influir no desempenho das cotações. As culturas perenes, por exemplo, deverão ter algum impacto na época da colheita, em Maio/Junho, em função de eventuais reivindicações salariais. Isso porque já está em discussão a re-indexação, ainda que de forma embrionária. Nesse caso, café, cana e laranja poderão ser afetados. Porém, num primeiro momento, com a entrada da safra, os preços podem até cair, pois o panorama recessivo compromete a comercialização da produção. Sobretudo agora com o aumento da gasolina, que vai refletir no transporte, que corre por conta do produtor, significativo custos maiores. “Na verdade, tudo está na dependência de como vai ficar o dólar”, pondera Martin. Não obstante, ele acredita que o milho registra oferta e demanda ajustadas, com perspectiva de lata no preço a partir do segundo semestre. Com relação ao feijão, é possível que a produção prevista comprima os valores pagos ao produtor.
O arroz novo deve derrubar a cotação, até porque o quadro econômico onera a formação de estoques pelo produtor. “Aliás – para ele, a estimativa de consumo de 12 milhões de toneladas está um tanto furada. No ano passado, foram produzidos 8,5 milhões/t e importadas 1,5 milhão/2 milhões, totalizado uma oferta de 10,5 milhões/t sem qualquer atropelo ou falta do produto. Isso porque o consumidor partiu para um alimento alternativo, o macarrão, que registrou 18% de crescimento na demanda”. Além disso, chama a atenção, a fatia de mercado perdida pelo arroz “dificilmente será recuperada, pois foi criado um novo hábito alimentar, a exemplo do frango que, engoliu uma boa parcela do consumo de carne bovina.” A propósito, Martin prevê que, a partir de Abril, os preços do boi entrem em queda, pois o pecuarista não aguenta muito tempo mais segurar o animal no pasto. Para ele, o confinamento de boi também não está entre as melhores opções. “Confinar só é rentável quando existe grão barato, o que não é o caso brasileiro.” O pesquisador do IEA acredita que está na hora do País ou o pecuarista testar ” boi ecológico”.
Atualmente, a relação boi-hectare está em um pouco mais de uma cabeça/área. “Pode-se perfeitamente colocar até 5 reses num hectare. Basta adubar e tratar bem o pasto para obter maior teor de proteína e gado novo em 20 ou 22 meses.” Esse tratamento resulta num tipo de carne que, acredita, pode ter grande aceitação no mercado externo. Enfim, para o pesquisador do IEA, as culturas destinadas ao mercado interno ” que é mais fraco e mostra uma demanda caindo, recessão, juros altos. Desemprego em crescimento, com a consequente queda da massa salarial, seguramente sofrerão um impacto negativo de preços que pode ser prejudicial, pois o setor demora a se ajustar, dando condições e até uma certa tranquilidade para o governo fazer estoques.”
Como reforço de argumento cita que a batata e o tomate estão com preços 44% e 10% menores que os praticados em Fevereiro do ano passado.
Com relação à inserção da agropecuária num mercado mais globalizado e competitivo, Martin diz que o setor se deu bem, com algumas exceções, como é o caso do leite “que precisa se organizar”. O café, acrescenta, perdeu a proteção do governo e está superando as dificuldades. O sucroalcooleiro “ainda chora”, mas o governo ” já liberou tudo, até o preço da cana”. Resta saber agora, “se os usineiros terão condições e responsabilidade para andar com as próprias pernas”, numa alusão ao abastecimento irregular de álcool. Quanto ao montante de recursos anunciados para o plantio de safra 98/99, Martin diz que foram utilizados R$7,1 bilhões e a previsão é de que, com a comercialização da produção e mais o dinheiro em disponibilidade atinja R$ 8,5 bilhões. Sobre as dívidas dos produtores, aqueles que renegociaram a taxa de 8,75%, fizeram um bom negócio. “Ainda resta um grupo formado por produtores com dívidas acima de R$ 200 mil que resulta em aderir ao novo esquema. Para esses, o governo deveria tirar terras e colocá-las em disponibilidade para a reforma agrária. Esse pessoal, acredito, não está mais na agricultura”, finaliza.