Pecuária

Produtividade na pecuária de corte: o desafio atual

No Brasil a pecuária de corte passou por duas grandes e importantes revoluções: a introdução do gado zebu, principalmente o Nelore, fez com que o rebanho nacional pudesse conquistar todo território nacional cuja realidade geo-climática é tipicamente tropical, e a introdução das Bracharias complementou toda esta ocupação, resolvendo os problemas de pastagem nas imensas regiões de cerrado. É chegado agora o momento de equacionarmos de forma real e definitiva o aumento verdadeiro da produtividade e a valorização real de toda a cadeia produtiva de carne. O nosso próximo desafio esta em encontrarmos soluções viáveis para redução dos altos custos de produção, totalizarmos a otimização do alto de produzir e fornecermos de forma homogênea um produto de alta qualidade com garantias de origem para os nossos cliente, tanto frigoríficos como consumidores. Qualquer plano de trabalho visando o aumento de produtividade deve estar obrigatoriamente alicerçado em uma boa estratégia de produção e manejo alimentar, rígido sistema de controle e prevenção sanitário e um programa abrangente e criterioso voltado à eficiência reprodutiva do rebanho.

A seleção para a melhoria da eficiência na produção de carne dentro da raça Nelore vem ocorrendo nos últimos anos, apresentando bons resultados, no entanto, este é um processo lento que demanda muitas gerações.

Neste aspecto é que o cruzamento entre indivíduos zebuinos e taurinos passa a se tornar uma alternativa eficiente e de resultados imediatos verificados na próxima geração. No entanto é preciso observar que sem bom manejo alimentar, sanitário e reprodutivo o resultado do cruzamento praticamente desaparece. E um outro aspecto de fundamental importância para o sucesso de um Plano de Melhoramento genético utilizando o cruzamento é a escolha certa da raça turina á ser utilizada. A partir de realidade bioclimática, condições de criação e características do mercado pecuário existente no Brasil, a raça taurina ideal para o cruzamento com Nelore deve ter uma alta precocidade produtiva e também reprodutiva, alta longevidade e ainda ser a dotada de altíssimos rendimentos de carcaça e desossa. E além destas características zootécnicas produtivas esta raça ideal deve ser dotada de grande capacidade de adaptação as condições impostas pelo meio ambiente tropical. Ao descrevermos as características gerais desta raça ideal para utilização em cruzamento com Nelore nos trópicos, nos aproximamos muito da descrição que podemos, fazer da raça Blonde D´Aquitaine.

Potencial de produção de carne

É uma raça dotada de um altíssimo desenvolvimento de massa muscular, possui o corpo longo e sempre muito arredondado produzindo carcaças pesadas e de excelentes cortes comerciais. A principal característica da Blonde D´Aquitaine, que a diferencia de praticamente todas as raças existentes no mundo, e que toda essa enorme massa muscular é sustentada por uma estrutura óssea forte porém fina o que proporciona o altíssimo rendimento de carcaça ao abate, em animais jovens este rendimento pode chegar a 60 – 65% fazendo com que o produtor consiga um ótimo retorno financeiro na produção de carne. A região de origem desta grande raça apresenta solos pobres, uma alimentação relativamente deficiente com características climáticas de altas temperaturas no iverno, fazendo com que a raça apresente uma ampla zona de conforto término. Um exemplo deste fato é que podemos encontrar animais Blonde vivendo a menos 30 graus no Canadá e também a mais 30 graus no Brasil. Os animais são dotados de uma pele fina, com bastante mobilidade, com boa pigmentação de melanina, boa quantidade de glândulas sudoríparas e seu pelo é curto e fino e de coloração clara. Seus casacos são resistentes, e de maneira geral possui ampla caixa toráxica e boa capacidade digestiva. Estes são alguns dos atributos que fornecem a raça grande rusticidade e facilitam a sua adaptação e aclimatização as regiões tropicais sendo talvez dentre as raças taurinas a que apresenta a maior rusticidade para o meio tropical.

Precocidade: a definição correta

Hoje o Brasil conta com um rebanho de 150 milhões de bovinos, do qual, o desfrute é apenas 18% anualmente. O maior impecilio que o pecuarista encontra para aumentar o lucro da atividade, e o tempo que leva para produzir uma carcaça terminada, ou o tempo que a fêmea leva para entrar em produção. Os maiores fatores que inibem este desfrute são o ambiente e o potencial genético dos animais. Assim podemos dizer que em geral o nosso ambiente e a nossa genética são pouco eficientes, quando comparados alguns países cujas taxas chegam a atingir 40%. A avicultura aumentou sua lucratividade com essa busca de eficiência, abatendo hoje frangos com 1,6 Kg. Como há 15 anos atrás, sendo esses frangos abatidos com 45 dias e não mais com 100 dias. Dessa forma a pecuária aumentará sua lucratividade engordando animais de 470 kg em 22 meses. São 5,5 ciclos de boi gordo em 10 anos em não apenas 2,8 ciclos. Este tempo de recria e engorda só gera custos pois fatura – se só no final de cada ciclo. Com a seleção deste biótipo de animais para engorda, logicamente as fêmeas terão a mesma precocidade, entrando no ciclo produtivo de cria cada vez mais cedo, acumulando gorduras como reservas com mais rapidez, deixando – as em melhores condições para as próximas crias. O criador deve pensar que o crescimento de seus animais não é simplesmente o aumento de peso que ser medido de tempos em tempos no rebanho, pois é um fenômeno mais complexo que envolve dois tipos de evolução: o aumento de peso, que é devido a idade, é uma evolução quantitativa; e o desenvolvimento, que é a realização progressiva do estado adulto por modificações da forma, de proporções da composição química e do funcionamento do corpo, é uma evolução qualitativa. Para ilustrar, um bezerro de 40kg que se torna um touro de 800kg, sofre modificações que não podem ser devidas a um simples aumento de peso. É um conjunto de modificações que fazem que a fotografia de um touro não seja uma simples ampliação da de um bezerro! É importante o criador ter em mente que o potencial de crescimento de um animal é máximo no inicio da vida até a puberdade, o que torna em muitos casos mais econômico alimentar bem os animais enquanto jovens. Outro conceitos relevante é quanto ao desenvolvimento dos tecidos, cuja sequência de evolução pode ser resumida: nervoso, osseo, muscular, adiposo. Sendo importante observar que as diferentes raças e mesmo animais da mesma raça tem comportamento diferente no desenvolvimento dos tecidos, e é exatamente estas diferenças que irão determinar o grau de precocidade sexual, ” terminação de carcaça” idade peso de abate, quantidade de gordura entremeada e outras características.

Temos que evitar confundir precocidade com rapidez de ganho de peso: um animal pode ter um grande velocidade de ganho de peso e não ser precoce. Precocidade esta ligada ao desenvolvimento, que é a realização mais ou mesmos rápida do estado adulto. Um animal precoce é aquele que tem uma rapidez de ganho de peso elevado, aliado a um desenvolvimento ativo dos diferentes tipos de tecidos, principalmente o adiposo. Em um animal precoce o tecido muscular esta em pleno crescimento bem antes que e tecido ósseo termine o seu, e o tecido adiposo não espera a diminuição do crescimento muscular para se depositar. Portanto todo criador não pode confundir que um animal que ganha muito peso, e portanto tem um alto ” desenvolvimento ponderal”, nem sempre é um animal precoce pois precocidade significa rapidez no desenvolvimento dos tecidos e muitas vezes não esta correlacionada com maior ganho de peso. O Brasil tem hoje cerca de 60 milhões de vacas em idade reprodutiva. Se considerarmos que apenas 3 a 4%, ou seja, cerca de 2 milhões, são inseminadas artificialmente, temos no pais um universo de cerca de 58 milhões de vacas para serem fecundadas por monta natural. Se considerarmos que um touro é capaz de servir cerca de 30 vacas por cada estação de monta estaremos falando da necessidade de 1,9 milhão de touro é e em média de 5 asnos, teoricamente são necessários cerca de 350 mil touros por ano. A analise destes números nos faz refletir o enorme potencial de mercado que o criador produtor de touros tem para trabalhar e atingir. Como vimos na definição de precocidade, existem grandes diferenças quanto ao comportamento na velocidade de crescimento dos tecidos entre raça, e mesmo dentro da mesma raça encontramos essas diferenças. Aos animais precoces na terminação, ou seja, cuja velocidade de crescimento e desenvolvimento dos tecidos é acelerada, podemos chamart de animais de ” ciclo curto” e aos animais de menos precocidade de terminação podemos chamar de animais de ” ciclo longo”. Os animais de ciclo curto são mais adequados para criação e terminação a pasto, já os animais de ciclo longo tem seu melhor desempenho quando em confinamento. Dada a diversidade dos ramos que formaram a raça Blonde D´Aquitaine nós encontramos facilmente nos rebanhos animais de ciclo curto e também animais de ciclo longo. Como toda a pecuária de corte brasileira no futuro ainda deverá se basear na exploração a pasto, para que possa encontrar um mínimo de viabilidade econômica, o criador de Blonde deve se preocupar com máxima urgência na seleção e preservação somente dos animais dotados de alta precocidade, ou também definidos como animais de ” ciclo curto”. Pois ao proceder desta forma estará garantindo a raça animais dotados da capacidade e funcionalidade necessárias para a conquista de todo universo de mercado disponível que se apresenta atualmente. As condições de criação no Brasil em sua grande maioria sugerem um biótipo para o Blonde D´Aquitaine com alta precocidade de desenvolvimento, baixa e exigência alimentar e grande funcionalidade para adaptação à vida em meio tropical.

Estas exigências nos sugerem animais com as seguintes descrições: cabeça curta, focinho largo e profundo, membros afastados e com bons aprumos, cernelha larga e plana, espáduas largas e bem fixadas no corpo, linha do tronco retilínea, costela longas e bem arqueadas, ventre não distendido, cauda bem fixada, coxa espessa, arredondada e descendente, porte médio, estrutura óssea forte porém leve, boa conformação de úbere, e em média uma estrutura mediana, animais mais longos do que altos, com boa proporcionalidade entre desenvolvimento esquelético e muscular. Conceito moderno da aplicação da verdadeira precocidade na seleção das diversas raças é uma tendência mundial nos principais países produtores de carne de todo o mundo, e está sendo aplicada indiscriminadamente a todas as raças de corte existentes. A raça Blonde D ´Aquitaine tem na sua formação um importante ramo de formação denominado Blonde des Pyrenées, que proporcionou a raça a produção de animais de altíssima precocidade de terminação, extraordinária características de criação como fertilidade e produção de leite, e foi exatamente este importante ramo de formação que conferiu a raça essa sua invejável rusticidade e capacidade de adaptação. O grande desafio do criador de Blonde D´Aquitaine brasileiro hoje é decidir se ele quer copiar o modelo animal preconizado para a Europa, cuja realidade de criação é o confinamento, e para tanto os animais desejados são os animais de ” ciclo longo”, com pesos adultos extremos, grande ossatura, pouca capacidade toráxica e digestiva, membros longos e alta estatura; ou se a seleção brasileira não deveria estar preocupada antes de tudo com funcionalidade para os animais produzirem a pasto, neste caso os animais de ” ciclo curto” são mais adequados, não impressionam tanto pelo seu tamanho ou peso adulto, mas sim por sua eficiência!

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