Os Resultados favoráveis obtidos em diversas experiências reunindo o Piemontês e gado zebu ou azebuado (sobretudo o Nelore), levou um criador, apostando na performance de animais nascidos desse tipo de cruzamento, partir para a obtenção de animais que, num futuro próximo, poderão representar o surgimento de uma nova raça sintética: o Piemonel,que traz 5/8 Piemontêds e 3/8 Nelore. Na Fazenda Morumbi, em Alto da Boa Vista (MT), as grandes vedetes são os mestiços 5/8 Piemontês e 3/8 Nelore, uma experiência que colocou à prova a qualidade deste cruzamento, elevando em 20% a 25% o rendimento dos animais comuns. ” Enquanto numa demanda de Nelore, com sete meses, o peso médio ficava em 180 kg, o 5/8 Piemontês, nas mesmas condições de trato, atingiu 205 kg em média”, afirma o proprietário da Fazenda Morumbi, Enrico Misasi, responsável por este trabalho.
Com seis mil matrizes comerciais em reprodução, espalhadas numa área de 10 mil ha, Misasi garante produção de aproximadamente 4.800 bezerros / ano. Isso traduz um índice de prenhezes da ordem de 80%, considerado bastante significativo diante das condições da pecuária do Mato Grosso. Para a cobertura de todas essas fêmeas, Misasi utiliza cerca de 100 touros, sendo 70 Nelore PO e 30 5/8 Piemontês. Ele mantém uma fazenda, a ” Pé do Morro”, em Araçariguama (SP), para produção exclusiva dos futuros reprodutores 5/8 Piemontês, respeitando um rigoroso processo de seleção. Escolhidos os animais, inicia – se a pesagem todo dia 25 e, a cada dois meses, o acompanhamento das medidas da canela e circunferência escrotal. Na época das chuvas, de Novembro a Maio, o gado fica em sistema rotativo em piquetes com braquiarão e coast cross e, no período da seca, alimenta – se com ração à base de cana, polpa cítrica, soja e sal. ” O objetivo é avançar na produção do Piemonel, deixando num futuro próximo somente os touros 5/8 no cruzamento industrial”, avisa Misasi.
Pioneiro nesse trabalho, o pecuarista optou pela cruza do Nelore com o Piemontês em função de uma viagem que fez à Itália. Lá, soube que os ancestrais de Piemontês eram indianos Nelore, o que despertou seu interesse em conseguir mestiços a partir de raças com características semelhantes. ” Com um pouco de faro comercial, juntei as evidências que qualquer trabalho um pouco mais atento também detectaria. Não sou descobridor de nenhum fórmula mágica, pois esse tipo de cruzamento já existia com outro tipo de gado. No entanto, confesso que tive mais sorte do que imaginava.” Tudo começou em 1984, quando Misasi adquiriu três mil matrizes Nelore PO do plantel da Volkswagen, o que, ao contrário de muitos trabalhos de cruzamento que só consideram a origem dos machos, de seus produtos foram considerados. Separou 500, as que pariram e desmamaram cinco bezerros seguidos até 1989, todas com registro, e passou a inseminar, utilizando sêmen de Piemontês trazido da Itália.
Dos produtos meio – sangue, aproveitou as fêmeas, inseminando -as com material Piemontês, alcançando o 3/4 sangue. Separou os 20 melhores touros, colocando – os para cobrir vacas Nelore PO. ” Consegui o 3/8 Piemontês e 5/8 Nelore, o inverso do que desejava. O próximo passo foi inseminar as fêmeas 3/8 com sêmen Piemontês e chegar ao 5/8 Piemontês e 3/8 Nelore.” Até agora, toda produção do Piemontês foi utilizada exclusivamente em suas terras. Para este ano, Misasi revela que colocará à venda 10 touros, tirados de sua Fazenda Pé do Morro. E avisa: ” Serão todos cabeceiras, pois preciso difundir meu trabalho e valorizar a imagem de minha propriedade.”
Futuro promissor
As chances de transformar futuramente o Piemonel numa nova raça sintética cresceram com a recente determinação da Associação Brasileira de Bovinos da Raça Piemontesa que, a partir de agora. Começará a controlar com maior rigor os cruzamentos e, em seguida, permitir o registro de animais 5/8 Piemontês, esclarece o superintendente da associação João Amaury de Toledo Soares Sobrinho.
Estudo avalia adaptação do Piemontês às condições tropicais
Semelhança com o Nelore – pelo claro, pele escura – foi o kmotivo que colocou o Piemontês nos experimentos do Mestrando em Ambiência Animal, do Departamento de Física e Meteorologia da Escola Superior de Agricultura ” Luiz de Queiroz” (Esalq/USP), Marcius Gracco Marconi Gonçalves. No estudo, ainda em andamento, o pós – gradundo vem analisa analisando a adaptação dos dias das 7h00 às 19h00. ” Optei por sistema a campo, tendo em vista que mais de 95% dos cruzamentos no Brasil ainda são de monta.” São 12 piquetes numa área de 14 ha da Fazenda Caiçara no qual o lote de 30 machos – 10 Nelore puro, 10 meio-sangue Nelore/ Piemontês e 10 Piemontês puro – fica três dias em cada com um corredor até a área de descanso, com sombra, água e sal, o que possibilita analisar o gado mais resistentes às condições da região e que melhor acompanha a vacada. A observação, que iniciou em 09 de Janeiro, se estenderá os dados e os resultados finais serão complicados os dados e os resultados finais serão divulgados. Vale ressaltar que o estudo leva em consideração não somente as quantidades de calor, mas a umidade relativa do ar, vento e radiação solar. É da conciliação desses fatores que Gonçalves vai tirar as conclusões para seu estudo. ” Faremos, também, a análise bromatológica do pasto e andrológica dos animais. Estamos preocupados em saber qual a importância da sombra para o Nelore, tendo em vista que altas temperaturas pode prejudicar a qualidade de sêmen” – para o desenvolvimento desse trabalho, ele conta com a orientação do Prof. Dr. Nilson Augusto Villanova (Esalq/USP) e colaboração dos profs. Dr. Josivaldo Prudêncio de Moraes (UFSCar/Araras), Arthur Matto (USP/São Carlos) e do estudante de Engenharia Agronômica da Esalq/USP, Marcos Paulo da Silva.